quarta-feira, 25 de julho de 2018

A encíclica «Humanae vitae» cinquenta anos depois



24 de Julho de 2018

Depois de cinquenta anos da publicação, a encíclica Humanae vitae de Paulo VI apresenta-se aos olhos dos homens de hoje de maneira completamente diferente: em 1968 era um documento corajoso – e por conseguinte controverso – que ia contra o pensar da época, o da revolução sexual, a qual para se realizar eram fundamentais um anticoncepcional seguro e também a possibilidade de aborto. Era o tempo no qual os economistas falavam de «bomba humana», isto é, do perigo de superpopulação que ameaçava os países ricos e podia diminuir a sua prosperidade.
Portanto, duas forças poderosas uniram-se contra a encíclica: a utopia da felicidade, que a revolução sexual prometia a cada ser humano, e a riqueza, que teria sido a consequência lógica de uma diminuição da população em vasta escala.
Hoje, depois de cinquenta anos, vemos tudo de outro modo. Estas duas visões utópicas concretizaram-se, mas não deram os resultados esperados: nem a felicidade nem a riqueza, mas ao contrário novos e dramáticos problemas. Se a diminuição da população nos países avançados se está a confrontar com dificuldade com a chegada em massa de imigrantes necessárias mas ao mesmo tempo inaceitáveis para muitos, a partir do controle médico dos nascimentos teve início a invasão da procriação por parte da ciência, com resultados ambíguos, com frequência preocupantes e perigosos.
Hoje, que estamos a pagar todos os custos de uma brusca e grande diminuição da taxa de natalidade, que tantas mulheres depois de anos de anticoncepcionais químicos já não conseguem conceber um filho, damo-nos conta de que a Igreja tinha razão, que Paulo VI fora profético quando propôs uma regulamentação natural dos nascimentos que teria preservado a saúde das mulheres, a relação dos casais e a naturalidade da procriação. Hoje, que as jovens apaixonadas pela ecologia optam por métodos naturais de regulamentação da fertilidade, sem nem sequer saberem que existe a Humanae vitae, hoje, que os governos tentam realizar políticas que favoreçam a natalidade, devemos reler a encíclica com outros olhos. E em vez de a ver como a grande derrotada da Igreja diante da modernidade dominante, podemos reivindicar a sua lucidez profética ao compreender os perigos ínsitos nestas mudanças e felicitar-nos, nós católicos, que mais uma vez a Igreja não tenha caído na cilada aliciante das utopias do século XX, mas tenha sabido compreender imediatamente os seus limites e perigos.
Mas poucos conseguem: para muitos é ainda difícil afastar-se da velha contraposição entre progressistas e conservadores, no âmbito da qual a encíclica foi destruída, sem que se compreendesse o seu espírito crítico e força inovadora. Ainda agora, parece que ninguém se recorda que, pela primeira vez, um Papa aceitou a regulamentação dos nascimentos e exortou os médicos a pesquisarem métodos naturais eficazes.
Portanto, é muito importante conseguir ver a Humanae vitae com olhos novos, olhos de seres humanos que vivem no século XXI, já cientes da falência de tantas utopias e teorias económicas que foram propostas como infalíveis. Só assim podemos enfrentar os problemas da família de hoje, o novo papel das mulheres e as difíceis relações entre ética e ciência, cujas raízes estão – mesmo se em alguns aspetos inconscientemente – naquele texto do longínquo ano de 1968.
Lucetta Scaraffia
(osservatoreromano)

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