-->
Vaticano,
20 Mai. 18 / 12:26 pm (ACI).-
O Papa Francisco refletiu sobre como o Espírito Santo atua nos corações dos que
o recebem e como elimina o medo deles.
Durante
a Missa por ocasião do Domingo de Pentecostes, o Santo Padre explicou que “o
Espírito liberta os espíritos paralisados pelo medo. Vence as resistências. A
quem se contenta com meias medidas, propõe ímpetos de doação. Dilata os corações
mesquinhos. Impele ao serviço quem se desleixa na comodidade. Faz caminhar quem
sente ter chegado. Faz sonhar quem sofre de tibieza. Esta é a mudança do
coração”.
A seguir
a homilia do Papa Francisco:
Na
Primeira Leitura, a vinda do Espírito Santo no Pentecostes é comparada a uma
«forte rajada de vento» (At 2, 2). Que nos diz esta imagem? A rajada de vento
sugere uma força grande, mas não finalizada em si mesma: é uma força que muda a
realidade. De facto, o vento traz mudança: correntes quentes quando está frio,
frescas quando está calor, chuva quando há secura... O mesmo, embora a nível
muito diferente, faz o Espírito Santo: Ele é a força divina que muda o mundo.
Assim no-lo recordou a Sequência: o Espírito é «descanso na luta, conforto no
pranto»; e, por isso, Lhe suplicamos: «Lavai nossas manchas, a aridez regai,
sarai os enfermos e a todos salvai». Ele penetra nas situações e transforma-as;
muda os corações e muda as vicissitudes.
Muda os corações. Jesus dissera aos seus Apóstolos: «Ides receber uma força, a
do Espírito Santo (…) e sereis minhas testemunhas» (At 1, 8). E assim
aconteceu: aqueles discípulos que antes viviam no medo, fechados em casa, mesmo
depois da ressurreição do Mestre, são transformados pelo Espírito e – como
Jesus anuncia no Evangelho de hoje – «dão testemunho d’Ele» (cf. Jo 15, 27). De
hesitantes, tornam-se corajosos e, partindo de Jerusalém, lançam-se até aos
confins do mundo. Medrosos quando Jesus estava entre eles, agora são ousados
sem Ele, porque o Espírito mudou os seus corações.
O
Espírito liberta os espíritos paralisados pelo medo. Vence as resistências. A
quem se contenta com meias medidas, propõe ímpetos de doação. Dilata os
corações mesquinhos. Impele ao serviço quem se desleixa na comodidade. Faz
caminhar quem sente ter chegado. Faz sonhar quem sofre de tibieza. Esta é a
mudança do coração. Muitos prometem estações de mudança, novos começos,
renovações portentosas, mas a experiência ensina que nenhuma tentativa terrena
de mudar as coisas satisfaz plenamente o coração do homem. A mudança do
Espírito é diferente: não revoluciona a vida ao
nosso redor, mas muda o nosso coração; não nos livra dum momento para o outro
dos problemas, mas liberta-nos dentro para os enfrentar; não nos dá tudo
imediatamente, mas faz-nos caminhar confiantes, sem nos deixar jamais cansar da
vida. O Espírito mantém jovem o coração. A juventude, apesar de todas as
tentativas para a prolongar, mais cedo ou mais tarde passa; ao contrário, é o
Espírito que impede o único envelhecimento maléfico: o interior. E como faz?
Renovando o coração, transformando-o de pecador em perdoado. Esta é a grande
mudança: de culpados que éramos, faz-nos justos e assim tudo muda, porque, de
escravos do pecado, tornamo-nos livres; de servos, filhos; de descartados,
preciosos; de desanimados, esperançosos. Deste modo, o Espírito Santo faz
renascer a alegria, assim faz florescer no coração a paz.
Por isso,
aprendamos hoje o que devemos fazer, quando precisamos duma verdadeira mudança.
E quem de nós não precisa? Sobretudo quando nos encontramos por terra, quando
nos debatemos sob o peso da vida, quando as nossas fraquezas nos oprimem,
quando avançar é difícil e amar parece impossível. Então servir-nos-ia um forte
«reconstituinte»: é Ele, a força de Deus. É Ele – como professamos no Credo -
«que dá a vida». Como nos faria bem tomar diariamente este reconstituinte de
vida! Dizer, ao acordar: «Vinde, Espírito Santo, vinde ao meu coração, vinde
acompanhar o meu dia!»
Depois
dos corações, o Espírito muda as vicissitudes. Como o vento sopra por todo o
lado, assim Ele chega às situações mesmo as mais imprevistas. Nos Atos dos
Apóstolos – um livro que necessitamos absolutamente de descobrir, onde é
protagonista o Espírito – assistimos a um dinamismo contínuo, rico de
surpresas. Quando os discípulos menos esperam, o Espírito envia-os aos pagãos.
Abre caminhos novos, como no caso do diácono Filipe. O Espírito impele-o por
uma estrada deserta, de Jerusalém a Gaza (como este nome soa doloroso, hoje!
Que o Espírito mude os corações e as vicissitudes e dê paz à Terra Santa!).
Naquela estrada, Filipe instrui o funcionário etíope e batiza-o; em seguida o
Espírito leva-o a Azoto, depois a Cesareia: sempre em novas situações, para
difundir a vida nova de Deus. Temos também Paulo, que, «obedecendo ao Espírito»
(At 20, 22), viaja até aos últimos confins do mundo então conhecido, levando o
Evangelho a populações que nunca tinha visto. Quando está presente o Espírito,
acontece sempre qualquer coisa; quando Ele sopra, nunca há bonança.
Quando a
vida das nossas comunidades atravessa períodos de «lassidão», em que se prefere
a comodidade doméstica à vida nova de Deus, é um mau sinal. Quer dizer que se
busca abrigo do vento do Espírito. Quando se vive para a autoconservação e não
se vai ao encontro dos distantes, não é um bom sinal. O Espírito sopra, mas nós
amainamos as velas. E todavia, muitas vezes O vimos realizar maravilhas! Muitas
vezes, precisamente nos períodos mais escuros, o Espírito suscitou a santidade
mais luminosa! Ele é a alma da Igreja,
sempre a reanima com a esperança, enche-a de alegria, fecunda-a de vida nova,
dá-lhe rebentos de vida. Como na família, quando nasce uma criança, esta
complica os horários, faz perder o sono, mas traz uma alegria que renova a
vida, impelindo-a para a frente, dilatando-a no amor. Do mesmo modo o Espírito
traz à Igreja um «sabor de infância». Realiza renascimentos contínuos. Reaviva
o amor do começo. O Espírito lembra à Igreja que, não obstante os seus séculos
de história, é sempre uma jovem de vinte anos, a Noiva jovem por quem está
perdidamente apaixonado o Senhor. Não nos cansemos, então, de convidar o
Espírito para os nossos ambientes, de O invocar antes das nossas atividades:
«Vinde, Espírito Santo!»
Trazerá a
sua força de mudança, uma força única que, por assim dizer, é ao mesmo tempo
centrípeta e centrífuga. É centrípeta, isto é, impele para o centro, porque
atua dentro do coração. Infunde unidade na fragmentação, paz nas aflições,
fortaleza nas tentações. Assim no-lo recorda Paulo na Segunda Leitura, quando
escreve que o fruto do Espírito é alegria, paz, fidelidade, autodomínio (cf.
Gal 5, 22). O Espírito dá a intimidade com Deus, a força interior para avançar.
Mas, ao mesmo tempo, Ele é força centrífuga, isto é, impele para o exterior.
Aquele que conduz ao centro é o Mesmo que envia para a periferia, rumo a toda a
periferia humana; Aquele que nos revela Deus impele-nos para os irmãos. Envia,
torna testemunhas e, para isso, infunde – escreve ainda Paulo – amor,
benignidade, bondade, mansidão. Somente no Espírito Consolador proferimos
palavras de vida e encorajamos verdadeiramente os outros. Quem vive segundo o
Espírito permanece nesta tensão espiritual: encontra-se inclinado conjuntamente
para Deus e para o mundo.
Peçamos-Lhe
que nos faça assim. Espírito Santo, rajada de vento de Deus, soprai sobre nós.
Soprai nos nossos corações e fazei-nos respirar a ternura do Pai. Soprai sobre
a Igreja e impeli-a até aos últimos confins, para que, levada por Vós, nada
mais leve senão Vós. Soprai sobre o mundo o suave calor da paz e a fresca
restauração da esperança. Vinde, Espírito Santo, mudai-nos por dentro e renovai
a face da terra. Amen.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário