Missa do Papa em Santa Marta
O cristão, segundo a metáfora evangélica de Mateus (5, 13-14), é chamado a ser sal da terra. Mas se não transmitir o sabor que o Senhor lhe doou, transforma-se num «sal insípido» e torna-se «um cristão de museu». Foi este o tema abordado pelo Papa Francisco na missa celebrada na manhã de quinta-feira 23 de Maio, na capela da Domus Sanctae Marthae.
O Evangelho do dia (Marcos 9, 41-50) inspirou ao Santo Padre uma reflexão sobre a peculiaridade que caracteriza os cristãos: ou seja, ser para o mundo o que o sal é para a dona de casa e para quem tem bom gosto e aprecia o sabor das coisas. «O sal é bom» iniciou o Pontífice. Uma coisa boa «que o Senhor criou», mas «se o sal se tornar insípido – perguntou-se – com que dareis sabor?».
Fala-se sobre o sal da fé, da esperança e da caridade. «O Senhor dá-nos este sal», esclareceu o Santo Padre que, depois, levantou o problema de como fazer para que «não se torne insípido». «Como se deve fazer, para que o sal não perca a sua força?». Entretanto, o sabor do sal cristão - explicou – nasce da certeza da fé, da esperança e da caridade que surge da consciência de que «Jesus ressuscitou para nós» e nos salvou. Mas esta certeza não nos foi dada simplesmente para a conservar. Se assim fosse, ela acabaria como o sal conservado num pequeno recipiente: «não importa, não serve». Ao contrário, o sal – explicou o Papa – tem sentido quando é usado para dar sabor. Penso que o sal conservado no recipiente, com a humidade perde força. E não serve. O sal que nós recebemos é para doar; serve para dar sabor, para ser oferecido»; caso contrário «torna-se insípido e não serve».
Mas o sal tem também outra peculiaridade. Quando «se usa bem – especificou o Papa Francisco – não se sente o gosto de sal». Assim «o sabor do sal» não altera o sabor dos alimentos; aliás, «sente-se o sabor de cada refeição», que se torna mais boa e mais saborosa. «Esta é a originalidade cristã: quando nós anunciamos a fé com este sal», quem o recebe «recebe-o na sua peculiaridade, como as refeições».
Todavia, especificou o bispo de Roma, «a originalidade cristã não é uma uniformidade. Aceita cada pessoa como é, com a sua personalidade, com as suas características e a sua cultura», sem pretender mudá-la «porque é uma riqueza; mas dá-lhe algo mais, dá-lhe sabor». Se, ao contrário, se tendesse à uniformidade, «seria como se todos fossem salgados da mesma maneira». Aconteceria a mesma coisa se nos comportássemos «como a mulher quando coloca demasiado sal»: sentir-se-ia só o gosto do sal e «não o gosto da comida temperada com sal».
A originalidade cristã é precisamente isso: cada um permanece o que é, com os dons que o Senhor lhe ofereceu. «Cada um é diferente dos outros»; por conseguinte, o sal cristão é o que «faz ver precisamente as qualidades de cada um. Este é o sal que devemos oferecer» e não conservar. Ou pelo menos não o conservar até que ele se estrague.
E «para que o sal não se deteriore» existem dois métodos a ser seguidos, «que devem caminhar juntos». O Papa explicou-os deste modo: «Em primeiro lugar, oferecê-lo em função das refeições, ao serviço do próximo, das pessoas. Trata-se do sal da fé, da esperança e da caridade: oferecê-lo, oferecê-lo, oferecê-lo!».
Outro método implica a transcendência, ou seja, a propensão «para o autor do sal, o criador, aquele que criou o sal. O sal não se conserva só oferecendo-o na pregação. Necessita também da outra transcendência, da oração e da adoração. E assim o sal conserva-se, não perde o seu sabor. Com a adoração ao Senhor, eu transcendo de mim mesmo para o Senhor; e com o anúncio evangélico saio fora de mim mesmo para anunciar a mensagem».
Sem seguir este caminho, «para oferecer o sal – concluiu o Pontífice – ele permanecerá no pequeno recipiente, e nós tornar-nos-emos cristãos de museu» que só podem mostrar o sal. Mas, tratar-se-á de um «sal sem sabor, um sal que não serve».
(Jornal "ObservatórioRomano")
24 de Maio de 2013
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