I
Pregação de Advento:
"Que
lugar ocupa Cristo no universo?"
Cidade do
Vaticano
O Papa
Francisco e seus colaboradores mais próximos participaram na manhã
de sexta-feira (15/12) da primeira pregação do Advento 2017, na Capela Redemptoris
Mater, no Vaticano. O pregador oficial do Vaticano, o capuchinho
Raniero Cantalamessa, é o autor dos sermões semanais, e este teve como tema
"Tudo foi criado por Ele e para Ele; Cristo e a criação”.
As meditações do
Advento deste ano têm como proposta recolocar a pessoa divina-humana de Cristo
no centro dos dois grandes componentes que, em conjunto, constituem "o
real", isto é: o cosmos e a história, o espaço e o tempo, a criação e o
homem. O objetivo final é colocar Cristo "no centro" de nossa vida
pessoal e de nossa visão de mundo, no centro das três virtudes teologais da fé,
da esperança e da caridade.
Cristo e
o cosmos, Criação e encarnação
Como
primeira meditação, Frei Cantalamessa sugeriu a reflexão sobre o relacionamento
entre Cristo e o cosmos. "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A
terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus
pairava sobre as águas" (Gn 1, 1-2). Segundo ele, esta
relação, entre criação e encarnação está bem expressa no Livro do Gênesis e na
encíclica Laudato si’.
“É
uma questão de saber qual lugar ocupa a pessoa de Cristo em todo o universo”,
afirmou, questionando: “Existe, então, algo que nos permita escapar do perigo
de fazer de Cristo "um intruso ou uma pessoa deslocada na esmagadora e
hostil imensidão do Universo"? Em outras palavras, Cristo tem algo a dizer
sobre o problema urgente da ecologia e da salvaguarda da criação, ou isso é
totalmente marginal a ele, como um problema que afeta quando muito a teologia,
mas não a cristologia?
O
Espírito Santo é a força misteriosa que impele a criação para a sua realização.
Ele que é “o princípio da criação das coisas”, é também o princípio da sua
evolução no tempo. Na verdade, isso não é outra coisa senão a criação que
continua. Em outras palavras, o Espírito Santo é aquele que, por sua natureza,
tende a fazer a criação passar do caos ao cosmos, a fazer disso algo bonito,
limpo: um "mundo" precisamente, de acordo com o significado original
desta palavra.
Como Cristo atua na criação
O
frei capuchinho levantou ainda uma questão: Cristo tem algo a dizer sobre os
problemas práticos que o desafio ecológico coloca para a humanidade e para a
Igreja? Em que sentido podemos dizer que Cristo, trabalhando através do seu
Espírito, é o elemento-chave para um ecologismo cristão saudável e realista?
“Penso
que sim”, respondeu Frei Cantalamessa. “Cristo desempenha um papel decisivo
também nos problemas concretos da proteção da criação, mas o faz indiretamente,
trabalhando no homem e - através do homem - na criação”. Acontece como no
início da criação: Deus cria o mundo e confia a custódia e a salvaguarda ao
homem.
Como agir global e localmente
Como
todas as coisas, também o cuidado da criação tem dois níveis: o nível global e
o nível local. Um slogan moderno convida a pensar globalmente, mas agir
localmente: Think
globally, act locally. Isso quer dizer que a conversão deve começar do
indivíduo, isto é, de cada um de nós. Francisco de Assis costumava dizer aos
seus frades: "Nunca fui um ladrão de esmolas, pedindo-as ou usando-as além
da necessidade. Peguei sempre menos do que eu precisava, para que os outros
pobres não fossem privados de sua parte; porque, de outra forma, seria
roubar".(14)
Hoje
esta regra poderia ter uma aplicação muito útil para o futuro da Terra. Também
nós devemos propor-nos: não ser ladrões de recursos, usando-os mais do que o
necessário e retirando-os, assim, daqueles que virão depois de nós. Em primeiro
lugar, nós que trabalhamos normalmente com o papel, poderíamos tentar não
contribuir com o desperdício enorme e desconsiderado que é feito desta
matéria-prima, privando assim a mãe terra de uma árvore menos.
Sobriedade e parcimônia, para que todos tenham
O
Natal é um forte chamado a esta sobriedade e parcimônia no uso das coisas. Quem
nos dá o exemplo é o próprio Criador que, tornando-se homem, se satisfez com um
estábulo para nascer. ..”
Todos
nós, crentes e não-crentes, somos chamados a comprometer-nos com o ideal da
sobriedade e do respeito pela criação, mas nós, cristãos, devemos fazê-lo por
uma razão e com uma intenção a mais e diferente. Se o Pai Celestial fez tudo
"por meio de Cristo e em vista de Cristo", também nós devemos tentar
fazer tudo assim: "por meio de Cristo e em vista de Cristo", isto é,
com sua graça e para a sua glória. Também o que fazemos neste dia.
Tradução
do original italiano feita por Thácio Siqueira
(radiovaticana)
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