Missa em Santa Marta
No bilhete de
identidade de cada cristão há o nome que Deus escolheu com a mesma ternura de
uma mãe e de um pai que «sonham a própria criança». E há também três
características irrenunciáveis: «bendito porque escolhido, porque perdoado e
porque a caminho». Eis os sinais de identificação do cristão indicados pelo
Papa na missa celebrada na manhã de quinta-feira, 13 de outubro, na capela da
Casa Santa Marta.
«Na oração da
coleta – Francisco realçou imediatamente – pedimos ao Senhor que a sua graça
«nos preceda e nos acompanhe», para que não nos cansemos de ir pelo caminho
cristão». Portanto, explicou, «precisamos da graça para não nos cansarmos»,
porque «nós, sozinhos, não o podemos fazer».
Trata-se então de
compreender bem, afirmou o Papa, qual é «este caminho, esta identidade cristã».
Nisto pode-nos ajudar o próprio apóstolo Paulo que, no início da carta aos
Efésios (1, 1-10) proclamada na liturgia «explica qual é a identidade cristã, e
antes de tudo diz: “Fomos abençoados”. O cristão é um abençoado: abençoado pelo
Pai, por Deus».
Paulo propõe três
traços característicos desta bênção. O primeiro é: «o cristão é uma pessoa
escolhida; nós somos escolhidos; Deus escolheu-nos um por um, não como uma
multidão oceânica, como uma massa de gente». Ao contrário, Deus «deu-nos um
nome, conhece-nos pelo nome um por um». Eis que cada um pode dizer: «Eu sou
abençoado, porque sou conhecido pelo Pai, fui escolhido pelo Pai, fui esperado
pelo Pai».
A fim de fazer
compreender esta verdade, o Papa recorreu à imagem de «um casal, quando espera
um bebé». Os dois pais questionam-se: «Como será? Como será o seu sorriso? Como
falará». E do mesmo modo, afirmou, «ouso dizer também nós, cada um de nós, foi
sonhado pelo Pai como um pai e uma mãe sonham o filho que esperam». E «isto
dá-te uma grande segurança. O pai quis-te, especificamente a ti, a cada um de
nós». Esta consciência «é o fundamento, é a base da nossa relação com Deus: nós
falamos a um Pai que nos ama, que nos escolheu, que nos deu um nome».
«O cristão foi
escolhido, foi sonhado por Deus, afirmou Francisco o qual fez referência à
necessidade de se sentir parte de uma comunidade, um pouco como o torcedor que
escolhe e pertence a uma equipa de futebol. Quando pensamos que fomos
escolhidos e sonhados por Deus, explicou o Papa, «sentimos no coração uma
grande consolação: não somos abandonadas, não estamos pela estrada da vida
“desenrascando como podermos”, temos um nome sonhado por Deus». A primeira
característica da bênção é que «somos escolhidos».
Na carta aos
Efésios, Paulo Escreve: «Deus concedeu-nos a sua gloriosa graça no Filho amado.
Nele temos, pelo
seu sangue, a remissão dos pecados, o perdão das culpas conforme a riqueza da
sua graça». Um trecho que nos revela a segunda caraterística: «o cristão é uma
pessoa “perdoada”». Com efeito, um homem ou uma mulher que não se sentem
perdoados não são plenamente cristãos, assemelham-se «àquele homem que estava
diante do altar e dizia “agradeço-te Senhor, porque não preciso de perdão, eu
não cometo pecados como todos os outros!”». Mas «um só – recordou o Pontífice –
não foi perdoado, porque era tanta a soberba que não deu lugar ao perdão: o
diabo». Ao contrário, todos «fomos perdoados com o preço do sangue de Cristo».
É importante,
sugeriu Francisco, fazer também um pouco de exercício de memória para recordar
bem «o que me foi perdoado», tendo em conta «as coisas más que fiz, não as que
fez o teu amigo, o teu vizinho, a tua vizinha: as tuas!». Tudo isso com a
certeza de que o Senhor «perdoou estas coisas» que fizemos na vida. Eis, disse
o Papa, «eu sou abençoado, sou cristão»: e «isto é, primeira caraterística, sou
escolhido, sonhado por Deus, com um nome que Deus me deu, amado por Deus». E, «segunda
caraterística», fui «perdoado por Deus».
Na carta aos
Efésios, Paulo escreve: «O Pai fez-nos conhecer o mistério da sua bondade,
segundo a benevolência que nele se propusera para o governo da plenitude dos
tempos: reconduzir a Cristo, único chefe, todas as coisas». Por conseguinte,
afirmou Francisco, «o cristão é um homem e uma mulher a caminho rumo à
plenitude, rumo ao encontro com o Cristo que nos redimiu».
A ponto que «não
se pode compreender um cristão parado». Com efeito, «o cristão deve ir sempre
em frente, deve caminhar». Ao contrário «o cristão parado é aquele homem que
tinha recebido o talento e devido ao medo da vida, ao medo de o perder, ao medo
do dono, por medo ou comodidade, enterrou-o, e deixou-o ali, ficando tranquilo
e levando a vida sem ir» em frente. Eis por que «o cristão é um homem a
caminho, uma mulher a caminho, que faz sempre o bem, que procura fazer o bem,
ir em frente».
Esta
é «a identidade cristã: abençoados, porque escolhidos, porque perdoados e
porque a caminho», concluiu o Pontífice, sublinhando que «é bom viver assim:
não somos anónimos, não somos soberbos, a ponto de não precisar do perdão, não
somos parados». O auspício do Papa é que «o Senhor nos conserve esta graça, que
o Senhor nos acompanhe com esta graça da bênção que nos deu, ou seja, a bênção
da nossa identidade».
(osservatoreromano)
Sem comentários:
Enviar um comentário