quarta-feira, 31 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 31 03 2021

(Texto)Catequese. O Tríduo Pascal



PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 31 de março de 2021

 

Catequese. O Tríduo Pascal

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Já imersos na atmosfera espiritual da Semana Santa, estamos na vigília do Tríduo pascal. A partir de amanhã até domingo viveremos os dias centrais do Ano litúrgico, celebrando o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. E vivemos este mistério cada vez que celebramos a Eucaristia. Quando vamos à Missa, não vamos apenas rezar, não: vamos renovar, repetir este mistério, o mistério pascal. É importante não esquecer isto. É como se fôssemos rumo ao Calvário - é a mesma coisa - para renovar, para repetir o mistério pascal.

Na noite de Quinta-Feira Santa, inaugurando o Tríduo pascal, reviveremos a Missa que se chama in Coena Domini, isto é, a Missa em que se celebra a Última Ceia, o que aconteceu ali, naquele momento. Foi a noite em que Cristo entregou aos seus discípulos o testamento do seu amor na Eucaristia, não como lembrança, mas como memorial, como a sua presença perene. Cada vez que se celebra a Eucaristia, como eu disse no início, renova-se este mistério da redenção. Neste Sacramento, Jesus substituiu a vítima sacrifical – o cordeiro pascal – consigo mesmo: o seu Corpo e o seu Sangue concedem-nos a salvação da escravidão do pecado e da morte. A salvação de qualquer escravidão está nisto. É a noite em que Ele nos pede para nos amarmos, tornando-nos servos uns dos outros, como Ele fez ao lavar os pés dos discípulos. É um gesto que antecipa a oblação cruenta na cruz. Na verdade, o Mestre e Senhor morrerá no dia seguinte para purificar não os pés, mas os corações e a vida inteira dos seus discípulos. Foi uma oblação de serviço a todos nós, porque com aquele serviço do seu sacrifício Ele redimiu-nos todos nós.

A Sexta-Feira Santa é um dia de penitência, jejum e oração. Através dos textos da Sagrada Escritura e das orações litúrgicas, estaremos como que reunidos no Calvário para celebrar a Paixão e a Morte redentora de Jesus Cristo. Na intensidade do rito da Ação litúrgica ser-nos-á apresentado o Crucifixo para o adorar. Ao adorarmos a Cruz, reviveremos o caminho do Cordeiro inocente, imolado pela nossa salvação. Teremos na mente e no coração o sofrimento dos doentes, dos pobres, dos descartados deste mundo; recordaremos os “cordeiros imolados”, vítimas inocentes de guerras, ditaduras, violências diárias, abortos... Levaremos diante da imagem de Deus crucificado, em oração, os numerosos, demasiados crucificados de hoje, que só d'Ele podem receber o alívio e o significado do seu sofrimento. E hoje há muitos deles: não vos esqueçais dos crucificados de hoje, que são a imagem de Jesus Crucificado, e neles está Jesus.

Desde que Jesus tomou sobre si as chagas da humanidade e da própria morte, o amor de Deus irrigou estes nossos desertos, iluminou estas nossas trevas. Pois o mundo está na escuridão. Façamos uma lista de todas as guerras travadas neste momento; de todas as crianças que morrem de fome; das crianças que não têm educação; de povos inteiros destruídos pelas guerras, pelo terrorismo. Das numerosas, muitas pessoas que, para se sentir um pouco melhor, precisam da droga, da indústria da droga que mata... É uma calamidade, um deserto! Existem pequenas “ilhas” do povo de Deus, cristão ou de qualquer outra fé, que conservam no coração o desejo de ser melhores. Mas sejamos francos: neste Calvário da morte, é Jesus que sofre nos seus discípulos. Durante o seu ministério, o Filho de Deus deu vida a mãos-cheias, curando, perdoando, ressuscitando... Agora, na hora do supremo Sacrifício na Cruz, leva a cumprimento a obra que lhe foi confiada pelo Pai: entra no abismo do sofrimento, entra nas calamidades deste mundo, para redimir e transformar. E também para libertar cada um de nós do poder das trevas, da soberba, da resistência a ser amados por Deus. E só o amor de Deus pode fazer isto. O apóstolo Pedro disse: pelas suas chagas fomos curados (cf. 1 Pd 2, 24), pela sua morte fomos todos regenerados. Graças a Ele, abandonado na cruz, ninguém jamais está sozinho na escuridão da morte. Nunca! Ele está sempre ao nosso lado: só é preciso abrir o coração e deixar-se olhar por Ele.

O Sábado Santo é o dia do silêncio: um grande silêncio paira sobre toda a Terra; um silêncio vivido no pranto e na perplexidade pelos primeiros discípulos, perturbados com a morte ignominiosa de Jesus. Enquanto o Verbo está em silêncio, enquanto a Vida está no sepulcro, aqueles que têm esperança n'Ele são postos à prova, sentem-se órfãos, talvez até órfãos de Deus. Este sábado é inclusive o dia de Maria: também Ela o vive no pranto, mas o seu coração está cheio de fé, repleto de esperança, cheio de amor. A Mãe de Jesus seguiu o Filho pelo caminho doloroso e permaneceu ao pé da cruz, com a sua alma trespassada. Mas quando tudo parece ter acabado, Ela vela, vigia na expectativa, preservando a esperança na promessa de Deus que ressuscita os mortos. Assim, na hora mais obscura do mundo, Ela tornou-se Mãe dos crentes, Mãe da Igreja e sinal de esperança. O seu testemunho e a sua intercessão amparam-nos quando o peso da cruz se torna demasiado árduo para cada um de nós.

Nas trevas do Sábado Santo, irromperão a alegria e a luz com os ritos da Vigília pascal e, no final da tarde, o canto jubiloso do Aleluia. Será um encontro de fé com Cristo ressuscitado, e a alegria pascal continuará ao longo dos cinquenta dias que se seguirão, até à vinda do Espírito Santo. Aquele que foi crucificado ressuscitou! Todas as interrogações e incertezas, hesitações e receios foram dissipados por esta revelação. O Ressuscitado dá-nos a certeza de que o bem triunfa sempre sobre o mal, que a vida vence sempre a morte e que o nosso fim não é descer cada vez mais, de tristeza em tristeza, mas subir às alturas. O Ressuscitado é a confirmação de que Jesus tem razão em tudo: em prometer-nos vida para além da morte e perdão para além dos pecados. Os discípulos duvidaram, não acreditaram. A primeira que acreditou e viu foi Maria Madalena, a apóstola da ressurreição, que foi dizer-lhes que tinha visto Jesus, que a tinha chamado pelo nome. E depois, todos os discípulos viram-no. Mas gostaria de comentar isto: os guardas, os soldados, que estavam no sepulcro para impedir que os discípulos fossem e levassem o corpo, viram-no: viram-no vivo e ressuscitado. Os inimigos viram-no, e depois fingiram que não o tinham visto. Porquê? Porque foram pagos. Eis o verdadeiro mistério daquilo que Jesus disse um dia: “Há dois senhores no mundo, dois, não há outros: dois. Deus e o dinheiro. Quem serve o dinheiro está contra Deus”. E aqui foi o dinheiro que mudou a realidade. Tinham visto a maravilha da ressurreição, mas foram pagos para se calar. Pensemos nas numerosas vezes que homens e mulheres cristãos foram pagos para não reconhecer na prática a ressurreição de Cristo, e não fizeram o que Cristo nos pediu que fizéssemos, como cristãos.

Prezados irmãos e irmãs, também este ano viveremos as celebrações da Páscoa no contexto da pandemia. Em tantas situações de sofrimento, especialmente quando quem as padece são pessoas, famílias e populações já provadas pela pobreza, calamidades ou conflitos, a Cruz de Cristo é como um farol que indica o porto para os navios ainda ao largo num mar em tempestade. A Cruz de Cristo é o sinal de esperança que não desilude; e diz-nos que nem uma lágrima, nem sequer um gemido se perdem no desígnio de salvação de Deus. Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça de o servir e reconhecer e de não nos deixarmos pagar para o esquecer.

 

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Saudações:

Caros irmãos e irmãs de língua portuguesa: celebrando os mistérios centrais da nossa fé, vos exorto uma vez mais a não permitir nunca que vos roubem a esperança e a alegria trazidas por Cristo com a sua vitória sobre a morte. A todos desejo uma santa e proveitosa celebração do tríduo da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor!

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Resumo da catequese do Santo Padre:

De amanhã até Domingo viveremos os dias centrais do Ano Litúrgico, celebrando o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Na tarde da Quinta-feira Santa reviveremos os acontecimentos da Última Ceia, quando Cristo deixou-nos o testamento do Seu amor na Eucaristia, não como uma recordação, mas como memorial, como Sua presença perene. A Sexta-feira Santa é dia de penitência, jejum e oração. Na intensidade da ação litúrgica deste dia nos será apresentado o Crucifixo e, diante da Sua imagem, rezaremos pelos muitos crucificados de hoje, que somente de Jesus podem receber o conforto e o sentido do seu próprio sofrimento. Graças a Ele, abandonado na cruz, ninguém mais está sozinho na escuridão da morte. O Sábado Santo é dia de silêncio, vivido no pranto e na desolação dos primeiros discípulos, abalados pela morte ignominiosa de Jesus. Também Maria vive o pranto deste dia, mas o seu coração é pleno de fé, de esperança e de amor. Deste modo, na hora mais escura do mundo, Ela torna-se Mãe dos que creem, Mãe da Igreja e sinal de esperança. Em meio às trevas da noite do Sábado Santo irromperão a luz e a alegria com os ritos da Vigília Pascal e o canto festivo do Aleluia. Aquele que foi crucificado ressuscitou! Todas as perguntas e incertezas, as hesitações e temores são dissipados por esta revelação. O Ressuscitado nos dá a certeza de que o bem sempre triunfa sobre o mal, a vida sempre vence a morte. Ao vivermos as celebrações pascais ainda no contexto da pandemia, a Cruz de Cristo é sinal da esperança que não decepciona.

 


Audiência Geral 31 de março de 2021 Papa Francisco

terça-feira, 30 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 30 03 2021

Judas, Pedro ou João | (Jo 13, 21-33.36-38) #347 - Meditação da Palavra

Semana Santa



 Pandemia obriga a atitude de responsabilidade, sem perder memória das tradições 

– padre Joaquim Ganhão 

Mar 29, 2021 - 16:37


Especialista em Liturgia convida a «reinvenção» das manifestações exteriores, no ambiente familiar


Lisboa, 29 mar 2021 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado Diocesano da Liturgia de Santarém disse à Agência ECCLESIA que a pandemia apela à “responsabilidade” dos católicos, na celebração da Páscoa, sem que se deixem de “valorizar e manter” as tradições associadas à festa maior do Cristianismo.


“No ambiente português, as tradições em torno da Páscoa são felizmente muitas e são de valorizar e manter, mas este tempo apela para a responsabilidade de modo a podermos contribuir, como cristãos, para o bem de todos nesta situação de pandemia”, refere o padre Joaquim Ganhão, numa entrevista emitida hoje no programa Ecclesia, na RTP 2.


Em 2021, as celebrações da Semana Santa, iniciada este domingo, decorrem sem “manifestações pelas ruas” e as circunstâncias da pandemia têm obrigado a “repensar muitas coisas, mas o foco está na Páscoa”, disse o sacerdote.


Face à crise provocada pela Covid-19, os cristãos têm sido aconselhados a conter “os ímpetos de exteriorização” e isso ajuda a uma “maior concentração” no essencial da celebração pascal, segundo o especialista.


A Páscoa “não deixa de ser a Páscoa” por causa das limitações impostas pela pandemia, frisou o padre Joaquim Ganhão.


No lugar das procissões e manifestações pascais, o pároco da Sé de Santarém aconselha a “reinvenção de momentos” familiares, nas próprias casas, uma forma de enriquecer a quadra pascal.


A entrevista passa em revista os momentos centrais do calendário católico, o Tríduo Pascal, antecedido pela Missa Crismal, na manhã de Quinta-feira Santa, quando cada bispo celebra com o clero diocesano, no “último momento de preparação da Páscoa”.


Nesta celebração, toda a Liturgia “acentua o sacerdócio, tanto ministerial como comum”.

“Neste dia, os padres fazem a renovação das promessas sacerdotais” e “são benzidos os óleos”, explica o especialista em Liturgia.

Apesar de ser possível a presença física de fiéis, “não se pode ter as igrejas cheias” e nestas circunstâncias as transmissões online têm “sido um grande serviço”, sublinhou o entrevistado.


Na tarde de Quinta-feira Santa, a celebração está centrada na instituição da Eucaristia, com a Missa da Ceia do Senhor, “o grande pórtico do Tríduo Pascal”.

A pandemia impede a realização do gesto “muito significativo” do lava-pés, que evoca o “exemplo de humildade de Cristo”.


O silêncio e a adoração da Cruz são as marcas da Sexta-Feira Santa, dia em que a Igreja Católica recorda a morte de Jesus Cristo e os “sinais falam mais do que as palavras”.

“Atraídos pela Cruz de Cristo contemplamos a radicalidade do amor de Deus por todos nós”, salienta o padre Joaquim Ganhão.


Depois da morte e sepultura de Jesus, a Igreja “entra no grande silêncio” no Sábado Santo.

“É um silêncio sacramental e sinal eloquente da nossa história”, acrescenta o diretor do Secretariado Diocesano da Liturgia de Santarém.


Deste silêncio “irrompe a festa da Vigília Pascal”, na qual a comunidade católica “revive toda a história da criação do mundo” e “acende a luz do mundo novo”.


“É a noite do nascimento dos filhos da Igreja”, conclui o entrevistado.


PR/LFS/OC

(ecleesia)


Homilia Diária | Terça-feira da Semana Santa – Comunhão mal feita: um be...

segunda-feira, 29 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 29 03 2021

Frei Cantalamessa: Jesus Cristo não é uma ideia, mas uma pessoa


"Há alguns que negam que seja uma pessoa “divina”, preferindo dizer que é uma pessoa “humana” na qual Deus habita, ou opera, de modo único e excelso. Mas a própria unidade da pessoa de Cristo, repito, não é contestada por ninguém", frisou o pregador da Casa Pontifícia.

Vatican News

"Jesus de Nazaré: uma pessoa" foi o tema da quarta e última pregação da Quaresma proferida pelo pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, ao Papa e aos membros da Cúria Romana, na manhã desta sexta-feira (26/03), na Sala Paulo VI.


"Propomos em aprofundar nesta última meditação que Jesus de Nazaré está vivo! Não é uma memória do passado; não é apenas um personagem, mas uma pessoa. Vive “segundo o Espírito”, certo, mas este é um modo de viver mais forte do que aquele “segundo a carne”, porque lhe permite viver dentro de nós, não fora, ou ao lado", disse o frei capuchinho.

A fórmula “uma pessoa” aplicada a Cristo remete-se a Tertuliano, mas foram necessários dois séculos de reflexão para entender o que ela significava de fato e como podia se conciliar com a afirmação de que Jesus era verdadeiro homem e verdadeiro Deus, isto é “de duas naturezas”.

"O dogma da única pessoa de Cristo é uma “estrutura aberta”, ou seja, capaz de falar-nos hoje, de responder às novas necessidades da fé, que não são as mesmas do quinto século. Hoje, ninguém nega que Cristo seja “uma pessoa”. Há alguns que negam que seja uma pessoa “divina”, preferindo dizer que é uma pessoa “humana” na qual Deus habita, ou opera, de modo único e excelso. Mas a própria unidade da pessoa de Cristo, repito, não é contestada por ninguém", frisou o pregador da Casa Pontifícia.

"A coisa mais importante hoje, a respeito do dogma de Cristo “uma pessoa”, não é tanto o adjetivo “uma”, mas o substantivo “pessoa”. Não tanto o fato de que seja “um e idêntico em si mesmo” (unus et idem), mas que seja “pessoa”. Isto significa descobrir e proclamar que Jesus Cristo não é uma ideia, um problema histórico, e nem mesmo apenas um personagem, mas uma pessoa e uma pessoa viva! Isto, de fato, é o que falta e do que temos extrema necessidade, para não deixar que o cristianismo se reduza a ideologia, ou simplesmente a teologia", disse ainda Cantalamessa.


"Refletindo sobre o conceito de pessoa no âmbito da Trindade, Santo Agostinho e, depois dele, Santo Tomás de Aquino, chegaram à conclusão de que “pessoa”, em Deus, significa relação. O Pai é tal pela sua relação com Filho: todo o seu ser consiste nesta relação, como o Filho é tal pela sua relação com o Pai." A seguir, acrescentou:

Isto vale de modo eminente para as pessoas divinas da Trindade, que são “puras relações”, ou, como se diz em teologia, “relações subsistentes”; mas vale também para cada pessoa no âmbito criado. Não se conhece a pessoa na sua realidade, a não ser entrando em “relação” com ela. Eis porque não se pode conhecer Jesus como pessoa, a não ser entrando em uma relação pessoal, do eu ao tu, com ele. “O ato do crente não termina num juízo, mas numa realidade”, disse Santo Tomás de Aquino. Nós não podemos nos contentar em crer na fórmula “uma pessoa”; devemos alcançar a própria pessoa e, mediante a fé e a oração, “tocá-la”.

"Devemos nos pôr seriamente uma pergunta: para mim, Jesus é uma pessoa, ou somente um personagem?", disse o frei Cantalamessa, explicando que "há uma grande diferença entre as duas coisas. O personagem – tipo Júlio César, Leonardo da Vinci, Napoleão – é alguém de quem se pode falar e escrever o quanto queira, mas com o qual é impossível falar. Infelizmente, para a grande maioria dos cristãos, Jesus é um personagem, não uma pessoa. É o objeto de um conjunto de dogmas, doutrinas ou heresias; alguém de quem celebramos a memória na liturgia, que cremos realmente presente na Eucaristia, tudo o que se quiser. Mas, se permanecermos no plano da fé objetiva, sem desenvolver uma relação existencial com ele, ele permanece externo a nós, toca-nos a mente, mas não aquece o coração. Permanece, apesar de tudo, no passado; entre nós e ele se interpõem, inconscientemente, vinte séculos de distância". No fundo de tudo isso, compreende-se o sentido e a importância daquele convite que o Papa Francisco pôs no início da sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium:

“Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito” (EG, 3).

O frei capuchinho concluiu, recordando que "daqui a uma semana será Sexta-feira Santa e, logo depois, Domingo da Ressurreição. Ressurgindo, Jesus não voltou à vida de antes como Lázaro, mas a uma vida melhor, livre de todo afã. Esperemos que seja assim também para nós. Que do sepulcro em que a pandemia nos manteve encerrados por um ano, o mundo – como nos repete continuamente o Santo Padre – saia melhor, não o mesmo de antes".


Traduzido do italiano por Pe. Ricardo Faria, ofmcap


(vaticannews)


Francisco: os sacerdotes devem ter um olhar de ternura, reconciliação e fraternidade


O Papa ressaltou à comunidade do Pontifício Colégio Mexicano de Roma que os problemas atuais exigem dos sacerdotes a necessidade de se configurarem ao Senhor e ao olhar de amor com que Ele nos contempla. "Ao conformar o nosso olhar com o seu, o nosso se transforma em olhar de ternura, reconciliação e fraternidade", disse Francisco.

Mariangela Jaguraba - Vatican News


O Papa Francisco recebeu em audiência nesta segunda-feira (29/03), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Comunidade do Pontifício Colégio Mexicano.


O Pontífice iniciou o seu discurso, recordando o seu encontro com o povo mexicano durante sua viagem apostólica ao México, em 2016, "que de certa forma se renova a cada ano com a celebração da Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe aqui na Basílica Vaticana", disse ele.

A seguir, Francisco ressaltou que os problemas atuais exigem dos sacerdotes a necessidade de se configurarem ao Senhor e ao olhar de amor com que Ele nos contempla. "Ao conformar o nosso olhar com o seu, o nosso se transforma em olhar de ternura, reconciliação e fraternidade", disse o Papa, destacando esses três pontos.


Autêntica compaixão


O primeiro, "a necessidade de ter um olhar de ternura com que nosso Deus Pai vê os problemas que afligem a sociedade: violência, desigualdades sociais e econômicas, polarização, corrupção e falta de esperança, especialmente entre os jovens". "A configuração cada vez mais profunda com o Bom Pastor desperta em cada sacerdote uma autêntica compaixão, tanto pelas ovelhas a ele confiadas quanto por aquelas que se extraviaram. Somente deixando-nos moldar por Ele se intensifica a nossa caridade pastoral, onde ninguém é excluído de nossa solicitude e oração", sublinhou Francisco.


Comprometer-se com o restabelecimento da justiça


Em segundo lugar, o Papa destacou que "é preciso ter um olhar de reconciliação".

As dificuldades sociais que estamos atravessando, as enormes diferenças e a corrupção exigem de nós um olhar que nos torne capazes de tecer juntos os vários fios que se fragilizaram ou foram cortados na tilma multicolorida de culturas que compõem o tecido social e religioso da nação, prestando atenção, sobretudo, àqueles que foram descartados por causa de suas raízes indígenas ou de sua particular religiosidade popular. Nós pastores somos chamados a ajudar a reconstruir relações respeitosas e construtivas entre pessoas, grupos humanos e culturas dentro da sociedade, propondo a todos "deixar-se reconciliar por Deus" e comprometer-se com o restabelecimento da justiça.


Um olhar que facilite a comunhão


Por fim, "o nosso tempo atual nos impele a ter uma visão de fraternidade. Os desafios que enfrentamos são de tal magnitude que abrangem o tecido social e a realidade globalizada interconectada pelas redes sociais e os meios de comunicação. Por isso, junto com Cristo, Servo e Pastor, devemos ser capazes de ter uma visão de conjunto e unidade, que nos impulsiona a criar fraternidade, que nos permite evidenciar os pontos de conexão e interação no coração das culturas e na comunidade eclesial".

Um olhar que facilite a comunhão e a participação fraterna, que anime e oriente os fiéis a respeitarem a nossa Casa comum e serem construtores de um mundo novo, em colaboração com todos os homens e mulheres de boa vontade. Para ser assim, precisamos da luz da fé e da sabedoria de quem sabe “tirar as sandálias” para contemplar o mistério de Deus e, desse ponto de vista, ler os sinais dos tempos.


Não subestimar as tentações mundanas


Segundo o Papa, "é fundamental harmonizar na formação permanente as dimensões acadêmica, espiritual, humana e pastoral. Ao mesmo tempo, precisamos nos conscientizar de nossas deficiências pessoais e comunitárias, bem como das negligências e faltas que temos que corrigir em nossa vida. Somos chamados a não subestimar as tentações mundanas que podem levar a um conhecimento pessoal insuficiente, a atitudes autorreferenciais, ao consumismo e às várias formas de evasão de nossas responsabilidades".

O Papa concluiu, pedindo a Nossa Senhora de Guadalupe e a São José para que cuidem de todo o Clero do México e da comunidade do Pontifício Colégio Mexicano.


(vaticannews)


Homilia Diária | Segunda-feira da Semana Santa – Vergonha da Confissão?

domingo, 28 de março de 2021

Domingo de Ramos (2021) | A Paixão de Cristo segundo São Pedro (Homilia ...

(Texto) CELEBRAÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR


HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica de São Pedro

Domingo, 28 de março de 2021


Todos os anos, esta liturgia cria em nós uma atitude de espanto, de surpresa: passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará ao longo da Semana Santa. Abramo-nos, pois, a esta surpresa.

Jesus começa logo por nos surpreender. O seu povo acolhe-O solenemente, mas Ele entra em Jerusalém num jumentinho. Pela Páscoa, o seu povo espera o poderoso libertador, mas Jesus vem cumprir a Páscoa com o seu sacrifício. O seu povo espera celebrar a vitória sobre os romanos com a espada, mas Jesus vem celebrar a vitória de Deus com a cruz. Que aconteceu àquele povo que, em poucos dias, passou dos «hossanas» a Jesus ao grito «crucifica-O»? Que sucedeu? Aquelas pessoas seguiam uma imagem de Messias, e não o Messias. Admiravam Jesus, mas não estavam prontas para se deixar surpreender por Ele. A surpresa é diferente da admiração. A admiração pode ser mundana, porque busca os próprios gostos e anseios; a surpresa, ao contrário, permanece aberta ao outro, à sua novidade. Também hoje há muitos que admiram Jesus: falou bem, amou e perdoou, o seu exemplo mudou a história, e coisas do género. Admiram-No, mas a vida deles não muda. Porque não basta admirar Jesus; é preciso segui-Lo no seu caminho, deixar-se interpelar por Ele: passar da admiração à surpresa.

E qual é o aspeto do Senhor e da sua Páscoa que mais nos surpreende? O facto de Ele chegar à glória pelo caminho da humilhação. Triunfa acolhendo a dor e a morte, que nós, súcubos à admiração e ao sucesso, evitaríamos. Ao contrário, Jesus «despojou-Se – disse São Paulo –, humilhou-Se» (Flp 2, 7.8). Isto surpreende: ver o Omnipotente reduzido a nada; vê-Lo, a Ele Palavra que sabe tudo, ensinar-nos em silêncio na cátedra da cruz; ver o Rei dos reis que, por trono, tem um patíbulo; ver o Deus do universo despojado de tudo; vê-Lo coroado de espinhos em vez de glória; vê-Lo, a Ele bondade em pessoa, ser insultado e vexado. Porquê toda esta humilhação? Por que permitistes, Senhor, que Vos fizessem tudo aquilo?

Fê-lo por nós, para tocar até ao fundo a nossa realidade humana, para atravessar toda a nossa existência, todo o nosso mal; para Se aproximar de nós e não nos deixar sozinhos no sofrimento e na morte; para nos recuperar, para nos salvar. Jesus sobe à cruz para descer ao nosso sofrimento. Prova os nossos piores estados de ânimo: o falimento, a rejeição geral, a traição do amigo e até o abandono de Deus. Experimenta na sua carne as nossas contradições mais dilacerantes e, assim, as redime e transforma. O seu amor aproxima-se das nossas fragilidades, chega até onde mais nos envergonhamos. Agora sabemos que não estamos sozinhos! Deus está connosco em cada ferida, em cada susto: nenhum mal, nenhum pecado tem a última palavra. Deus vence, mas a palma da vitória passa pelo madeiro da cruz. Por isso, os ramos e a cruz estão juntos.

Peçamos a graça do assombro. A vida cristã, sem surpresa, torna-se cinzenta. Como se pode testemunhar a alegria de ter encontrado Jesus, se não nos deixamos surpreender cada dia pelo seu amor espantoso, que nos perdoa e faz recomeçar? Se a fé perde o assombro, torna-se surda: já não sente a maravilha da graça, deixa de sentir o gosto do Pão da vida e da Palavra, fica sem perceber a beleza dos irmãos e o dom da criação. E não lhe resta outra saída senão refugiar-se nos legalismos, clericalismos e tudo o mais que Jesus condena no capítulo 23 de Mateus.

Nesta Semana Santa, ergamos o olhar para a cruz a fim de recebermos a graça do assombro. São Francisco de Assis, ao contemplar o Crucificado, maravilhava-se com os seus frades por não chorarem. E nós, conseguimos ainda deixar-nos comover pelo amor de Deus? Porque é que já não sabemos surpreender-nos à vista d’Ele? Porquê? Talvez porque a nossa fé foi corroída pelo hábito; talvez porque ficamos fechados nas lamúrias e deixamo-nos paralisar pelos dissabores; talvez porque perdemos a confiança em tudo, chegando ao ponto de nos consideramos mal feitos. Mas, por trás destes «talvez», encontra-se o facto de não estarmos abertos ao dom do Espírito, que é Aquele que nos dá a graça do assombro.

Recomecemos do espanto; olhemos o Crucificado e digamos-Lhe: «Senhor, quanto me amais! Como sou precioso a vossos olhos!» Deixemo-nos surpreender por Jesus para voltar a viver, porque a grandeza da vida não está na riqueza nem no sucesso, mas na descoberta de que somos amados. Esta é a grandeza da vida: descobrir que somos amados. A grandeza da vida está precisamente na beleza do amor. No Crucificado, vemos Deus humilhado, o Omnipotente reduzido a um descartado. E, com a graça do assombro, compreendemos que, acolhendo quem é descartado, aproximando-nos de quem é humilhado pela vida, amamos Jesus, porque Ele está nos últimos, nos rejeitados, naqueles que a nossa cultura farisaica condena.

O Evangelho de hoje, imediatamente depois da morte de Jesus, mostra-nos o ícone mais belo da surpresa. É a cena do centurião, que, «ao vê-Lo expirar daquela maneira, disse: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!”» (Mc 15, 39). Deixou-se surpreender pelo amor. De que maneira vira Jesus morrer? Viu-O morrer amando, e isto maravilhou-o. Sofria, estava exausto, mas continuava a amar. Eis aqui a surpresa diante de Deus, que sabe encher de amor o próprio morrer. Neste amor gratuito e inaudito, o centurião, um pagão, encontra Deus. Verdadeiramente era Filho de Deus! A sua frase chancela a Paixão. Muitos antes dele no Evangelho, admirando Jesus pelos seus milagres e prodígios, reconheceram-No como Filho de Deus, mas o próprio Cristo mandava-os calar, porque havia o risco de se deterem na admiração mundana, na ideia dum Deus que Se devia adorar e temer enquanto poderoso e terrível. Agora já não há tal risco; ao pé da cruz, já não é possível equivocar-se: Deus revelou-Se e reina só com a força desarmada e desarmante do amor.

Irmãos e irmãs hoje, Deus ainda surpreende a nossa mente e o nosso coração. Deixemos que nos impregne este assombro, olhemos para o Crucificado e digamos também nós: «Vós sois verdadeiramente Filho de Deus. Vós sois o meu Deus».

 


Celebração do Domingo de Ramos-Oração do Angelus 28 de março de 2021 Pap...

Hora Nona do Domingo de Ramos da Paixão do Senhor (Oração das Quinze Horas)

sexta-feira, 26 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 26 03 2021

Palavra de Vida – março 2021


“Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, 

ensinai-me as vossas veredas” (Sl 25 [24], 4)


Este salmo apresenta-nos um homem que se sente cercado por perigos e ameaças. Ele precisa de encontrar o caminho certo, que o leve finalmente para fora de perigo. Mas quem o poderá ajudar?

Consciente da sua fragilidade, finalmente levanta o olhar e clama pelo Senhor, pelo Deus de Israel, que nunca abandonou o Seu povo, mas sempre o guiou no longo caminho da travessia do deserto até à Terra Prometida.

A experiência dessa caminhada faz renascer no viandante a esperança. É uma ocasião privilegiada para uma nova intimidade com Deus, para nos podermos abandonar confiadamente no Seu amor fiel, apesar da nossa infidelidade.

Na linguagem bíblica, caminhar com Deus é também uma lição de vida, é aprender a reconhecer o Seu desígnio de salvação.

“Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas”

Muitas vezes, depois de termos percorrido os caminhos da nossa suposta autossuficiência, encontramo-nos desorientados, confusos, mais conscientes dos nossos limites e das nossas faltas. Gostaríamos de encontrar de novo a bússola da vida e, com ela, o percurso até à meta.

Este Salmo ajuda-nos muito. Impele-nos a fazer uma experiência nova ou renovada de encontro pessoal com Deus, de confiança na Sua amizade.

Dá-nos coragem para sermos dóceis aos Seus ensinamentos, que nos convidam constantemente a sair de nós mesmos para O seguir pelo caminho do amor, caminho que Ele próprio percorreu, antes de nós, para vir ao nosso encontro.

Este Salmo pode ser uma oração, para nos acompanhar ao longo do dia e fazer de cada momento, alegre ou doloroso, uma etapa do nosso caminho.

“Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas“

Na Suíça, a Hedy, casada e mãe de quatro filhos, já há muito tempo que procura viver a Palavra. Agora está gravemente doente. Sabe que está quase a atingir a meta do seu caminho aqui na Terra.

A sua grande amiga, Kati, conta-nos: «Sempre que alguém a visita, e até com o pessoal de saúde, a Hedy está sempre atenta aos outros, interessa-se por cada um, mesmo se para ela, agora, se tornou muito difícil falar. Agradece a presença de todos e conta a sua experiência. Ela é apenas Amor, um sim vivo à vontade de Deus! Atrai muitas pessoas: amigos, parentes, sacerdotes. Todos ficam profundamente tocados pela sua atenção para com todas as visitas e pela sua força, fruto da fé no amor de Deus».


Chiara Lubich comparou a vida a uma “santa viagem” (1): «[…] A “santa viagem” é o símbolo do nosso itinerário para chegar até Deus. […] Por que não fazer da única vida que temos uma viagem, uma santa viagem, uma vez que Aquele que nos espera é Santo? […] Mesmo quem não professa um credo religioso pode fazer da sua vida uma obra-prima, empreendendo com retidão um caminho de sincero empenho moral. […] Se a vida é uma “santa viagem”, seguindo o projeto da vontade de Deus, a nossa caminhada requer um progresso contínuo, dia após dia. […] O que acontece quando paramos? […] Devemos abandonar o percurso, desencorajados com os nossos erros? Não, nesses momentos a palavra de ordem é “recomeçar” […] colocando toda a nossa confiança na graça de Deus, mais do que nas nossas capacidades. […] Mas, sobretudo, caminhemos juntos, unidos no amor, ajudando-nos uns aos outros. O Santo estará no meio de nós e tornar-se-á, Ele mesmo, o nosso “Caminho”. Ele nos fará compreender com maior clareza a vontade de Deus e nos dará o desejo e a capacidade de a pôr em prática. Estando unidos, tudo será mais fácil e receberemos a bem-aventurança que foi prometida aos que decidem fazer a “santa viagem”» (2).


Letizia Magri



1) Cf. Sal 84(83),6: “Felizes os que em Ti encontram a sua força, os que trazem no coração os caminhos da santa viagem”. 2) C. Lubich, Palavra de Vida de dezembro de 2006, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 797-799.

Centenário do nascimento de Chiara Lubich


(focolares)


 


As celebrações de Francisco na Semana Santa


A Sala de Imprensa vaticana divulgou os compromissos do Papa desde o Domingo de Ramos até a segunda-feira após a Páscoa, no âmbito das restrições da Covid. A missa in Coena Domini (Missa do Lava-pés) será presidida pelo cardeal Re, enquanto a Via Sacra, no átrio da Basílica de São Pedro, terá meditações realizadas por escoteiros da Úmbria e por uma paróquia romana, e desenhos de crianças de duas casas família romanas.

Alessandro De Carolis – Vatican News


Doze meses depois, as liturgias centrais do ano ainda devem fazer as contas com uma pandemia que atinge todas as partes do mundo, e até mesmo o coração do catolicismo. Também a Semana Santa de Francisco terá tempos e ritmos modelados nas exigências que a Covid impõe, antes de tudo a ausência dos milhares de fiéis que normalmente se fazem presentes nos compromissos desde o Domingo de Ramos até a Páscoa.


Missa do Crisma e Quinta-feira Santa


Ao comunicar os detalhes dos eventos papais a Sala de Imprensa vaticana especificou que cada um deles será realizado com uma presença "limitada" de fiéis no "respeito das medidas sanitárias previstas". A série de compromissos anunciados tem início com a Missa do Domingo de Ramos, marcada para às 10h30 (5h30 – hora de Brasília) no Altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro. A Missa do Crisma na quinta-feira, 1º de abril, às 10 horas (5h da manhã no Brasil), também será no altar da Cátedra, presidida pelo Papa, cuja presença, ao invés, não está prevista para às 18 horas (13h Brasília) para a celebração in Coena Domini, (Missa do Lava-pés) que neste caso será presidida pelo cardeal decano do Colégio cardinalício, Giovanni Battista Re.


A Via Sacra no átrio da Basílica


Os outros dois compromissos de Francisco para a Sexta-feira Santa estão programados para às 18h (13h no Brasil) com a celebração da Paixão na Basílica de São Pedro e três horas depois, às 21h00 (16h no Brasil), a Via Sacra, em mundo-visão, mais uma vez privada do cenário do Coliseu, mas montada sobre o átrio da Basílica vaticana. Este ano, informou em um comunicado o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni, a preparação das meditações foi confiada ao Grupo Escoteiro Agesci "Foligno I" (da Úmbria) e à paróquia romana dos Santos Mártires de Uganda. Especiais serão as imagens que acompanharão as diversas Estações: os desenhos foram feitos por crianças e jovens da Casa Família "Mater Divini Amoris" e da Casa Família "Tetto Casal Fattoria", ambas de Roma: a primeira dirigida pelas Filhas de Nossa Senhora do Divino Amor, a segunda fundada por uma associação de voluntários.


Às 19h30 (14h30) do Sábado Santo, 3 de abril, o Papa retorna ao Altar da Cátedra para a Mãe de todas as vigílias; depois, no Domingo às 10h (5h no Brasil), na Basílica vaticana, será celebrada a Missa da Páscoa. Na conclusão da Santa Missa, a tradicional Mensagem e Bênção Urbi et Orbi. No dia seguinte, Lunedì dell’Angelus, (Segunda-feira do Angelus - 7h Brasília), a primeira recitação do Regina Coeli na Biblioteca do Palácio Apostólico.


(vaticannews)


Ao Senhor invoquei na minha angústia | (Sl 17(18), 2-3a.3bc-4.5-6.7) #34...

quinta-feira, 25 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 25 03 2021

Hora Sexta da Solenidade da Anunciação do Senhor (Oração das Doze Horas)

Francisco: Maria estava e está presente durante os dias da pandemia

Benedictus gregoriano

AnimaTV: Direto do Santuário de Fátima

Homilia Diária | Solenidade da Anunciação do Senhor

CARTA APOSTÓLICA CANDOR LUCIS AETERNAE


DO SANTO PADRE

FRANCISCO

NO VII CENTENÁRIO DA MORTE

DE DANTE ALIGHIERI

 

Esplendor da Luz Eterna, o Verbo de Deus tomou um corpo da Virgem Maria quando, ao anúncio do Anjo, Ela respondeu: «Eis a serva do Senhor» (Lc 1, 38). O dia em que a Liturgia celebra este mistério inefável é particularmente significativo também na vida histórica e literária do insigne poeta Dante Alighieri, profeta de esperança e testemunha da sede de infinito presente no coração do homem. Por isso, nesta ocorrência, desejo unir-me também eu ao coro numeroso de quantos querem honrar a sua memória no VII centenário da sua morte.

Em Florença, de facto, o ano tinha início, segundo o cômputo ab Incarnatione, em 25 de março. Próxima do equinócio da primavera e vista na perspetiva pascal, tal data aparecia associada quer com a criação do mundo quer com a redenção realizada por Cristo na cruz, início da nova criação. À luz do Verbo encarnado, convida a contemplar o desígnio de amor que é o próprio coração e a fonte inspiradora da obra mais célebre do Poeta, a Divina Comédia. No último canto desta, o acontecimento da Encarnação é lembrado por São Bernardo com estes versos famosos: «No ventre teu reacendeu-se amor / e em paz eterna fez que germinasse / a seu calor assim tão bela flor» (Par. XXXIII, 7-9)[*].

Mas, já no Purgatório, Dante representara a cena da Anunciação esculpida num penhasco rochoso (X, 34-37.40-45).

Por isso, nesta circunstância, não pode faltar a voz da Igreja que se associa à comemoração unânime do homem e do poeta Dante Alighieri. Melhor do que muitos outros, soube exprimir, com a beleza da poesia, a profundidade do mistério de Deus e do amor. O seu poema, expressão sublime do génio humano, é fruto duma nova e profunda inspiração, de que o Poeta aliás tem consciência quando fala dele como «poema santo que consagro, / em que puseram mão o céu e a terra» (Par. XXV, 1-2).

Desejo, com esta Carta Apostólica, unir a minha voz à dos meus Antecessores que honraram e celebraram o Poeta, especialmente por ocasião dos aniversários do nascimento ou da morte, para o propor de novo à atenção da Igreja, à universalidade dos fiéis, aos estudiosos de literatura, aos teólogos, aos artistas. Recordarei brevemente estas intervenções, focando a atenção nos Pontífices do último século e nos seus documentos de maior relevo.

1. As palavras sobre Dante Alighieri dos Romanos Pontífices do último século

Há um século, em 1921, por ocasião do VI centenário da morte do Poeta, Bento XV, recolhendo as ideias que surgiram nos pontificados anteriores, particularmente de Leão XIII e São Pio X, comemorou o aniversário de Dante quer com uma Encíclica[1] quer promovendo obras de restauro em Ravena na igreja de São Pedro Maior, chamada popularmente de São Francisco, onde se celebrou o funeral de Alighieri tendo sido sepultado na respetiva área tumular. O Papa, vendo com apreço as numerosas iniciativas tendentes a solenizar a ocorrência, reivindicava o direito da Igreja, «que foi sua mãe», de ser protagonista de tais comemorações, honrando o «seu» Dante.[2] Já na Carta ao Arcebispo de Ravena, D. Pasqual Morganti, com a qual aprovara o programa das celebrações do centenário, Bento XV motivou a sua adesão da seguinte forma: «Além disso (e isto é mais importante) há uma razão particular para considerarmos que se deve celebrar o seu fausto aniversário com grata memória e grande concurso de povo, ou seja, o facto de que Alighieri é nosso. (...) Com efeito, quem poderá negar que o nosso Dante tenha alimentado e fortalecido a chama do engenho e a virtude poética inspirando-se na fé católica, a ponto de cantar num poema quase divino os mistérios sublimes da religião?»[3]

Num momento histórico marcado por sentimentos de hostilidade à Igreja, o Pontífice reiterou, na citada Encíclica, a pertença do Poeta à Igreja, «a união íntima de Dante com esta Cátedra de Pedro»; mais, afirmou que a sua obra, apesar de ser expressão da «prodigiosa vastidão e agudeza do seu engenho», recebeu «um poderoso impulso de inspiração» precisamente da fé cristã. Por isso, «nele – continuava Bento XV – não devemos admirar apenas a altura sublime do engenho, mas também a vastidão do tema que a religião divina ofereceu ao seu canto». E tecia o seu elogio, respondendo indiretamente a quantos negavam ou criticavam a matriz religiosa da sua obra: «Respira-se em Alighieri a mesma piedade que há em nós; a sua fé tem os mesmos sentimentos. (...) O motivo principal de elogio nele é este: ser um poeta cristão e ter cantado com acentuações quase divinas os ideais cristãos dos quais contemplava, com toda a alma, a beleza e o esplendor». E o Pontífice prosseguia: a obra de Dante é um exemplo eloquente e válido para «demonstrar quão falso seja que o obséquio da mente e do coração a Deus corte as asas do engenho; pelo contrário, estimula-o e eleva-o». Por isso, defendia ainda o Papa, «os ensinamentos que Dante nos deixou em todas as suas obras, mas sobretudo no seu triplo poema» podem servir «como guia validíssimo para os homens do nosso tempo», e de modo particular para alunos e estudiosos, já que ele, «ao compor o seu poema, não teve outro objetivo senão levantar os mortais do estado de miséria, isto é, do pecado e conduzi-los ao estado de beatitude, isto é, da graça divina».

Passando a São Paulo VI, as suas várias intervenções estão relacionadas com o VII centenário do nascimento, em 1965. No dia 19 de setembro, ofereceu uma cruz dourada para embelezar a Capela de Ravena que guarda o túmulo de Dante, até então desprovida de «tal sinal de religião e esperança».[4] Em 14 de novembro, enviou a Florença uma coroa áurea de louros para ser encastoada no Batistério de São João. Finalmente, no termo dos trabalhos do Concílio Ecuménico Vaticano II, quis doar aos Padres Conciliares uma edição artística da Divina Comédia. Mas sobretudo honrou a memória do insigne Poeta com a Carta Apostólica Altissimi cantus,[5] na qual reiterava a forte ligação entre a Igreja e Dante Alighieri: «Se alguém quisesse perguntar por que motivo a Igreja Católica, por vontade do seu Chefe visível, tenha a peito cultivar a memória e celebrar a glória do poeta florentino, é fácil a nossa resposta: porque, por um direito particular, Dante é nosso! Nosso, queremos dizer da fé católica, porque tudo nele respira amor a Cristo; nosso, porque muito amou a Igreja, cujas glórias ele cantou; e nosso, porque no Romano Pontífice reconheceu e venerou o Vigário de Cristo».

Mas tal direito, continuava o Papa, longe de autorizar atitudes triunfalistas, constitui um compromisso. «Dante é nosso: podemos justamente repeti-lo. E afirmamo-lo, não para fazer dele um almejado troféu de glória egoísta, mas antes para nos lembrar a nós próprios o dever de o reconhecer como tal e explorar na sua obra os tesouros inestimáveis do pensamento e sentimento cristãos, convencidos como estamos de que só quem penetra na alma religiosa do insigne Poeta pode compreender profundamente e saborear as suas maravilhosas riquezas espirituais». E este compromisso não dispensa a Igreja de acolher também as palavras de crítica profética pronunciadas pelo Poeta contra quem devia anunciar o Evangelho e representar, não a si próprio, mas a Cristo: «Nem me custa recordar que a voz de Dante se ergueu, pungente e severa, contra mais de um Romano Pontífice, e teve amargas reprimendas para instituições eclesiásticas e pessoas que foram ministros e representantes da Igreja»; contudo resulta claro que «tais atitudes inexoráveis nunca abalaram a sua fé católica firme nem o seu afeto filial à santa Igreja».

Depois Paulo VI ilustrava as caraterísticas que fazem do poema de Dante uma fonte de riqueza espiritual ao alcance de todos: «O poema de Dante é universal: na sua amplitude imensa, abraça céu e terra, eternidade e tempo, os mistérios de Deus e as vicissitudes dos homens, a doutrina sagrada e a que deriva da luz da razão, os dados da experiência pessoal e as memórias da história». Mas sobretudo especificava a finalidade intrínseca da obra de Dante, particularmente da Divina Comédia (finalidade essa, nem sempre claramente apreciada e avaliada): «O objetivo da Divina Comédia é primariamente prático e transformador. Não se propõe apenas ser poeticamente bela e moralmente boa, mas capaz de mudar radicalmente o homem e levá-lo da desordem à sabedoria, do pecado à santidade, da miséria à felicidade, da visão terrificante do inferno à contemplação beatificante do paraíso».

Num momento histórico denso de tensões entre os povos, o Papa tinha a peito o ideal da paz e encontrava na obra do Poeta uma reflexão preciosa para a promover e suscitar: «Esta paz dos indivíduos, das famílias, das nações, da sociedade humana, paz interna e externa, paz individual e pública, tranquilidade da ordem, é perturbada e abalada, porque são espezinhadas a piedade e a justiça. E, para restaurar a ordem e a salvação, são chamadas a trabalhar em harmonia a fé e a razão, Beatriz e Virgílio, a Cruz e a Águia, a Igreja e o Império». Nesta linha, assim definia a obra poética na perspetiva da paz: «A Divina Comédia é poema da paz: lúgubre canto da paz perdida para sempre é o Inferno, suave canto da paz esperada é o Purgatório, epinício triunfal de paz eterna e plenamente possuída é o Paraíso».

Nesta perspetiva, continuava o Pontífice, a Divina Comédia «é o poema da melhoria social na conquista duma liberdade, que está isenta da escravidão do mal e nos leva a encontrar e amar a Deus (…) professando um humanismo, cujas qualidades julgamos ter ficado bem esclarecidas». E Paulo VI reiterava uma vez mais quais eram as qualidades do humanismo de Dante: «Em Dante, todos os valores humanos (intelectuais, morais, afetivos, culturais, civis) são reconhecidos, exaltados; e é muito importante notar que este apreço e honra se verificam enquanto ele mergulha no divino, quando a contemplação teria podido anular os elementos terrenos». Daí, afirmava o Papa, nasce – e justamente – o apelativo de Sumo Poeta e o atributo de divina dado à Comédia, bem como a proclamação de Dante como «senhor do altíssimo canto», no incipit da própria Carta Apostólica.

Além disso, avaliando as qualidades artísticas e literárias extraordinárias de Dante, Paulo VI reiterava um princípio por ele afirmado muitas outras vezes. «A teologia e a filosofia têm com a beleza ainda outra relação, e é esta: a beleza, ao emprestar à doutrina o seu vestido e ornamento, com a suavidade do canto e a visibilidade da arte figurativa e plástica, abre a estrada para os seus preciosos ensinamentos chegarem a muitos. As pesquisas profundas, os raciocínios subtis resultam inacessíveis aos humildes, que são uma multidão, e famintos também eles do pão da verdade. Entretanto estes percebem, sentem e apreciam o influxo da beleza e, por este veículo, brilha mais facilmente para eles a verdade e nutre-os. Bem o compreendeu e realizou o senhor do altíssimo canto, cuja beleza se tornou serva da bondade e da verdade, e a bondade matéria da beleza». Por fim, citando a Divina Comédia, Paulo VI exortava a todos: «Honrai agora o altíssimo poeta» (Inf. IV, 80).

De São João Paulo II, que repetidamente citou nos seus discursos as obras do insigne Poeta, quero lembrar apenas a intervenção de 30 de maio de 1985 na inauguração da Exposição Dante no Vaticano. Como Paulo VI, também ele destacou a sua genialidade artística: a obra de Dante é interpretada como «uma realidade visualizada, que fala da vida do além-túmulo e do mistério de Deus com a força própria do pensamento teológico, transfigurado pelo esplendor da arte e da poesia, simultaneamente conjuntas». Depois o Pontífice deteve-se a examinar um termo chave da obra de Dante: «“transumanar”, ultrapassar o humano. Foi este o esforço supremo de Dante: fazer que o peso do humano não destruísse o divino que existe em nós, nem a grandeza do divino anulasse o valor do humano. Por esta razão, o Poeta leu justamente a própria vicissitude pessoal e a da inteira humanidade em chave teológica».

Bento XVI falou frequentemente do itinerário de Dante, tirando das suas obras tópicos de reflexão e meditação. Por exemplo, ao apresentar a sua primeira Encíclica – a Deus caritas est –, partiu precisamente da visão de Deus que tinha Dante e na qual «luz e amor são uma coisa só», para propor novamente uma sua reflexão sobre a novidade da obra de Dante: «O olhar de Dante vislumbra uma coisa totalmente nova (…). A Luz eterna apresenta-se em três círculos aos quais se dirige com estes versos densos que conhecemos: “Luz eterna que só tens sede em ti, / e a ti entendes, e por ti intelecta / e entendente, te amas, ris assi!” (Par. XXXIII, 124-126). Na realidade, ainda mais impressionante que esta revelação de Deus como círculo trinitário de conhecimento e amor é a perceção dum rosto humano – o rosto de Jesus Cristo – que aparece a Dante no círculo central da Luz. (…) Este Deus tem um rosto humano e – podemos acrescentar – um coração humano».[6] O Papa destacou a originalidade da visão de Dante na qual se comunica poeticamente a novidade da experiência cristã, decorrente do mistério da Encarnação: «A novidade dum amor que impeliu Deus a assumir um rosto humano; mais, a assumir carne e sangue, o ser humano inteiro».[7]

Por minha vez, na primeira Encíclica,[8] fiz referência a Dante para expressar a luz da fé, citando um verso do Paraíso onde ela é descrita como «a cintila / que se dilata em chama então vivaz, / e qual astro no céu, em mim rutila» (Par. XXIV, 145-147). Pelos 750 anos do nascimento do Poeta, quis honrar a sua memória com uma mensagem, almejando que «a figura de Alighieri e a sua obra sejam novamente compreendidas e valorizadas»; e propunha que se lesse a Divina Comédia como «um grande itinerário, aliás como uma verdadeira peregrinação, tanto pessoal e interior, como comunitária, eclesial, social e histórica»; com efeito, «ela representa o paradigma de cada viagem autêntica para a qual a humanidade está chamada a abandonar a terra que Dante define “a jeira que nos torna tão ferozes” (Par. XXII, 151), para chegar a uma nova condição, marcada pela harmonia, a paz, a felicidade».[9] Por isso, apresentei a figura do insigne Poeta aos nossos contemporâneos, propondo-o como «profeta de esperança, anunciador da possibilidade de resgate, da libertação, da mudança profunda de cada homem e mulher, de toda a humanidade».[10]

Por fim, no dia 10 de outubro de 2020, ao receber a Delegação da Arquidiocese de Ravena-Cervia por ocasião da abertura do Ano de Dante e anunciar este documento, sublinhei como a obra de Dante pode ainda hoje enriquecer a mente e o coração de muitos, sobretudo jovens, que, abeirando-se da sua poesia «numa forma acessível a eles, constatam, por um lado, inevitavelmente toda a distância do autor e do seu mundo; mas, por outro, captam uma ressonância surpreendente».[11]

2. A vida de Dante Alighieri, paradigma da condição humana

Com esta Carta Apostólica, desejo também eu abeirar-me da vida e obra do ilustre Poeta, para captar precisamente esta ressonância, manifestando tanto a atualidade como a sua perenidade, e recolher aquelas advertências e reflexões que ainda hoje são essenciais não apenas para os crentes mas para toda a humanidade. Com efeito, a obra de Dante é parte integrante da nossa cultura, remete-nos para as raízes cristãs da Europa e do Ocidente, representa o património de ideais e valores que também hoje a Igreja e a sociedade civil propõem como base da convivência humana, na qual podemos e devemos reconhecer-nos todos irmãos. Sem me embrenhar na complexa história pessoal, política e judiciária de Alighieri, gostaria de lembrar apenas alguns momentos e factos da sua existência, pelos quais ele aparece extraordinariamente próximo de muitos dos nossos contemporâneos e que são essenciais para compreender a sua obra.

À cidade de Florença, onde nasceu em 1265 e se casou com Gema Donati gerando quatro filhos, esteve primeiramente ligado por um forte sentimento de pertença, o qual, por causa de dissensões políticas, com o tempo se transformou em aberto contraste. Contudo nunca morreu nele o desejo de lá regressar, não só pelo afeto que continuou em todo o caso a nutrir pela sua cidade, mas sobretudo para ser coroado poeta lá onde recebera o Batismo e a fé (cf. Par. XXV, 1-9). No cabeçalho de algumas das suas Cartas (III, V, VI e VII), Dante define-se como «florentinus et exul inmeritus – florentino imerecido no exílio», enquanto na carta XIII, dirigida a Cangrande della Scala, especifica «florentinus natione non moribus – florentino de nascimento, não de costumes». Guelfo da fação branca, vê-se envolvido no conflito entre Guelfos e Gibelinos, entre Guelfos brancos e negros, e depois de ter ocupado cargos públicos cada vez mais importantes até se tornar Prior, em 1302, devido às vicissitudes políticas adversas, é exilado por dois anos, banido dos cargos públicos e condenado ao pagamento duma multa. Dante rejeita a sentença, em sua opinião injusta, e o julgamento contra ele torna-se ainda mais severo: exílio perpétuo, confiscação dos bens e pena de morte em caso de regresso à terra natal. Assim começa a dolorosa história de Dante, que tenta em vão poder regressar à sua amada Florença, pela qual lutara com paixão.

Torna-se assim o exilado, o «peregrino pensativo», caído numa condição de «penosa pobreza» (Convívio, I, III, 5) que o impele a procurar refúgio e proteção junto de alguns suseranos locais, entre os quais os Scaligeri de Verona e os Malaspina na Lunigiana. Nas palavras de Cacciaguida, antepassado do Poeta, intuem-se a amargura e o desconforto desta nova condição: «Deixarás toda a cousa que é dileta / mais caramente; e este é dardo tal / que o arco do exílio antes projeta. / Tu provarás assim sabor a sal / do alheio pão e como é duro mal / se desça escada alheia ou já se escale» (Par. XVII, 55-60).

Depois, não aceitando as condições humilhantes da amnistia que lhe teria permitido o regresso a Florença, em 1315 foi de novo condenado à morte, desta vez, juntamente com os seus filhos adolescentes. A última etapa do seu exílio foi Ravena, onde foi acolhido por Guido Novello da Polenta, e lá faleceu – regressava duma missão a Veneza – aos 56 anos, na noite de 13 para 14 de setembro de 1321. A sua sepultura num sarcófago em São Pedro Maior, por trás do muro externo do antigo claustro franciscano, foi posteriormente transferida para a adjacente Capela do século XVIII, onde em 1865, depois de atribuladas vicissitudes, foram colocados os seus restos mortais. O lugar é ainda hoje meta de inúmeros visitantes e admiradores do insigne Poeta, pai da língua e literatura italianas.

No exílio, o amor à sua cidade, traído pelos «celerados florentinos» (Epist. VI, 1), transformou-se em triste saudade. A profunda desilusão pela queda dos seus ideais políticos e civis, juntamente com a penosa peregrinação duma cidade para outra à procura de refúgio e apoio não são alheias à sua obra literária e poética; pelo contrário, constituem a sua raiz essencial e a motivação de fundo. Quando Dante descreve os peregrinos que se põem a caminho para visitar os lugares sagrados, de certo modo descreve a sua condição existencial e manifesta os seus sentimentos mais íntimos: «Oh peregrinos que partis pensativos...» {Vita Nova, 29 [XL (XLI), 9], v. 1}. O motivo reaparece mais vezes, por exemplo nestes versos do Purgatório: «Como romeiros pensativos lançam, / cruzando pela via gente ignota, / apenas um olhar e não descansam» (XXIII, 16-18). A pungente melancolia de Dante peregrino e exilado adivinha-se também nos famosos versos do canto VIII do Purgatório: «Era hora em que a saudade aos navegantes / regressa e os enternece já de cor / o adeus a amigos doces dito antes» (VIII, 1-3).

Dante, refletindo profundamente sobre a sua situação pessoal de exílio, incerteza radical, fragilidade, mobilidade contínua, transforma-a, sublimando-a, num paradigma da condição humana, que se apresenta como um caminho – mais interior que exterior – sem paragem alguma enquanto não atingir a meta. Deparamo-nos, assim, com dois temas fundamentais de toda a obra de Dante: o ponto de partida de todo o itinerário existencial, o desejo, presente no ânimo humano, e o ponto de chegada, a felicidade, dada pela visão do Amor que é Deus.

O insigne Poeta, embora atravessando vicissitudes dramáticas, tristes e angustiantes, nunca se resigna, não sucumbe, nem aceita suprimir a ânsia de plenitude e felicidade que está no seu coração, e muito menos se resigna a ceder à injustiça, à hipocrisia, à arrogância do poder, ao egoísmo que faz do nosso mundo «a jeira que nos torna tão ferozes» (Par. XXII, 151).

3. A missão do Poeta, profeta de esperança

Deste modo, relendo a sua vida sobretudo à luz da fé, Dante descobre também a vocação e a missão que lhe foram confiadas, de modo que, paradoxalmente, de homem aparentemente falido e desiludido, pecador e desanimado, transforma-se em profeta de esperança. Na Carta a Cangrande della Scala, com extraordinária nitidez, deixa claro o objetivo da sua obra, que se concretiza e explicita, já não através de ações políticas ou militares, mas graças à poesia, à arte da palavra que, dirigida a todos, tudo pode mudar: «É preciso dizer brevemente que a finalidade do todo e da parte é tirar os viventes nesta existência dum estado de miséria e conduzi-los a um estado de felicidade» [XIII, 39 (15)]. Tal finalidade desencadeia um caminho de libertação de todas as formas de miséria e degradação humanas (a «selva escura») e simultaneamente aponta para a meta derradeira: a felicidade, entendida quer como plenitude de vida na história quer como bem-aventurança eterna em Deus.

Desta dupla finalidade, deste audacioso programa de vida, Dante é mensageiro, profeta e testemunha, confirmado na sua missão por Beatriz: «Por isso, em prol do mundo que mal vive, / ao carro põe os olhos e o que vês / lá regressado, a tua escrita o arquive» (Purg. XXXII, 103-105). Também o seu antepassado Cacciaguida o exorta a não desfalecer na sua missão. Ao Poeta, que recorda brevemente o seu caminho nos três reinos do Além e assinala a dificuldade de comunicar as verdades que doem e incomodam, o ilustre antepassado responde: «… A consciência fusca / ou já da própria ou de alheia vergonha / bem sentirá tua palavra brusca. / E tu porém, sem que a mentir se ponha, / toda tua visão faz manifesta; / e deixa que se cocem onde hão ronha» (Par. XVII, 124-129). Um idêntico incitamento a viver com coragem a sua missão profética é dirigido a Dante, no Paraíso, por São Pedro, quando o Apóstolo, depois duma tremenda invetiva contra Bonifácio VIII, se dirige ao Poeta desta forma: «E tu, filho, que voltarás aonde o / mortal peso há de pôr-te, abre a boca, / e não escondas o que eu não escondo» (Par. XXVII, 64-66).

Assim, na missão profética de Dante, inserem-se também a denúncia e a crítica contra os crentes, tanto Pontífices como simples fiéis, que atraiçoam a adesão a Cristo e transformam a Igreja num instrumento em prol dos próprios interesses, esquecendo o espírito das Bem-aventuranças e a caridade para com os pequenos e os pobres e idolatrando o poder e a riqueza: «Que quanto a Igreja guarda, é atributo / todo da gente que por Deus demande; / não de parentes nem de outro mais bruto» (Par. XXII, 82-84). Mas, através das palavras de São Pedro Damião, São Bento e São Pedro, o Poeta, ao mesmo tempo que denuncia a corrupção dalguns setores da Igreja, faz-se porta-voz de uma renovação profunda e invoca a Providência para que a favoreça e torne possível: «Mas a alta providência, que a Cipião / foi a romana glória nas mãos pondo, / cedo virá, em minha conceção» (Par. XXVII, 61-63).

E assim Dante exilado, peregrino, frágil, mas agora forte pela profunda e íntima experiência que o transformou, renascido graças à visão que, das profundezas dos infernos, da mais degradada condição humana, o elevou à própria visão de Deus, ascende a mensageiro duma nova existência, a profeta duma nova humanidade que anseia pela paz e a felicidade.

4. Dante cantor do desejo humano

Dante é capaz de ler o coração humano em profundidade; e em todos, mesmo nas figuras mais abjetas e molestas, consegue vislumbrar uma cintila de desejo de alcançar alguma felicidade, uma plenitude de vida. Detém-se a escutar as almas que encontra, dialoga com elas, interpela-as para se adentrar e participar nos seus tormentos ou na sua beatitude. Assim, partindo da sua condição pessoal, o Poeta faz-se intérprete do desejo que todo o ser humano tem de continuar o caminho enquanto não chegar ao destino final, não encontrar a verdade, a resposta aos porquês da existência, enquanto o coração – como já afirmava Santo Agostinho[12] – não encontrar repouso e paz em Deus.

No Convívio, analisa precisamente o dinamismo do desejo. «O desejo supremo de todas as coisas, conferido de início pela natureza, é retornar ao seu princípio. E como Deus é princípio das nossas almas, (...) a alma deseja intensamente retornar a Ele. E como um peregrino, que segue um caminho nunca antes percorrido por ele – quando avista de longe uma casa espera que seja a hospedaria, acabando depois por verificar que não o é, então deposita a sua esperança noutra e assim, de casa em casa, até encontrar finalmente a hospedaria –, a nossa alma, ansiosa por ter entrado no novo e nunca percorrido caminho desta vida, dirige o olhar para a meta do seu bem supremo, acreditando encontrá-lo em tudo o que vê e lhe parece ter em si algum bem» (IV, XII, 14-15).

O itinerário de Dante, ilustrado sobretudo na Divina Comédia, é verdadeiramente o caminho do desejo, da necessidade profunda e interior de mudar a sua própria vida para poder alcançar a felicidade e, assim, mostrar a estrada a quem se encontra, como ele, numa «selva escura» e perdeu «a direita via». Além disso, é significativo que, desde a primeira etapa deste percurso, o seu guia – o grande poeta latino Virgílio – lhe indique a meta aonde deve chegar, incitando-o a não ceder ao medo nem ao cansaço: «Mas porque volves ao ansioso enleio? / Porque não vais ao deleitoso monte / que é razão da alegria e dela cheio?» (Inf. I, 76-78).

5. Poeta da misericórdia de Deus e da liberdade humana

Trata-se de um caminho que não é ilusório nem utópico, mas realista e possível, onde todos podem entrar, porque a misericórdia de Deus oferece sempre a possibilidade de mudar, converter-se, encontrar-se a si mesmo e encontrar a via para a felicidade. A propósito, são significativos alguns episódios e personagens da Divina Comédia, que mostram como tal via não esteja vedada a ninguém na terra; exemplo disso é o imperador Trajano, pagão mas colocado no Paraíso. Dante justifica esta presença assim: «Regnum coelorum a violência há de / sofrer de quente amor, viva esperança, / que vence assim a divinal vontade; / não de homem que homem a vencer se lança, / mas vence-a, pois quer ela ser vencida, / para vencer então benigna e mansa» (Par. XX, 94-99). O gesto de caridade de Trajano para com uma «viúva» (Par. XX, 45) ou a «lagrimeta» de arrependimento derramada à hora da morte pelo Buonconte de Montefeltro (Purg. V, 107) não só mostram a infinita misericórdia de Deus, mas confirmam também que o ser humano pode sempre, com a sua liberdade, escolher qual caminho seguir e qual sorte merecer.

Sob esta luz, é significativo o rei Manfredo, colocado por Dante no Purgatório e que assim recorda o seu fim e a sentença divina: «Depois que se rompeu minha pessoa / de feridas mortais, eu me rendi, / chorando, a quem de bom grado perdoa. / Eu horríveis pecados cometi; / mas bondade infinita tanto abraça / que quem se a ela volta aceitar vi» (Purg. III, 118-123). Parece quase vislumbrar-se a figura do pai da parábola evangélica, com os braços abertos pronto a acolher o filho pródigo que volta para ele (cf. Lc 15, 11-32).

Dante faz-se paladino da dignidade de todo o ser humano e da liberdade como condição fundamental tanto das opções de vida como da própria fé. O destino eterno do homem – sugere Dante ao narrar-nos as histórias de tantas personagens, ilustres ou pouco conhecidas – depende das suas escolhas, da sua liberdade: os próprios gestos diários, aparentemente insignificantes, têm um alcance que se estende para além do tempo, são projetados na dimensão eterna. O maior dom de Deus ao homem, para que possa alcançar a meta última, é precisamente a liberdade, como afirma Beatriz: «O maior dom que Deus em tal largueza / já fez criando e à sua bondade / mais conformado e esse que mais preza, / foi ter-se de vontade liberdade» (Par. V, 19-22). Não são afirmações retóricas e vagas, visto que brotam da existência de quem conhece o preço da liberdade: «Liberdade ele busca, que é tão cara, / e sabe-o quem por ela a vida enjeita» (Purg. I, 71-72).

Mas a liberdade – lembra-nos Alighieri – não é fim em si mesma; é condição para subir continuamente. E o percurso nos três reinos ilustra-nos plasticamente esta subida até tocar o Céu, alcançar a plena felicidade. O «alto desejo» (Par. XXII, 61), suscitado pela liberdade, não pode extinguir-se senão em presença da meta, na visão última e na bem-aventurança: «E eu que ao termo da ânsia toda vi / me aproximava, tal como devia, / o fim de tal ardor em mi senti» (Par. XXXIII, 46-48). Depois o desejo faz-se também oração, súplica, intercessão, canto que acompanha e assinala o itinerário de Dante, tal como a oração litúrgica cadencia as horas e os momentos da jornada. A paráfrase do Pai Nosso, que o Poeta propõe (cf. Purg. XI, 1-21), entrelaça o texto do Evangelho com a experiência pessoal, com as suas dificuldades e sofrimentos: «Venha a nós do teu reino assim tamanho / a paz, que só por nós não vamos ter (…). Dá-nos hoje a maná quotidiana, / sem a qual por este áspero deserto, / atrás vai quem avante mais se afana» (7-8.13-15). A liberdade de quem acredita em Deus como Pai misericordioso não pode senão confiar-se a Ele na oração, não sendo por isso minimamente lesada, mas antes reforçada.

6. A imagem do homem na visão de Deus

No itinerário da Divina Comédia, como já sublinhava o Papa Bento XVI, o caminho da liberdade e do desejo não traz consigo – como porventura se poderia imaginar – uma redução do humano na sua realidade concreta, não aliena a pessoa de si mesma, não anula nem negligencia o que constituiu a sua existência histórica. Com efeito, mesmo no Paraíso, Dante representa os bem-aventurados – as «alvas» (Par. XXX, 129) – no seu aspeto corpóreo, evoca os seus afetos e emoções, os seus olhares e gestos, em resumo, mostra-nos a humanidade na sua perfeição completa de alma e corpo, prefigurando a ressurreição da carne. São Bernardo, que acompanha Dante no último trecho do caminho, mostra ao Poeta as crianças presentes na rosa dos bem-aventurados e convida-o a observá-las e ouvi-las: «Dos rostos podes vê-lo se os perscrutas / e também pelas vozes pueris, / se já os bem contemplas e os escutas» (Par. XXXII, 46-48). Resulta comovente ver como esta manifestação dos bem-aventurados na sua luminosa humanidade integral é motivada não só por sentimentos de afeto pelos seus entes queridos, mas sobretudo pelo desejo explícito de voltar a ver os seus corpos, as feições terrenas: «Seus corpos desejando antes da morte; / talvez não só por si, mas pela mãe, / pelo pai, pelos mais que cada amava, / antes de eterna chama ser também» (Par. XIV, 63-66).

E, finalmente, no centro da visão última, no encontro com o Mistério da Santíssima Trindade, Dante vislumbra precisamente um Rosto humano, o de Cristo, da Palavra eterna feita carne no seio de Maria: «E na profunda e clara subsistência / do alto lume três círculos vi vir / de três cores e de uma continência (...). Nessa circulação, que assim concepta / parecia em ti lume refletido, / dos olhos meus um pouco circunspecta, / dentro de si, do próprio colorido, / me apareceu pintada nossa efígie» (Par. XXXIII 115-117.127-131). Só na visão de Deus se aplaca o desejo do homem, e termina todo o seu fatigoso caminho: «Então a mente me era percutida / por um fulgor em que seu querer veio. / Foi a alta fantasia aqui colhida» (Par. XXXIII, 140-142).

O mistério da Encarnação, que hoje celebramos, é o verdadeiro centro inspirador e o núcleo essencial de todo o poema. Nele realiza-se o que os Padres da Igreja chamavam «divinização», admirabile commercium – o prodigioso intercâmbio, pelo qual, ao mesmo tempo que Deus entra na nossa história fazendo-Se carne, o ser humano, com a sua carne, pode entrar na realidade divina, simbolizada pela rosa dos bem-aventurados. A humanidade, na sua realidade concreta, com os gestos e as palavras diárias, com a sua inteligência e afetos, com o corpo e as emoções, é assumida em Deus, no Qual encontra a verdadeira felicidade e a realização plena e última, meta de todo o seu caminho. Dante havia desejado e previsto esta meta no início do Paraíso: «Mais o desejo aceso então surgiu / de ver aquela essência em que se vê / como nossa natura e Deus se uniu. / Lá se verá o que se tem por fé, / não demonstrado, mas por si é noto / qual verdade primeira que o homem crê» (Par. II, 40-45).

7. As três mulheres da Divina Comédia: Maria, Beatriz, Luzia

Cantando o mistério da Encarnação, fonte de salvação e alegria para toda a humanidade, Dante não pode deixar de cantar os louvores de Maria, a Virgem Mãe que, com o seu «sim», com a sua aceitação plena e total do projeto de Deus, torna possível que o Verbo Se faça carne. Na obra de Dante, encontramos um tratado estupendo de mariologia: com acentuações líricas sublimes, particularmente na oração pronunciada por São Bernardo, sintetiza toda a reflexão teológica sobre Maria e a sua participação no mistério de Deus: «Virgem e mãe, que és filha de teu filho, / humilde e alta mais que criatura, / de eterno querer termo fixo e brilho, / aquela és que a humanal natura / tanto nobilitaste, que o fator / não desdenhou fazer de si feitura» (Par. XXXIII, 1-6). O oximoro inicial e a sucessão de termos antitéticos destacam a originalidade da figura de Maria, a sua beleza singular.

São Bernardo, mostrando os bem-aventurados colocados na rosa mística, convida Dante a contemplar Maria, que deu as feições humanas ao Verbo Encarnado: «Contempla agora a face tal que a Cristo / mais se assemelha, pois sua clareza / só te pode dispor a veres Cristo» (Par. XXXII, 85-87). O mistério da Encarnação é de novo evocado pela presença do Arcanjo Gabriel. Dante pergunta a São Bernardo: «Quem é esse anjo em tão festivo jogo / que na nossa rainha o olhar atina, / e tão enamorado é quase fogo?» (Par. XXXII, 103-105). E o Santo responde: «Ele é esse que levou a palma / lá a Maria quando o Filho de Deus / quis carregar com toda a nossa xalma» (Par. XXXII, 112-114). A referência a Maria é constante em toda a Divina Comédia. Ao longo do percurso no Purgatório, é o modelo das virtudes que se opõem aos vícios; é a estrela da manhã que ajuda a sair da selva escura para se encaminhar rumo ao monte de Deus; é a presença constante, através da sua invocação («Nome da bela flor que sempre rogo, / manhã e tarde, …»: Par. XXIII, 88-89), que prepara para o encontro com Cristo e com o mistério da Deus.

Dante, que nunca está sozinho no seu caminho, mas se deixa guiar primeiro por Virgílio, símbolo da razão humana, e depois por Beatriz e São Bernardo, agora, graças à intercessão de Maria, pode chegar à pátria e gozar a alegria plena desejada em cada momento da existência: «… e ainda me distila / ao coração dulçor que lhe começa» (Par. XXXIII, 62-63). Não nos salvamos sozinhos (parece repetir-nos o Poeta, consciente da sua insuficiência): «Por mim próprio não venho» (Inf. X, 61); é necessário que o caminho seja empreendido em companhia de quem nos possa apoiar e guiar com sabedoria e prudência.

Neste contexto, resulta significativa a presença feminina. No início do fatigoso itinerário, Virgílio – o primeiro guia – conforta e encoraja Dante a prosseguir, porque três mulheres intercedem por ele e o hão de guiar: Maria, a Mãe de Deus, figura da caridade; Beatriz, símbolo de esperança; Santa Luzia, imagem da fé. Com palavras comoventes, assim se apresenta Beatriz: «Eu sou Beatriz, ora a fazer-te andar; / do lugar venho a que voltar pretendo, / e amor me move, que me faz falar» (Inf. II, 70-72), afirmando que a única fonte que nos pode dar a salvação é o amor, o amor divino que transfigura o amor humano. Depois Beatriz remete para a intercessão doutra mulher, a Virgem Maria: «Uma gentil senhora no céu plange / o impedimento a que enviar-te entendo, / e o mais duro juízo assim confrange» (Inf. II, 94-96). Depois intervém Luzia, que se dirige a Beatriz: «Beatriz, divina loa verdadeira, / pois não socorrerás quem te amou tanto, / que abandonou por ti vulgar fileira?» (Inf. II, 103-105). Dante reconhece que somente quem é movido pelo amor pode verdadeiramente apoiar-nos no caminho e levar-nos à salvação, ao renovamento da vida e, consequentemente, à felicidade.

8. Francisco, esposo da senhora Pobreza

Na cândida rosa dos bem-aventurados, em cujo centro brilha a figura de Maria, Dante coloca também numerosos santos, cuja vida e missão esboça, para os propor como figuras que, na realidade concreta da sua existência e mesmo através de numerosas provações, alcançaram a finalidade da sua vida e da sua vocação. Mencionarei brevemente apenas a figura de São Francisco de Assis, ilustrada no canto XI do Paraíso, onde se fala dos espíritos sapientes.

Existe uma profunda sintonia entre São Francisco e Dante: o primeiro, juntamente com os seus companheiros, saiu do convento e foi para o meio do povo, pelas estradas de aldeias e cidades, pregando ao povo, parando nas casas; o segundo fez a escolha, então incompreensível, de usar no grande poema do Além a linguagem de todos e povoando a sua narração com personagens conhecidos e menos conhecidos, mas completamente iguais em dignidade aos poderosos da terra. Outro traço une os dois personagens: a abertura à beleza e ao valor do mundo das criaturas, espelho e «vestígio» do seu Criador. Como não reconhecer nestes versos da paráfrase de Dante ao Pai-Nosso – «sejas louvado em nome e em valor / por toda a criatura…» (Purg. XI, 4-5) – uma referência ao Cântico das Criaturas de São Francisco?

No canto XI do Paraíso, essa consonância aparece com um novo aspeto, que os torna ainda mais semelhantes. A santidade e a sabedoria de Francisco sobressaem precisamente porque Dante, olhando do céu a nossa terra, vislumbra a tacanhez de quem confia nos bens terrenos: «Ó cuidar insensato dos mortais, / por quantos defetivos silogismos / fazem que asas ao fundo a dar tu vais!» (Par. XI, 1-3). Toda a história ou, melhor, a «vida admirável» do santo assenta sobre a sua relação privilegiada com a senhora Pobreza: «Mas por que eu não pareça assaz escuso, / Francisco e a Pobreza por amantes / entendas ora em meu falar difuso» (Par. XI, 73-75). No canto de São Francisco, recordam-se os momentos salientes da sua vida, as suas provações e por fim o acontecimento no qual a sua configuração a Cristo, pobre e crucificado, encontra a sua extrema, divina confirmação na marca dos estigmas: «Porque de mais azeda já observa / a gente à fé, por não ficar em vão, / ao fruto regressou da ítala erva, / e entre Arno e Tibre em cru penedo então / foi ter de Cristo o último sigilo, / que dois anos seus membros levarão» (Par. XI, 103-108).

9. Acolher o testemunho de Dante Alighieri

No final deste olhar sintético à obra de Dante Alighieri, uma mina quase infinita de conhecimentos, experiências, considerações em todos os campos da pesquisa humana, impõe-se uma reflexão. A riqueza de figuras, narrações, símbolos, imagens sugestivas e atraentes que Dante nos propõe suscita certamente admiração, maravilha, gratidão. Nele podemos quase entrever um precursor da nossa cultura multimediática, na qual palavras e imagens, símbolos e sons, poesia e dança se fundem numa única mensagem. Assim se compreende por que o seu poema tenha inspirado a criação de inúmeras obras de arte de todo o género.

Mas a obra do insigne Poeta suscita também alguns desafios para os nossos dias. Que poderá ela comunicar-nos, no nosso tempo? Terá ainda algo a dizer-nos, a oferecer-nos? Terá a sua mensagem alguma função a desempenhar também para nós na atualidade? Poderá ainda interpelar-nos?

Hoje Dante – tentemos fazer-nos intérpretes da sua voz – não nos pede para ser simplesmente lido, comentado, estudado, analisado. Pede-nos sobretudo para ser escutado, ser de certo modo imitado, fazer-nos seus companheiros de viagem, porque quer-nos mostrar também hoje qual é o itinerário para a felicidade, a direita via para viver plenamente a nossa humanidade, superando as selvas escuras onde perdemos a orientação e a dignidade. A viagem de Dante e a sua visão da vida além da morte não são simplesmente objeto duma narração, não constituem apenas um acontecimento pessoal, embora excecional.

Se Dante conta tudo isto (e fá-lo de maneira admirável), usando a linguagem vulgar do povo, a língua que todos podiam compreender, elevando-a a língua universal, é porque tem uma mensagem importante a transmitir-nos, uma palavra que quer tocar o nosso coração e a nossa mente, destinada a transformar-nos e mudar-nos já agora, nesta vida. É uma mensagem que pode e deve tornar-nos plenamente conscientes daquilo que somos e daquilo que vivemos dia após dia na tensão interior e contínua para a felicidade, para a plenitude da existência, para a pátria última onde estaremos em plena comunhão com Deus, Amor infinito e eterno. Embora Dante seja um homem do seu tempo e possua sensibilidade diferente da nossa em alguns assuntos, todavia o seu humanismo é ainda válido e atual e pode certamente constituir um ponto de referência para aquilo que queremos construir no nosso tempo.

Por isso, aproveitando esta ocasião propícia do centenário, é importante que a obra de Dante seja dada a conhecer ainda melhor e de maneira mais adequada, isto é, seja tornada acessível e atraente não só para alunos e estudiosos, mas também para todos aqueles que, ansiosos por dar resposta às questões interiores, desejosos de realizar em plenitude a sua existência, querem viver o seu itinerário de vida e de fé de forma consciente, acolhendo e vivendo com gratidão o dom e o compromisso da liberdade.

Congratulo-me naturalmente com os professores que são capazes de comunicar com paixão a mensagem de Dante, introduzir no tesouro cultural, religioso e moral contido nas suas obras. Mas este património pede para ser tornado acessível fora das aulas das escolas e universidades.

Exorto as comunidades cristãs, sobretudo as estabelecidas nas cidades que conservam as memórias de Dante, as instituições académicas, as associações e os movimentos culturais a promoverem iniciativas visando o conhecimento e a difusão da mensagem de Dante na sua plenitude.

De maneira particular encorajo os artistas a dar voz, rosto e coração, a dar forma, cor e som à poesia de Dante, ao longo da via da beleza que ele percorreu magistralmente; e assim comunicar as verdades mais profundas e, com as linguagens próprias da arte, difundir mensagens de paz, liberdade, fraternidade.

Neste momento histórico particular, marcado por muitas sombras, por situações que degradam a humanidade, por falta de confiança e de perspetivas para o futuro, a figura de Dante, profeta de esperança e testemunha do desejo humano de felicidade, pode ainda dar-nos palavras e exemplos que estimulam o nosso caminho. Pode ajudar-nos a avançar, com serenidade e coragem, na peregrinação da vida e da fé que todos somos chamados a realizar até o nosso coração encontrar a verdadeira paz e a verdadeira alegria, até chegarmos à meta última de toda a humanidade, «o amor que move o sol e as mais estrelas» (Par. XXXIII, 145).


Vaticano, na solenidade da Anunciação do Senhor, 25 de março do ano de 2021, nono do meu pontificado.

Francisco

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[*] Usou-se a tradução portuguesa da obra bilingue de VASCO GRAÇA MOURA, A Divina Comédia de Dante Alighieri, Bertrand Editora – Venda Nova, 52000.

[1] Carta enc. In praeclara summorum (30 de abril de 1921): AAS 13 (1921), 209-217

[2] Cf. ibidem: o. c. 210

[3] Epistola Nobis, ad Catholicam (28 de outubro de 1914): AAS 6 (1914), 540.

[4] Discurso ao Sacro Colégio e à Prelatura Romana (23 de dezembro de 1965): AAS 58 (1966), 80

[5] Cf. AAS 58 (1966), 22-37.

[6] Discurso aos participantes no Encontro promovido pelo Pontifício Conselho «Cor Unum» (23 de janeiro de 2006): Insegnamenti 2006, II/1, 92-93.

[7] Ibidem: o. c., 93.

[8] Cf. Carta enc. Lumen fidei (29 de junho de 2013), 4: AAS 105 (2013), 557.

[9] Mensagem ao Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura (4 de maio de 2015): AAS 107 (2015), 551-552.

[10] Ibidem: o. c., 552.

[11] L’Osservatore Romano (10 de outubro de 2020), 7.

[12] Cf. Confissões, I, 1, 1: PL 32, 661.



quarta-feira, 24 de março de 2021

SANTA MISSA DIRETO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 24 03 2021

ORAÇÃO SANTO TERÇO 24 03 2021

Homilia Diária | Quarta-feira da 5ª Semana da Quaresma – A virtude liberta

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO

SOBRE A OCASIÃO DE ACONTECIMENTOS IMPORTANTES NO BANGLADESH

[17 a 26 de março de 2021]


Congratulo-me com a oportunidade de estender as minhas mais calorosas saudações e votos de felicidades ao Presidente, Primeiro-Ministro e ao querido povo do Bangladesh, enquanto a nação celebra o centenário do nascimento do Sheikh Mujibur Rahman e o quinquagésimo aniversário da independência do Bangladesh. Uno-me a todos vocês para agradecer a Deus pelas muitas bênçãos concedidas ao seu país ao longo dos anos.

Bangladesh - "Golden Bengal" ( Sonar Bangla ) - é um país de rara beleza natural e uma nação moderna, que se esforça para manter a unidade de idioma e cultura com respeito pelas diferentes tradições e comunidades que vivem nele. Este é um dos legados que o xeque Mujibur Rahman deixou para todos os bengalis. Ele promoveu uma cultura de encontro e diálogo, caracterizada pela sabedoria e uma visão ampla e perspicaz. Ele estava convencido de que somente em uma sociedade pluralista e inclusiva, em que cada pessoa possa viver em liberdade, paz e segurança, somente assim será possível construir um mundo mais justo e fraterno.

Bangladesh é um Estado jovem e sempre teve um lugar especial no coração dos Papas, que desde o início se solidarizaram com seu povo, procuraram acompanhá-lo na superação das adversidades iniciais e apoiá-lo na exigente tarefa de construir. e fazendo crescer a nação. Espero que as boas relações entre a Santa Sé e Bangladesh continuem a florescer. Confio também que o clima cada vez mais favorável de encontro e diálogo inter-religioso, que pude encontrar durante a minha visita, continuará a permitir que os fiéis expressem livremente suas convicções mais profundas sobre o sentido e o propósito da vida e, assim, contribuirá para a promoção do espiritual. valores, que são a base segura de uma sociedade pacífica e justa.

Caros irmãos e irmãs, ao recordar o quinquagésimo aniversário da sua independência, renovo a minha firme convicção de que o futuro da democracia e a saúde da vida política do Bangladesh estão essencialmente ligados aos seus ideais fundadores e à herança do diálogo sincero e do respeito pelos diversidade legítima que você tentou alcançar ao longo dos anos.

Como amigo de Bangladesh, encorajo cada um de vocês, especialmente as gerações mais jovens, a renovar seus esforços para trabalhar pela paz e prosperidade da nobre nação que representam. E peço a todos vocês que continuem em seu compromisso de generosidade e consciência humanitária para com os refugiados, os mais pobres, os desfavorecidos e aqueles que não têm voz.

Com estes votos cordiais, invoco abundantes bênçãos divinas sobre Golden Bangladesh e todos os seus cidadãos.



(Texto) AUDIÊNCIA GERAL: Catequese - 27. Rezar em comunhão com Maria



PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Biblioteca do Palácio Apostólico

Quarta-feira, 24 de março de 2021

 

Catequese - 27. Rezar em comunhão com Maria

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

A catequese de hoje é dedicada à oração em comunhão com Maria, e ocorre precisamente na véspera da Solenidade da Anunciação. Sabemos que a via mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus. Com efeito, a confiança típica da oração cristã não teria sentido se o Verbo não se tivesse encarnado, doando-nos no Espírito a sua relação filial com o Pai. Na leitura ouvimos falar daquela reunião dos discípulos, das mulheres piedosas e de Maria, que rezavam depois da Assunção de Jesus: era a primeira comunidade cristã, que esperava o dom de Jesus, a promessa de Jesus.

Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2674). É o único Redentor: não existem corredentores com Cristo. É o Mediador por excelência, é o Mediador. Cada oração que elevamos a Deus é por Cristo, com Cristo e em Cristo, e realiza-se graças à sua intercessão. O Espírito Santo alarga a mediação de Cristo a todos os tempos e lugares: não há outro nome no qual podemos ser salvos (cf. At 4, 12). Jesus Cristo: o único Mediador entre Deus e os homens.

Da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, Mãe de Jesus.

Ela ocupa um lugar privilegiado na vida e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus. As Igrejas do Oriente representaram-na frequentemente como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo. Vem-me à mente aquela bonita, antiga e simples pintura da Odigitria, na catedral de Bari: Nossa Senhora mostra Jesus nu. Depois vestiram-lhe a camisa para cobrir aquela nudez, mas na verdade Jesus é representado nu, para indicar que Ele, homem nascido de Maria, é o Mediador. E Ela indica o Mediador: Ela é a Odigitria. Na iconografia cristã a sua presença está em toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele (cf. CIC, 2674). A tal ponto que podemos afirmar que é mais discípula do que Mãe. Aquela indicação, nas bodas de Caná, Maria diz: “Fazei o que Ele vos disser!”. Indica sempre Cristo; é a sua primeira discípula.

Este foi o papel que Maria desempenhou ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde serva do Senhor, nada mais. Numa certa altura, nos Evangelhos, Ela parece quase desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho, graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal” (cf. Jo 2, 1-12), e depois no Gólgota, ao pé da Cruz.

Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais. Também na primeira antífona latina, Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genitrix: Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor.

E assim começamos a rezar a Ela com algumas expressões que lhe são dirigidas, presentes nos Evangelhos: “cheia de graça”, “bendita sois vós entre as mulheres” (cf. CIC, 2676 ss.). Em breve, à oração da Ave-Maria seria acrescentado o título “Theotokos”, “Mãe de Deus”, sancionado pelo Concílio de Éfeso. E, analogamente ao que acontece no Pai-Nosso, depois do louvor acrescentamos a súplica: pedimos à Mãe que reze por nós, pecadores, para que interceda com a sua ternura, “agora e na hora da nossa morte”. Agora, nas situações concretas da vida, e no momento final, a fim de que nos acompanhe - como Mãe, como primeira discípula - na passagem para a vida eterna.

Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela é Mãe, está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado.

Maria estava e está presente durante os dias da pandemia, perto das pessoas que infelizmente concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto da proximidade dos seus entes queridos. Maria está sempre presente, ao nosso lado, com a sua ternura maternal.

As orações a Ela dirigidas não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós mesmos. Ouve-as como Mãe. Como e mais do que todas as mães bondosas, Maria defende-nos nos perigos, preocupa-se connosco, até quando estamos ocupados com os nossos afazeres e perdemos o sentido do caminho, colocando em perigo não só a nossa saúde, mas a nossa salvação. Maria está presente reza por nós, reza por quem não ora. Reza connosco. Porquê? Porque Ela é a nossa Mãe!

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APELOS

Foi com tristeza que recebi a notícia sobre os recentes ataques terroristas no Níger, que provocaram a morte de 137 pessoas. Oremos pelas vítimas, pelas suas famílias e por toda a população, a fim de que a violência sofrida não faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz.

Nestes dias, grandes inundações causaram graves prejuízos no Estado de New South Wales, na Austrália. Estou próximo das pessoas e famílias atingidas novamente por esta calamidade, especialmente de quantos viram as suas casas destruídas, e encorajo aqueles que trabalham para procurar os desaparecidos e para levar socorro.

Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose. Possa esta celebração favorecer um impulso renovado no tratamento desta doença e uma maior solidariedade para com quantos dela sofrem. Sobre eles e sobre as suas famílias invoco a consolação do Senhor.

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Saudações:

Saúdo os ouvintes de língua portuguesa e convido, nas vésperas da solenidade da Anunciação, a dirigir-vos com confiança à Virgem Mãe. Mulher do “sim”, que acolheu com prontidão o convite do Anjo, responde de igual forma às nossas súplicas. Como e mais do que toda a boa mãe, Maria protege-nos nos perigos. Lá, está Ela a rezar por nós, a rezar por quem não reza. Porque é a nossa Mãe!

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Resumo da catequese do Santo Padre:

Na oração do cristão, a Virgem Maria ocupa um lugar privilegiado, porque é a Mãe de Jesus. Sabemos que a estrada-mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus: por esta sua humanidade, o Espírito Santo introduz-nos na relação filial de Jesus com o Pai celeste e daí nascem a intimidade e a confidência típicas da oração cristã: «Abbá, Papá!» Cristo é o único Mediador, a ponte que atravessamos para chegar ao Pai. Desta mediação única de Cristo, recebem sentido e valor todos os outros intermediários a quem recorremos na nossa devoção, a começar pela Virgem Maria. Na iconografia das nossas igrejas, Ela está sempre presente, e por vezes até com grande realce, mas sempre associada ao Filho, sempre em função d’Ele. Nas suas mãos, nos seus olhos, na sua atitude geral, temos um «catecismo» vivo: sempre indicam o ponto cardeal, ou seja, Jesus. Este é o papel que Maria ocupou durante a sua vida terrena e mantém para sempre: ser a serva humilde do Senhor. Mas, pouco antes de morrer na cruz, Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando Lhe confiou o discípulo amado. Colocados assim sob o seu manto protetor, começamos a rezar-Lhe usando algumas expressões presentes nos Evangelhos, como «cheia de graça» e «bendita entre as mulheres». E, na Ave Maria, depressa entra o título de «Mãe de Deus» consagrado no Concílio de Éfeso. Como sucede no Pai Nosso, depois do louvor vem a súplica: pedimos à Virgem Mãe que reze «por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte». Sabemos que Maria esteve e está presente, nestes dias de pandemia, junto das pessoas que concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto dos seus entes queridos. Com a sua ternura materna, estava lá Maria.