VIA-SACRA
NO COLISEU - 2014
PRESIDIDA POR SUA SANTIDADE
O
PAPA FRANCISCO
SEXTA-FEIRA
SANTA
Roma, 18 de Abril de 2014
«ROSTO DE CRISTO,
ROSTO DO HOMEM»
I ESTAÇÃO
Jesus condenado à morte
O dedo em riste que acusa
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas 23, 21-25
«De novo Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas
eles gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Pilatos disse-lhes pela terceira
vez: “Que mal fez Ele, então? Nada encontrei n’Ele que mereça a morte. Por
isso, vou libertá-Lo, depois de O castigar”. Mas eles insistiam em altos
brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de
violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o
que fora preso por sedição e homicídio, e entregou-lhes Jesus para o que eles
queriam».
Um Pilatos amedrontado que não procura a verdade, o dedo em riste que
acusa e o clamor crescente da multidão enfurecida são os primeiros passos do
morrer de Jesus. Inocente, como um cordeiro, cujo sangue salva o seu povo.
Aquele Jesus que passou pelo meio de nós, curando e abençoando, agora é
condenado à pena capital. Nenhuma palavra de agradecimento da multidão, que, em
vez d’Ele, escolhe Barrabás. Para Pilatos, torna-se um caso embaraçoso.
Abandona-O à multidão e lava as mãos, todo apegado ao seu poder. Entrega-O,
para ser crucificado. Não quer mais saber d’Ele para nada. Para ele, o caso
está encerrado.
A condenação apressada de Jesus reúne assim as acusações fáceis, os
juízos superficiais entre o povo, as insinuações e os preconceitos que fecham o
coração e se tornam cultura racista, de exclusão e de descarte, juntamente com
as cartas anónimas e as calúnias horríveis. Acusados, imediatamente são
atirados para a primeira página; declarados inocentes, acaba-se na última!
E nós? Saberemos ter uma consciência recta e responsável, transparente,
que nunca volte as costas ao inocente, mas se posicione, com coragem, em defesa
dos fracos, resistindo à injustiça e defendendo em todo o lado a verdade
violada?
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
há mãos que dão apoio
e há mãos que assinam sentenças
injustas.
Fazei que, sustentados pela vossa graça, não descartemos ninguém.
Defendei-nos
das calúnias e da mentira.
Ajudai-nos a procurar sempre a verdade
e a estar da
parte dos fracos,
capazes de acompanhar o seu caminho.
E dai a vossa luz a quem
deve, por missão, julgar em tribunal,
para que pronuncie sempre sentenças
justas e verdadeiras. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum
pendebat Filius.
II ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz
O madeiro pesado
da crise
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Da primeira Carta de São Pedro 2, 24-25
«Subindo ao madeiro, Jesus levou os nossos pecados no seu corpo, para
que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas feridas, fostes
curados. Na verdade, éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao
Pastor e Guarda das vossas almas».
Aquele madeiro da cruz pesa, porque nele Jesus leva os pecados de todos
nós. Cambaleia sob aquele peso, grande demais para um homem só (Jo 19,
17).
Nele está também o peso de todas as injustiças que produziram a crise
económica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego,
demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira,
suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam
os países.
Esta é a cruz pesada do mundo do trabalho, a injustiça colocada sobre os
ombros dos trabalhadores. Jesus toma-a sobre os seus ombros e ensina-nos a
viver, não mais na injustiça, mas capazes, com sua ajuda, de criar pontes de
solidariedade e esperança, para não sermos ovelhas errantes nem extraviadas
nesta crise.
Portanto voltemos para Cristo, Pastor e Guarda das nossas almas. Lutemos
juntos pelo trabalho na reciprocidade, vencendo o medo e o isolamento,
recuperando a estima pela política e procurando juntos a saída para os
problemas.
Então, a cruz tornar-se-á mais leve, se levada com Jesus e sustentada
conjuntamente por todos, porque «pelas suas feridas – transformadas em frestas
– fomos curados» (cf. 1 Ped 2, 24).
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
a nossa noite é cada vez mais densa!
A pobreza assume o
aspecto da miséria.
Não temos pão para dar aos filhos e as nossas redes estão
vazias.
Incerto, o nosso futuro. Provede ao trabalho que falta.
Suscitai em nós
o ardor pela justiça,
para que a vida que levamos não seja feita de rastos,
mas
vivida em dignidade! Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit
gladius.
III ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez
A fragilidade que
nos abre ao acolhimento
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Livro do profeta Isaías 53, 4-5
«Ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós
o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por
causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo
que nos salva caiu sobre ele».
É um Jesus frágil, humaníssimo, Aquele que contemplamos, maravilhados,
nesta estação de grande sofrimento. Precisamente esta sua queda, no pó,
revela-nos ainda mais o seu amor imenso. É empurrado pela multidão, atordoado
pelos gritos dos soldados, sofre a ardência das chagas da flagelação, cheio de
amargura interior pela imensa ingratidão humana. E cai. Cai por terra.
Mas nesta queda, cedendo ao peso e à fadiga, uma vez mais Jesus faz-Se
Mestre de vida. Ensina-nos a aceitar as nossas fragilidades, a não desanimar
com os nossos fracassos, a reconhecer com lealdade as nossas limitações: «Querer
o bem – diz São Paulo – está ao meu alcance, mas realizá-lo, isso não»
(Rm 7, 18).
Com esta força interior, que Lhe vem do Pai, Jesus ajuda-nos a acolher
também as fragilidades dos outros; a não encarniçar-nos contra quem está caído,
a não ficar indiferente perante os que caem. E dá-nos a força para não fechar a
porta a quem bate às nossas casas, pedindo asilo, dignidade e pátria. Cientes
da nossa fragilidade, acolheremos no nosso meio a fragilidade dos imigrantes,
para que encontrem apoio e esperança.
De facto, é na água suja da bacia do Cenáculo, isto é, na nossa fraqueza
que se reflecte o verdadeiro rosto do nosso Deus! Por isso, «todo o espírito
que confessa Jesus Cristo que veio em carne mortal é de Deus» (1 Jo
4, 2).
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
que Vos fizestes humilde para resgatar as nossas
fragilidades,
tornai-nos capazes de entrar em verdadeira comunhão
com os nossos
irmãos mais pobres.
Arrancai-nos do coração toda a raiz de medo e de cómoda
indiferença,
que nos impede de Vos reconhecer nos imigrantes,
para testemunhar
que a vossa é uma Igreja sem fronteiras,
verdadeira
mãe de todos! Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta
Mater
Unigeniti!
IV ESTAÇÃO
Jesus encontra a Mãe
As lágrimas solidárias
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho de São Lucas e da Carta de São Paulo aos Romanos
«Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui
para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição;
uma espada trespassará a tua alma» (Lc 2, 34-35). «Chorai com os
que choram. Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros» (Rm
12, 15-16).
Carregado de emoção e de lágrimas pungentes é este encontro de Jesus com
sua Mãe, Maria. Exprime-se nele a força invencível do amor materno, que supera
todo o obstáculo e sabe abrir qualquer estrada. Mas ainda mais vivo é o olhar
solidário de Maria, que se solidariza e dá força ao Filho. Assim o nosso
coração enche-se de maravilha, ao contemplar a grandeza de Maria precisamente
no facto de, sendo Ela criatura, se fazer o «próximo» do seu Deus e Senhor.
Nas lágrimas d’Ela, reúnem-se todas as lágrimas de cada mãe pelos seus
filhos distantes, pelos jovens condenados à morte, trucidados ou enviados para
a guerra, especialmente as crianças-soldado. Aqui ouvimos o lamento desolador
das mães pelos seus filhos, que morrem por causa dos tumores produzidos pela
incineração dos resíduos tóxicos.
Lágrimas amarguíssimas! Partilha solidária da angústia dos filhos! Mães
de vigia na noite, com as lâmpadas acesas, temendo pelos jovens vítimas da
precariedade ou engolidos pela droga e pelo álcool, especialmente nas noites de
sábado.
Ao redor de Maria, nunca seremos um povo órfão! Também a nós, como a São
Juan Diego, Maria oferece a carícia da sua consolação materna e diz-nos: «Não
se perturbe o teu coração. (...) Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?»
(Exort. ap. Evangelii gaudium, 286).
==========
ORAÇÃO
Ave, minha Mãe,
dai-me a vossa santa bênção.
Abençoai-me a mim e toda a
minha casa.
Dignai-Vos oferecer a Deus tudo o que hoje tenho de fazer e sofrer,
em
união com os méritos vossos e do vosso santíssimo Filho.
Eu Vos ofereço e
dedico tudo o que sou e tenho ao vosso serviço,
colocando-me completamente sob
o vosso manto.
Alcançai-me, ó Senhora minha, pureza de mente e de corpo
e fazei
que, neste dia,
nada faça que possa desagradar a Deus.
Vo-lo peço pela vossa
Imaculada Conceição
e pela vossa ilibada virgindade. Amen.
(São Gaspar
Bertoni).
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Quæ mærebat et dolebat
pia Mater, dum videbat
Nati
pœnas incliti.
V ESTAÇÃO
Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a Cruz
A mão amiga que
levanta
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Marcos15, 21
«Para Lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao
regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo».
Simão de Cirene passa por acaso. Mas torna-se um encontro decisivo na
sua vida. Voltava dos campos. Homem de fadiga e de vigor. Por isso, foi forçado
a levar a cruz de Jesus, condenado a uma morte infame (cf. Fil 2, 8).
Mas, aquele encontro transformar-se-á, de casual, num decisivo e vital
seguimento atrás de Jesus, carregando dia a dia a sua cruz, renegando-se a si
mesmo (cf. Mt 16, 24-25). Com efeito, Simão é recordado por Marcos como
o pai de dois cristãos conhecidos na comunidade de Roma: Alexandre e Rufo. Um
pai que, de certeza, imprimiu no coração dos filhos a força da cruz de Jesus. É
que a vida, se a guardas demasiado para ti, torna-se bafienta e árida. Mas, se
a ofereces, floresce tornando-se espiga de trigo para ti e para toda a
comunidade.
Aqui está a verdadeira cura do nosso egoísmo, sempre à espreita. A
relação com os outros cura-nos e gera uma fraternidade mística, contemplativa,
que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser
humano, que sabe suportar as moléstias da existência, agarrando-se ao amor de
Deus. Só abrindo o coração ao amor divino, sou impelido a procurar a felicidade
dos outros nos variados gestos de voluntariado: uma noite no hospital, um
empréstimo sem juros, uma lágrima enxugada em família, a gratuidade sincera, o
compromisso clarividente do bem comum, a partilha do pão e do trabalho,
vencendo toda e qualquer forma de ciúmes e de inveja.
É o próprio Jesus que no-lo recorda: «Sempre que fizestes isto a um
destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,
40).
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
no amigo Cireneu vibra o coração da vossa Igreja,
que se
fez tecto de amor para quantos têm sede de Vós.
A ajuda fraterna é a chave para
cruzarmos, juntos, a porta da Vida.
Não permitais que o nosso egoísmo nos faça
passar ao largo,
mas ajudai-nos a derramar o óleo da consolação nas feridas
alheias,
para nos tornarmos companheiros de estrada leais,
sem fugas e sem
nunca nos cansarmos de optar pela fraternidade. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus
nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.
Quis est homo qui non fleret,
Matrem Christi si
videret
in tanto supplicio?
VI ESTAÇÃO
A Verónica limpa o rosto de Jesus
A ternura
feminina
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Livro dos Salmos Sal 27, 8-9
«O meu coração murmura por Ti, os meus olhos Te procuram; é a tua
face que eu procuro, Senhor. Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com
ira, o teu servo. Tu és o meu amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus,
meu Salvador».
Jesus lá se vai arrastando com dificuldade, ofegante. Mas a luz no seu
rosto permanece intacta. Não há ofensa que possa sobrepor-se à sua beleza. Os
escarros não a obscureceram. As bofetadas não conseguiram apagá-la. Aquele
rosto apresenta-se como uma sarça ardente, que quanto mais é ultrajado tanto
mais consegue emanar uma luz de salvação. Caem lágrimas silenciosas dos olhos do
Mestre. Carrega o peso do abandono. E no entanto Jesus avança, não pára, não
volta para trás. Enfrenta a opressão. Perturba-O a crueldade, mas Ele sabe que
o seu morrer não será em vão.
Então, Jesus pára diante de uma mulher que vem ao seu encontro, sem qualquer
hesitação. É a Verónica, verdadeira imagem feminina da ternura.
Aqui o Senhor encarna a nossa necessidade de amorosa gratuidade, de nos
sentirmos amados e protegidos por gestos de carinho e cuidado. As carícias
desta criatura ficam banhadas pelo sangue precioso de Jesus e parecem cancelar
os actos de profanação que Ele recebeu naquelas horas de tortura. A Verónica
consegue tocar o doce Jesus, roçar a sua candura. Não só para aliviar, mas
também para participar no seu sofrimento. Em Jesus, reconhece todo o próximo
que deve consolar com um toque de ternura, querendo chegar aos gemidos de dor
de quantos, hoje, não recebem assistência nem calor de compaixão. E morrem de
solidão.
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
como pesa o afastamento de quem julgávamos
estar ao nosso
lado nos dias da desolação!
Mas, Vós, envolvei-nos com aquele pano
que traz
impresso o vosso sangue precioso,
derramado ao longo do caminho do abandono,
que,
também Vós, sofrestes injustamente.
Sem Vós, não temos
nem podemos dar qualquer
alívio. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Quis non posset contristari,
Christi Matrem
contemplari
dolentem cum Filio?
VII ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez
A angústia da prisão e da
tortura
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Livro dos Salmos Sal 117, 11.12-13.18
«Rodearam-me (...). Cercaram-me como um enxame de vespas, a sua fúria
crepitava como fogo entre espinhos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor.
Empurraram-me com violência para eu cair, mas o Senhor veio em meu auxílio.
(...) O Senhor castigou-me com dureza, mas não me deixou morrer».
Em Jesus cumprem-se verdadeiramente as antigas profecias do Servo
humilde e obediente, que toma sobre os seus ombros toda a nossa história de
sofrimento. E assim Jesus, empurrado para a frente à força, cai sob a fadiga e
a opressão, rodeado, circundado pela violência, já sem forças. Cada vez mais
só, sempre mais nas trevas. Dilacerado na carne, debilitado nos ossos.
N’Ele reconhecemos a amarga experiência dos encarcerados de cada prisão,
com todas as suas desumanas contradições. Rodeados e cercados, «empurrados
violentamente para cair». Hoje, a prisão continua a ser demasiado distante,
esquecida, repudiada pela sociedade civil. Existem as absurdidades da
burocracia, a lentidão da justiça. Dupla pena é ainda a superlotação: é um
sofrimento agravado, uma opressão injusta, que consome a carne e os ossos.
Alguns – demasiados! – não conseguem resistir… E mesmo quando um irmão nosso sai,
ainda o consideramos um «ex-preso», fechando-lhe deste modo as portas do
resgate social e laboral.
Mais grave, porém, é a prática da tortura, infelizmente ainda espalhada
em várias partes da terra e sob variadas formas. Tal como sucedeu com Jesus:
também Ele açoitado, humilhado pela soldadesca, torturado com a coroa de
espinhos, flagelado cruelmente.
Hoje, à vista desta queda, como sentimos verdadeiras as palavras de
Jesus: «Estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 36). Em
cada prisão, junto de cada torturado, está sempre Ele, o Cristo sofredor, preso
e torturado. Quando provados, mesmo duramente, é Ele o nosso auxílio, para não
se apoderar de nós o pavor. Só juntos nos levantamos, acompanhados por válidos
agentes sociais, apoiados pela mão fraterna dos voluntários e erguidos por uma
sociedade civil que faz suas as inúmeras injustiças dentro dos muros de uma
prisão.
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
uma comoção sem fim se apodera de mim
ao ver-Vos caído no
chão por mim.
Nenhum mérito tenho, só uma multidão de pecados, incoerências,
fragilidades.
Por resposta, um grande Amor de predilecção!
Expulsos da
sociedade, mortos pelo julgamento,
Vós nos abençoastes para sempre.
Felizes de
nós, se hoje estamos contigo, aqui no chão, resgatados
/ da condenação.
Concedei-nos
que não fujamos das nossas responsabilidades,
dai-nos a graça de habitar na
vossa humilhação, a salvo de qualquer pretensão
/ de omnipotência
para renascer
para uma vida nova como criaturas feitas para o Céu. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Pro peccatis suæ gentis
vidit Iesum in tormentis,
et
flagellis subditum.
VIII ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
Partilha e não
comiseração
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas 23, 28
«Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós
mesmas e pelos vossos filhos».
Como tochas acesas, nos aparecem as figuras femininas ao longo da via
dolorosa. Mulheres de fidelidade e coragem, que não se deixam intimidar pelos
guardas nem escandalizar pelas chagas do Bom Mestre. Estão prontas a
encontrá-Lo e a consolá-Lo. Jesus está ali na frente delas. Há quem O espezinhe
no momento em que cai por terra exausto. Mas, as mulheres estão ali, prontas a
oferecer-Lhe aquele palpitar caloroso que o coração já não consegue conter.
Primeiro, olham-No de longe, mas depois aproximam-se d’Ele como faz todo o
amigo, todo o irmão ou irmã, quando se apercebe da dificuldade que vive a
pessoa amada.
Jesus é sensível às suas lágrimas amargas, mas exorta-as a não
consumirem o coração vendo-O assim maltratado, a não serem mais mulheres
lacrimantes, mas crentes! Pede uma dor compartilhada e não uma comiseração
estéril e lacrimosa. Não mais lamentações, mas vontade de renascer, olhar em
frente, avançar com fé e esperança para aquela aurora de luz que surgirá ainda
mais deslumbrante sobre a cabeça de quantos caminham rumo a Deus. Choremos
sobre nós mesmos, se ainda não acreditamos naquele Jesus que nos anunciou o
Reino da salvação. Choremos pelos nossos pecados não confessados.
Mais, choremos por aqueles homens que descarregam sobre as mulheres a
violência que têm dentro. Choremos pelas mulheres escravizadas pelo medo e a
exploração. Mas, não basta bater no peito e sentir comiseração. Jesus é mais
exigente. As mulheres devem ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas
como um dom inviolável para toda a humanidade. Para o crescimento dos nossos
filhos, em dignidade e esperança.
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
detém a mão de quem espanca as mulheres!
Levanta o coração
delas do abismo do desespero
quando se tornam presa de violência.
Visita o seu
choro, quando se encontram sozinhas.
E abre o nosso coração à partilha de cada
dor,
com sinceridade e fidelidade,
ultrapassando a compaixão natural,
para nos
tornarmos instrumentos de verdadeira libertação. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Eia, Mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac,
ut tecum lugeam.
IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez
Vencer a má
nostalgia
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Da Carta de São Paulo aos Romanos 8, 35.37
«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia,
a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos
mais do que vencedores, graças Àquele que nos amou».
São Paulo enumera as suas provações, mas sabe que, antes dele, passou
por elas Jesus, que, no caminho para o Gólgota, cai uma, duas, três vezes.
Destroçado pelas tribulações, a perseguição, a espada, oprimido pelo madeiro da
cruz. Exausto! Parece dizer, como nós em muitos momentos sombrios: Não
aguento mais!
É o grito dos perseguidos, dos moribundos, dos doentes terminais, dos
oprimidos sob o jugo.
Mas, em Jesus, é visível também sua força: «Embora [Deus] aflija, tem
compaixão» (Lam 3, 32). Indica-nos que, na aflição, há sempre a sua
consolação, um “mais além” a vislumbrar na esperança. Como se faz na poda das árvores,
com igual sabedoria procede o Pai Celeste precisamente com os ramos que
produzem fruto (cf. Jo 15, 8). Nunca o faz pela amputação em si, mas
sempre em prol de um reflorescimento. Como uma mãe, quando chega a sua hora:
está aflita, geme, sofre no parto. Mas sabe que são as dores de parto duma vida
nova, da primavera em flor, precisamente como na referida poda.
A contemplação de Jesus, caído mas capaz de levantar-Se, nos ajude a
saber vencer os isolamentos que o medo do amanhã imprime no nosso coração,
sobretudo neste tempo de crise. Superemos a má nostalgia do passado, a
comodidade do imobilismo, do «sempre se fez assim»! Aquele Jesus que
cambaleia e cai, mas depois Se levanta, é a certeza duma esperança, que,
nutrida pela oração intensa, nasce precisamente dentro da provação e não depois
da provação nem sem a provação. Seremos mais do que vencedores, graças ao seu
amor.
==========
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
erguei, Vo-lo pedimos, do pó o miserável,
levantai os
pobres da miséria, fazei-os sentar com os chefes do povo
e atribuí-lhes um
trono de glória.
Quebrai o arco dos fortes e revesti de vigor os fracos,
porque
só Vós nos fazeis ricos precisamente com a vossa pobreza. Amen.
(cf. 1 Sam
2, 4-8; 2 Cor 8, 9).
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.
Fac ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum,
ut
sibi complaceam.
X ESTAÇÃO
Jesus é despojado das vestes
A unidade e a
dignidade
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho de São João 19, 23-24
«Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa
d’Ele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A
túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então
os soldados disseram uns aos outros: “Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para
ver a quem tocará”. Assim se cumpriu a Escritura que diz: Repartiram entre eles
as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes”. E foi isto o que
fizeram os soldados».
Nem sequer um pedaço de pano deixaram a cobrir o corpo de Jesus.
Desnudaram-No. Não tinha manto nem túnica, não tinha veste alguma.
Desnudaram-No como acto de extrema humilhação. Só o cobria o sangue, que
borbotava das suas inúmeras feridas.
A túnica fica intacta: símbolo da unidade da Igreja, uma unidade que se
deve reencontrar num caminho paciente, numa paz artesanal, construída cada dia,
num tecido composto com os fios de ouro da fraternidade, na reconciliação e no
perdão recíproco.
Em Jesus inocente, desnudado e torturado, reconhecemos a dignidade
violada de todos os inocentes, especialmente dos humildes. Deus não impediu que
o seu corpo, nu, fosse exposto na cruz. Fê-lo para resgatar todo o abuso,
injustamente coberto, e demonstrar que Ele, Deus, está irrevogavelmente e sem
meios termos da parte das vítimas.
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ORAÇÃO
Senhor Jesus,
queremos voltar a ser inocentes como crianças,
para
podermos entrar no reino dos céus,
purificados das nossas imundícies e dos
nossos ídolos.
Tirai do nosso peito o coração de pedra das divisões,
que tornam
pouco credível a vossa Igreja.
Dai-nos um coração novo e um espírito novo,
para
vivermos segundo os vossos preceitos
e observarmos e pormos em prática as
vossas leis. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Sancta Mater, istud agas,
Crucifixi fige plagas
cordi
meo valide.
XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado na Cruz
No leito dos doentes
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Marcos 15, 24-28
«Depois, crucificaram-No e repartiram entre si as suas vestes,
tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. Eram umas nove horas da
manhã, quando O crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: “O rei dos
judeus”. Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua
esquerda. Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado
entre os malfeitores».
E crucificaram-No! A punição dos infames, dos traidores, dos escravos
rebeldes. Esta é a condenação reservada a Jesus, Senhor nosso: cravos ásperos,
dores pungentes, a angústia da mãe, a vergonha de ser agregado a dois bandidos,
as vestes divididas como despojo entre os soldados, as zombarias cruéis dos
transeuntes: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo (...), desça
da cruz e acreditaremos n’Ele» (Mt 27, 42).
E crucificaram-No! Jesus não desce, não abandona a cruz. Permanece,
profundamente obediente à vontade do Pai. Ama e perdoa.
Também hoje, como Jesus, muitos dos nossos irmãos e irmãs estão cravados
num leito de sofrimento, nos hospitais, nos lares de terceira idade, nas nossas
famílias. É o tempo da provação, com dias amargos de solidão e mesmo de
desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mt 27,
46).
A nossa mão nunca se levante para trespassar, mas sempre para aproximar,
consolar e acompanhar os doentes, levantando-os do seu leito de sofrimento. A
doença não pede licença. Chega sempre inesperada. Às vezes transtorna, limita
os horizontes, põe a dura prova a esperança. Amargo é o seu fel. Só se
encontrarmos junto de nós alguém que nos ouça, esteja ao nosso lado, se sente
no nosso leito..., só então a doença pode tornar-se uma grande escola de
sabedoria, encontro com o Deus Paciente. Quando alguém toma sobre si as nossas
enfermidades, por amor, a própria noite do sofrimento abre-se à luz pascal de
Cristo crucificado e ressuscitado. E aquilo que humanamente é uma condenação,
pode transformar-se numa oblação redentora, para bem das nossas comunidade e
famílias. A exemplo dos Santos.
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ORAÇÃO
Senhor Jesus,
não estejais longe de mim,
sentai-Vos no meu leito de
sofrimento e fazei-me companhia.
Não me deixeis sozinho, estendei a vossa mão e
erguei-me.
Eu creio que Vós sois o Amor,
e creio que a vossa vontade é a
expressão do vosso Amor;
por isso me entrego à vossa vontade,
pois confio no
vosso Amor. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati
pœnas
mecum divide.
XII ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz
O gemido das sete palavras
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São João 19, 28-30
«Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir
totalmente a Escritura, disse: “Tenho sede!” Havia ali uma vasilha cheia de
vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo,
chegaram-Lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: “Tudo está
consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito».
As sete palavras de Jesus na cruz são uma obra-prima de esperança.
Jesus, lentamente, com passos que também são os nossos, atravessa toda a
escuridão da noite, para Se abandonar, confiadamente, nos braços do Pai. É o
gemido dos moribundos, o grito dos desesperados, a prece dos falidos. É Jesus!
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mt 27, 46).
É o grito de Job, de todo o homem atingido pela desventura. E Deus cala-Se.
Cala-Se, porque a sua resposta está ali, na cruz: é Ele, Jesus, a resposta de
Deus, Palavra eterna encarnada por amor.
«Lembra-Te de mim...» (Lc 23, 42). A prece fraterna do
malfeitor, feito companheiro de dor, penetra no coração de Jesus, que nela
sente o eco da sua própria dor. E Jesus ouve aquela súplica: «Hoje estarás
comigo no Paraíso». Sempre redime a dor do outro, porque faz-nos sair de
nós mesmos.
«Mulher, eis aí o teu filho!» (Jo 19, 26). Trata-se de sua
Mãe, Maria, que se encontrava, juntamente com João, ao pé da cruz para afastar
o pavor. Enche-o de ternura e de esperança. Jesus já não Se sente sozinho. Como
sucede connosco, quando, junto ao leito do sofrimento, temos quem nos ame!
Fielmente. Até ao fim.
«Tenho sede» (Jo 19, 28). Como a criança pede de beber à
mãe; como faz o doente ardendo de febre... A de Jesus é a sede de todos os
sedentos de vida, de liberdade, de justiça. E é a sede do maior sedento – Deus
–, o Qual, infinitamente mais do que nós, tem sede da nossa salvação.
«Está consumado!» (Jo 19, 30). Tudo: cada palavra, cada
gesto, cada profecia, cada instante da vida de Jesus. A tapeçaria está
completa. As mil e uma cores do amor agora reluzem de beleza. Nada se perdeu.
Nada foi desperdiçado. Tudo se tornou amor. Tudo consumado para mim e para ti!
E, então, o próprio morrer tem um sentido.
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,
34). Agora, heroicamente, Jesus sai do pavor da morte. Porque, se vivemos no
amor gratuito, tudo é vida. O perdão renova, cura, transforma e consola! Cria
um povo novo. Põe fim às guerras.
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46).
Já não há o desespero do nada. Mas confiança plena nas suas mãos de Pai,
reclinando-Se no seu coração. Porque, em Deus, cada fracção se compõe,
finalmente, em unidade!
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ORAÇÃO
Ó Deus, que, na paixão de Cristo nosso Senhor,
nos libertastes da morte,
legado do antigo pecado,
transmitido a todo o género humano,
renovai-nos à
imagem do vosso Filho;
e, assim como levamos em nós, pelo nosso nascimento,
a
imagem do homem terrestre,
assim também, pela acção do vosso Espírito,
fazei
que levemos a imagem do homem celeste.
Por Cristo nosso Senhor. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum
tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum
da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.
Amen.
Vidit suum dulcem Natum
moriendo desolatum,
dum emisit
spiritum.
XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz
O amor é mais forte do que a
morte
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
e as mãos abertas,
ofereceis ao Pai, em sinal de oferenda sacerdotal,
a vítima
redentora do vosso Filho Jesus.
Revelai-nos a doçura daquele último fiel abraço
e
dai-nos a vossa consolação materna,
para que o sofrimento do dia a dia
nunca
interrompa a esperança da vida para além da morte. Amen.
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen
tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem
nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos
dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera
nos a malo. Amen.
Fac me tecum pie flere,
Crucifixo condolere,
donec ego
vixero.
XIV ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro
O jardim novo
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.
Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São João 19, 41-42
«No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um
jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado.
(…) Foi ali que puseram Jesus».
Aquele jardim no qual se encontra o túmulo onde Jesus
é sepultado, lembra outro jardim: o do Éden. Um jardim que, por causa da
desobediência, perdeu a sua beleza e tornou-se uma desolação, lugar de morte e
já não de vida.
Os ramos selvagens que nos impedem de respirar a
vontade de Deus, como o apego ao dinheiro, à soberba, ao desperdício da vida,
devem ser cortados e enxertados agora no madeiro da Cruz. É este o novo jardim:
a cruz plantada na terra!
Agora, de lá de cima, Jesus poderá voltar a trazer
tudo à vida. Uma vez regressado dos abismos infernais, onde Satanás encerrou um
grande número de almas, terá início a renovação de todas as coisas. Aquele
sepulcro representa o fim do homem velho. E também para nós, como fez para
Jesus, Deus não permitiu que os seus filhos fossem castigados pela morte
definitiva.
Na morte de Cristo, ruíram todos os tronos do mal,
fundados sobre a ganância e a dureza do coração. A morte desarma-nos, faz-nos
compreender que estamos sujeitos a uma existência terrena que tem um termo. Mas
é diante daquele corpo de Jesus, depositado no sepulcro, que tomamos
consciência de quem somos: criaturas que, para não morrer, precisam do seu
Criador.
O silêncio que envolve aquele jardim permite-nos ouvir
o sussurro de uma brisa suave: «Eu sou o Vivente, e estou convosco» (cf. Ex 3,
14). O véu do templo rasgou-se. Finalmente vemos o rosto de nosso Senhor. E
conhecemos em plenitude o seu nome: misericórdia e fidelidade, para nunca mais
ficarmos confundidos, nem mesmo diante da morte, porque o Filho de Deus caminha
livre no meio dos mortos (cf. Sal 88, 6 Vulg.).
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ORAÇÃO
Protegei-me, ó Deus! Em Vós me refugio.
Vós sois a
minha parte de herança e o meu cálice,
nas vossas mãos está a minha vida.
Tenho-Vos
sempre diante dos olhos, como meu Senhor,
estais à minha direita, não poderei
vacilar.
Por isso, se alegra o meu coração e exulta a minha alma,
e também o
meu corpo repousa em segurança.
Não abandoneis a minha vida na morada dos
mortos
nem deixeis que o vosso servo conheça a sepultura.
Mostrar-me-eis o
caminho da vida,
alegria plena na vossa presença,
doçura sem fim à vossa
direita. Amen.
(cf. Salmo 15).
Todos:
Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat
regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum
cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos
dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera
nos a malo. Amen.
Quando corpus morietur,
fac ut animæ donetur
Paradisi
gloria.
Amen.
ALOCUÇÃO DO SANTO PADRE
E BÊNÇÃO APOSTÓLICA
(MEDITAÇÕES
preparadas por Sua Excelência Reverendíssima
D. Giancarlo Maria Bregantini
Arcebispo de Campobasso-Boiano - net)
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