O Papa Francisco renovou o convite para a confissão, para assim
descobrirmos que a misericórdia de Deus é bem maior do que as nossa misérias.
Como Tomé, "peçamos hoje a graça de reconhecer o nosso Deus: de encontrar
no seu perdão a nossa alegria, na sua misericórdia a nossa esperança".
Cidade do Vaticano
“Quando nos confessamos,
tem lugar o inaudito: descobrimos que precisamente aquele pecado, que nos
mantinha distantes do Senhor, converte-se no lugar do encontro com Ele”. E “em
cada perdão recebemos novo alento, somos encorajados, pois nos sentimos cada
vez mais amados.”
Dirigindo-se aos fiéis
presentes na Praça São Pedro no Domingo da Divina Misericórdia – festa
instituída por São João Paulo II – o Papa Francisco recordou do perdão,
afirmando que diante das passagens que parecem bloqueadas da vergonha, da
resignação e do nosso pecado, justamente ali “Deus faz maravilhas”, pois Ele
adora entrar através das portas fechadas”, pois para Ele, “nada é
intransponível”.
Os discípulos
reconheceram Jesus pelas suas chagas. Inspirando-se no Evangelho do dia que
descreve a incredulidade de Tomé que diz que acreditaria somente se pusesse “o
dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado”, o Papa iniciou
dizendo que “temos de agradecer a Tomé, pois a ele não bastou ouvir dizer dos
outros que Jesus estava vivo, e nem sequer com poder vê-Lo em carne e osso, mas
quis ver dentro, tocar com a mão nas suas chagas, os sinais do seu amor”.
Vemos
Jesus pelas suas chagas
Tomé, o «Dídimo», “é
verdadeiramente nosso irmão gêmeo. Pois também a nós não basta saber que Deus
existe”:
“Um Deus ressuscitado,
mas longínquo, não nos preenche a nossa vida; não nos atrai um Deus distante,
por mais que seja justo e santo. Não. Nós também precisamos “ver a Deus”, de
“tocar com a mão” que Ele tenha ressuscitado por nós”.
E podemos vê-Lo, “por
meio das suas chagas”:
“Entrar nas suas
chagas significa contemplar o amor sem medidas que brota do seu coração.
Significa entender que o seu coração bate por mim, por ti, por cada um de nós.
Queridos irmãos e irmãs, podemos nos considerar e chamar-nos cristãos, e falar
sobre muitos belos valores da fé, mas, como os discípulos, precisamos ver Jesus
tocando o seu amor. Só assim podemos ir ao coração da fé e, como os discípulos,
encontrar uma paz e uma alegria mais fortes que qualquer dúvida”.
O Papa a seguir, chamou a
atenção para o pronome usado por Tomé ao exclamar «Meu Senhor e meu Deus!»:
“Trata-se de um
pronome possessivo e, se refletimos sobre isso, podia parecer fora do lugar
referi-lo a Deus: como Deus pode ser meu? Como posso fazer que o Todo-poderoso
seja meu? Na realidade, dizendo meu, não profanamos a Deus, mas honramos a sua
misericórdia, pois foi Ele que quis “fazer-se nosso””.
Deus – ressaltou o
Pontífice – “não se ofende de ser “nosso”, pois o amor exige familiaridade, a
misericórdia requer confiança”, e como Ele mesmo se apresenta no primeiros dos
Dez Mandamentos e também a Tomé:
“Entrando hoje, através
das chagas, no mistério de Deus, entendemos que a misericórdia não é mais uma
de suas qualidades entre outras, mas o palpitar do seu coração. E então, como
Tomé, não vivemos mais como discípulos vacilantes; devotos, mas hesitantes; nós
também nos tornamos verdadeiros enamorados do Senhor!”
Deixar-se
perdoar
Mas, “como saborear este
amor, como tocar hoje com a mão a misericórdia de Jesus?” Logo depois de
ressuscitar – explica o Papa – Jesus “dá o Espírito para perdoar os pecados”:
“Para experimentar o
amor, é preciso passar por ali: deixar-se perdoar. Mas ir confessar-se parece
difícil. Diante de Deus, somos tentados a fazer como os discípulos no
Evangelho: trancarmo-nos por detrás de portas fechadas. Eles faziam isso por
temor e nós também temos medo, vergonha de abrir-nos e contar os nossos
pecados. Que o Senhor nos dê a graça de compreender a vergonha: de vê-la não
como uma porta fechada, mas como o primeiro passo do encontro.
Da
vergonha ao perdão
Sentir-se envergonhados,
reitera Francisco, é um motivos para sermos agradecidos, pois “quer dizer que
não aceitamos o mal, e isso é bom”:
“A vergonha é um convite
secreto da alma que precisa do Senhor para vencer o mal. O drama está quando
não se sente vergonha por coisa alguma. Não devemos ter medo de sentir
vergonha! E passemos da vergonha ao perdão!”
Resignação
Mas diante deste perdão
do Senhor, há uma porta fechada: a resignação, experimentada pelos discípulos
quando “na Páscoa, constatavam que tudo tivesse voltado a ser como antes:
ainda estavam lá, em Jerusalém, desalentados; o “capítulo Jesus” parecia terminado
e, depois de tanto tempo com Ele, nada tinha mudado”.
O mesmo pode ocorrer
conosco. Mesmo sendo cristãos há muito tempo, parece que nada muda, “cometo
sempre os mesmos pecados”, e desalentados, “renunciamos à misericórdia”:
“Entretanto, o Senhor nos
interpela: “Não acreditas que a misericórdia é maior do que a tua miséria?
Estás reincidente no pecado? Sê reincidente em clamar por misericórdia, e
veremos quem leva a melhor!”. E depois – quem conhece o sacramento do perdão o
sabe – não é verdade que tudo permaneça como antes”.
“Em cada perdão –
recordou o Papa - recebemos novo alento, somos encorajados, pois nos
sentimos cada vez mais amados:
“E quando, sentindo-nos
amados, caímos mais uma vez, sentimos mais dor do que antes. É uma dor
benéfica, que lentamente nos separa do pecado. Descobrimos então que a força da
vida é receber o perdão de Deus, e seguir em frente, de perdão em perdão”.
O nosso
pecado
Mas há uma outra porta
fechada, muitas vezes “blindada”: o nosso pecado.
“Quando cometo um grande
pecado, se eu, com toda a honestidade, não quero me perdoar, por que o faria
Deus?”, pergunta o Papa, que explica:
“Esta porta, no
entanto, está fechada só de um lado: o nosso; para Deus nunca é intransponível.
Ele, como nos ensina o Evangelho, adora entrar justamente através “das portas
fechadas”, quando todas as passagens parecem bloqueadas. Lá Deus faz
maravilhas”.
Lugar
do encontro
“Ele nunca decide
separar-se de nós, somos nós que o deixamos do lado de fora”:
“Mas quando nos
confessamos, tem lugar o inaudito: descobrimos que precisamente aquele pecado,
que nos mantinha distantes do Senhor, converte-se no lugar do encontro com Ele.
Ali o Deus ferido de amor vem ao encontro das nossas feridas. E torna as nossas
chagas miseráveis semelhantes às suas chagas gloriosas. Pois Ele é misericórdia
e faz maravilhas nas nossas misérias. Como Tomé, peçamos hoje a graça de
reconhecer o nosso Deus: de encontrar no seu perdão a nossa alegria; na sua
misericórdia a nossa esperança”.
(vaticannews)
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