Continuamos a recordar palavras do Papa que ajudam a enquadrar
os objetivos da reflexão proposta pelo evento “A Economia de Francisco” de
março 2020. Desta vez, fazemos memória de duas homilias na Capela da Casa de
Santa Marta no ano 2016.
Rui Saraiva – Porto
“A Economia de Francisco”
será um grande evento em agenda para os dias 26, 27 e 28 de março de 2020.
Trata-se de um encontro que se inspira no Santo de Assis e que, segundo o Papa,
deverá procurar novas propostas de organização económica.
Para ajudar à reflexão
sobre esta importante temática recordamos aqui as palavras do Papa Francisco
pronunciadas em 2016 em duas homilias na Capela da Casa de Santa Marta.
Dinheiro
e poder sujam a Igreja
Na terça-feira dia 17 de
maio de 2016, na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que o dinheiro
e o poder sujam a Igreja. O Santo Padre disse que o caminho que Jesus indica é
o serviço, mas com frequência na Igreja buscam-se poder, dinheiro e vaidade.
Partindo da passagem do
Evangelho de S. Marcos, proposta pela liturgia do dia na qual os discípulos se
perguntavam entre si quem era o maior entre eles, o Papa afirmou que estas
tentações mundanas comprometem também hoje o testemunho da Igreja:
“No caminho que Jesus nos
indica, o serviço é a regra. O maior é aquele que serve mais, quem está mais ao
serviço dos outros, e não aquele que se vangloria, que busca o poder, o
dinheiro...a vaidade, o orgulho… Não, esses não são os maiores. E o que
aconteceu aqui com os apóstolos, inclusive com a mãe de João e Tiago, é uma
história que acontece todos os dias na Igreja, em cada comunidade. ‘Mas entre
nós, quem é o maior? Quem comanda?’ As ambições… Em cada comunidade – nas
paróquias ou nas instituições – sempre existe esta vontade de galgar, de ter
poder.”
Na sua homilia o Papa
Francisco sublinhou que a vontade mundana de estar com o poder acontece nas
paróquias, nos colégios e também nos episcopados, uma atitude que não é a
atitude de Jesus que veio para servir e ensina o serviço e a humildade. Mas
todos somos tentados pelas atitudes de poder e de vaidade – afirmou o Papa que
pediu ao Senhor para que nos ilumine para entendermos que o espírito mundano é
inimigo de Deus:
“Todos nós somos tentados
por estas coisas, somos tentados a destruir o outro para subir mais. É uma
tentação mundana, mas que divide e destrói a Igreja, não é o Espírito de Jesus.
É belo, imaginemos a cena: Jesus que diz estas palavras e os discípulos que
dizem ‘não, é melhor não perguntar muito, vamos em frente’, e os discípulos que
preferem discutir entre si qual deles será o maior. Vai-nos fazer bem pensar
nas muitas vezes que nós vimos isto na Igreja e nas muitas vezes que nós
fizemos isto, e pedir ao Senhor que nos ilumine, para entender que o amor pelo
mundo, ou seja, por este espírito mundano, é inimigo de Deus”.
Explorar
trabalhadores para enriquecer é pecado mortal
Na quinta-feira, dia 19
de maio de 2016, na sua homilia na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco
afirmou que explorar os trabalhadores para enriquecer é ser como sanguessugas e
isso é um pecado mortal.
O Santo Padre comentou a
primeira leitura da liturgia do dia, extraída da carta de S. Tiago, e afirmou
que “não se pode servir Deus e as riquezas”. Estas, as riquezas – continuou
Francisco – são boas em si mesmas, mas erram aqueles que seguem a “teologia da
prosperidade”.
O Papa recordou o que diz
S. Tiago: “Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram
os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos
do Senhor do universo!”
Francisco recordou a
precaridade dos vínculos laborais e, em particular, citou o que lhe disse uma
jovem que encontrou um emprego de 11 horas diárias por 650 euros na
informalidade. E disseram-lhe que se queria podia ficar com o trabalho senão há
mais quem queira: “há uma fila atrás de si”.
A exploração das pessoas
hoje é uma verdadeira escravidão – denunciou o Papa: “Viver do sangue das
pessoas. Isto é pecado mortal. É pecado mortal.”
O Papa Francisco propôs
uma reflexão sobre a exploração das pessoas no mundo do trabalho que chega
mesmo à escravidão:
“Pensemos neste drama de
hoje: a exploração das pessoas, o sangue das pessoas que se tornam escravas, os
traficantes de seres humanos e não somente aqueles que traficam prostitutas e
crianças para o trabalho infantil, mas aquele tráfico mais ‘civilizado’: Eu
pago-te mas sem direito a férias e assistência médica, tudo clandestino. Porém,
eu torno-me rico!
O Santo Padre no final da
sua homilia pediu ao Senhor que “nos faça entender aquela simplicidade que
Jesus nos diz no Evangelho de hoje: É mais importante um copo de água em nome
de Cristo que todas as riquezas acumuladas com a exploração das pessoas”.
Para
refletir sobre a economia mundial
Recordamos aqui as
palavras do Papa Francisco em maio de 2016 proferidas em homilias da Eucaristia
diária na Capela na Casa de Santa Marta no Vaticano. Estas palavras ajudam-nos
a enquadrar o rumo definido para o encontro de Assis que em março de 2020 terá
como tema “A Economia de Francisco” e juntará empresários, universitários,
estudantes e especialistas.
“A Economia de Francisco”
será um grande evento especialmente dirigido para refletir sobre o futuro
próximo da economia mundial numa perspetiva humana e inclusiva. Já no próximo
dia 24 de setembro terá lugar em Florença uma primeira reunião preparatória do
encontro de Assis.
Laudetur Iesus Christus
(vaticannews)
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