Começar por baixo
13
de Abril de 2019
«É preciso
começar por baixo». Dissera-o desde o início. No verão de 2013 o recém-eleito
Pontífice, respondendo a uma entrevista do diretor de La Civiltà
Cattolica esclarecera a sua visão da Igreja: «Vejo com clareza que
aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e
de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital
de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem
o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos
falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário
começar de baixo».
Não
permaneceram palavras mortas, vimo-las encarnadas diariamente nestes seis anos
de pontificado, até ao gesto da tarde de quinta-feira, 11 de abril, vimos
aquele “de baixo”, com o Papa inclinado por terra, com dificuldade, para beijar
os pés do presidente e dos vice-presidentes designados do Sudão do Sul. Uma
nação que é um campo de batalha, uma ferida aberta na terra martirizada da
África que precisa urgentemente de curas.
Beijar os pés,
talvez não exista um gesto mais humilde, mais próximo do humus, da terra,
aquele humus do qual nasce o humanus, a humanitas. Um gesto bíblico, vem em
mente o lava-pés, as lágrimas da pecadora sobre os pés de Jesus e sobretudo o
grito de exultação do profeta: «Que formosos são sobre os montes os pés do
mensageiro que anuncia a paz» (Isaías 52, 7) pois disto se trata,
da paz. A paz que é um processo que no gesto de quinta-feira conheceu uma
aceleração. O Papa não acredita em fáceis irenismos, sabe que este processo
comportará crises, atrasos e também lutas, que no entanto – disse aos líderes
convocados diante dele – devem acontecer «diante do povo, com as mãos juntas»,
só assim «como simples cidadãos vos tornareis Pais da Nação». Várias vezes
Francisco exortou os homens, sobretudo os jovens, a tornarem-se de meros
habitantes verdadeiros cidadãos, agora pede aos líderes políticos para se
tornarem de cidadãos Pais da Nação, é o “mas”, o “mais” da espiritualidade
inaciana. Mas, sempre, na concretude, sem ir atrás de ideais vagos, lançando-se
ao contrário nas dobras e nas chagas da história.
Isto originou
muitos gestos realizados por Francisco nestes seis anos, disto teve início a
prática das “sextas-feiras da misericórdia”, disto surgiu a imagem da Igreja
como hospital de campo.
É esta imagem
que L'Osservatore Romano pretende frisar criando, a partir do
presente número, uma página com este título que recolherá histórias que provêm
dos mundos nos quais a Igreja mostra o rosto misericordioso de quem, no espaço
e no tempo (a Igreja desde o início foi hospital de campo), se inclina para
curar as feridas da humanidade dolente, começando de baixo.
Andrea Monda
(osservatoreromano)
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