Texto integral da
quinta meditação do Frei Cantalamessa
"Deus escolheu aquele que é tolo para o mundo para
confundir os sábios" texto integral da quinta e última pregação do Frei
Raniero Cantalamessa, para a Quaresma 2019
João e
Paulo: dois olhares diferentes para o mistério
No Novo Testamento e na história da teologia há coisas que não
podem ser compreendidas sem levar em conta um fato fundamental: a existência de
duas abordagens diferentes, ainda que complementares, ao mistério de Cristo: a
de Paulo e a de João.
João vê o mistério de Cristo a partir da Encarnação. Jesus, o
Verbo feito carne, é para ele o supremo revelador do Deus vivo, aquele fora do
qual ninguém "vai ao Pai". A salvação consiste em reconhecer que
Jesus "veio na carne" (2 Jo 7) e em crer que ele "é o Filho de
Deus" (1 Jo 5,5); "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho
não tem a vida" (1 Jo 5,12). No centro de tudo, como podemos ver, está a
"pessoa" de Jesus homem-Deus.
A peculiaridade desta visão joanina é evidente se a compararmos
com a de Paulo. Para Paulo, o centro das atenções não é tanto a pessoa de
Cristo, entendida como realidade ontológica, mas a obra de
Cristo, isto é, seu mistério pascal de morte e ressurreição. A salvação não
consiste tanto em crer que Jesus é o Filho de Deus que veio na carne, mas em
crer em Jesus "que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa
justificação" (cf. Rm 4, 25). O acontecimento central não é a encarnação,
mas o mistério Pascal.
Seria um erro fatal ver nisto uma dicotomia na própria origem do
cristianismo. Quem lê o Novo Testamento sem preconceitos compreende que em João
a Encarnação está em vista do mistério pascal, quando Jesus finalmente
derramará o seu Espírito sobre a humanidade (Jo 7, 39), e compreende que para
Paulo o mistério pascal pressupõe e se baseia na Encarnação. Aquele que se fez
obediente até a morte e morte de cruz é aquele que "estava na forma de
Deus", igual a Deus (cf. Fl 2, 5 ss.). As fórmulas trinitárias nas quais
Jesus Cristo é mencionado juntamente com o Pai e o Espírito Santo são uma
confirmação de que, para Paulo, a obra de Cristo toma sentido da sua pessoa.
A diferente acentuação dos dois pólos do mistério reflete o
caminho histórico que a fé em Cristo fez depois da Páscoa. João reflete o
estágio mais avançado da fé em Cristo, aquele que ocorre no final, não no
início da redação dos escritos do Novo Testamento. Ele está no final de um
processo de ascensão às fontes do mistério de Cristo. Isto pode ser visto
observando onde os quatro evangelhos começam. Marcos começa seu evangelho a
partir do batismo de Jesus no Jordão; Mateus e Lucas, que vieram depois, dão um
passo atrás e começam a história de Jesus desde seu nascimento por Maria; João,
que escreve por último, dá um salto decisivo para trás e coloca o início da história
de Cristo não mais no tempo, mas na eternidade: "No princípio era o Verbo
e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" (Jo 1,1).
A razão para esta mudança de interesse é bem conhecida. A fé,
por sua vez, entrou em contato com a cultura grega que está mais interessada na
dimensão ontológica do que na histórica. O que conta para ela não é tanto
o desenvolvimento dos fatos, mas o seu fundamento (o archè).
A este fator ambiental foram acrescentados os primeiros sinais da heresia do
docetista que questionava a realidade da encarnação. O dogma cristológico das
duas naturezas e da unidade da pessoa de Cristo será quase inteiramente baseado
na perspectiva joanina do Logos feito carne.
É importante levar isso em conta para entender a diferença e a
complementaridade entre teologia oriental e teologia ocidental. As duas
perspectivas, a paulina e a joanina, embora fundindo-se juntas (como vemos no
Credo Niceno-Constantinopolitano), mantêm a sua acentuação diferente, como dois
rios que, fluindo um no outro, retêm por muito tempo a cor diferente das suas
águas. A teologia e a espiritualidade ortodoxa está baseada principalmente em
João; a ocidental (a protestante mais do que a católica) se fundamenta
principalmente em Paulo. Dentro da mesma tradição grega, a escola de Alexandria
é mais joanina, a da Antioquia mais paulina. Uma faz consistir a salvação na
divinização, a outra na imitação de Cristo.
A cruz,
sabedoria de Deus e poder de Deus
Agora eu gostaria de mostrar o que tudo isso significa para a
nossa busca pelo rosto do Deus vivo. No final das meditações do Advento, falei
do Cristo de João que, no momento em que se faz carne, introduz a vida eterna
no mundo. No final destas meditações quaresmais, gostaria de falar sobre o
Cristo de Paulo que muda o destino da humanidade na cruz. Escutemos
imediatamente o texto onde a perspectiva paulina sobre a qual queremos refletir
aparece mais clara:
"Uma vez que na sabedoria de Deus o mundo não o reconheceu
pela sabedoria, Deus quis servir-se da loucura da pregação para salvar os que
creem. Enquanto os judeus pedem sinais, e os gregos procuram sabedoria, nós
pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gregos,
mas poder e sabedoria de Deus para os chamados, quer judeus, quer gregos.
Porque o que se julga loucura de Deus é mais sábio do que os homens; e o que se
julga fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." (I Cor 1,21-25).
O Apóstolo fala de uma novidade na ação de Deus, quase uma
mudança de ritmo e de método. O mundo não foi capaz de reconhecer Deus no
esplendor e na sabedoria da criação; então ele decide revelar-se de maneira
oposta, através da impotência e da loucura da cruz. Não é possível ler esta
afirmação de Paulo sem recordar a palavra de Jesus: "Eu te louvo, Pai,
Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e
entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25).
Como interpretar esta inversão de valores? Lutero falava de uma
revelação de Deus "sub contraria specie", isto é, através do oposto
do que se esperaria dele[1]. Ele é poder e revela-se na impotência, é
sabedoria e revela-se na loucura, é glória e revela-se na ignomínia, é riqueza
e revela-se na pobreza.
A teologia dialética da primeira metade do século passado trouxe
esta visão às suas consequências extremas. Segundo Karl Barth, não há
continuidade entre o primeiro e o segundo modo de manifestação de Deus, mas sim
uma ruptura. Não é apenas uma sucessão temporal, como entre Antigo e Novo
Testamento, mas de uma oposição ontológica. Em outras palavras, a graça não
constrói sobre a natureza, mas contra ela; toca o mundo "como a tangente o
círculo", isto é, toca nela, mas sem penetrá-la como o fermento faz com a
massa. É a única diferença que, segundo o próprio Barth, o impedia de se chamar
católico; todas as outras lhe pareciam, em comparação, de pouca importância.
À analogia entis, ele opôs a analogia fidei, isto é, à
colaboração entre natureza e graça, a oposição entre a palavra de Deus e tudo o
que pertence ao mundo.
Bento XVI, na sua encíclica "Deus caritas est", mostra
as consequências que esta diferente visão tem em relação ao amor. Karl Barth
tinha escrito: "Onde entra em cena o amor cristão, tem início
imediatamente o conflito com o outro amor [o amor humano] esse conflito não
termina mais"[2]. Bento XVI escreve o contrário:
"Éros e ágape - amor ascendente e amor descendente - nunca
se deixam separar completamente uns dos outros [...]. A fé bíblica não constrói
um mundo paralelo nem um mundo oposto àquele fenômeno humano originário que é o
amor, mas acolhe todo o homem, intervindo na sua busca do amor para
purificá-la, ao mesmo tempo que lhe abre novas dimensões"[3].
A oposição radical entre natureza e graça, entre criação e
redenção, foi atenuada nos escritos posteriores do próprio Barth e agora não
encontra quase nenhum apoiador. Podemos, portanto, aproximar-nos com mais
serenidade da página do Apóstolo para compreender em que consiste realmente a
novidade da cruz de Cristo.
Na cruz, Deus se manifestou, sim, "sob o seu
contrário", mas sob o contrário do que os homens sempre pensaram de Deus,
não do que Deus é realmente. Deus é amor e na cruz registrou-se a manifestação
suprema do amor de Deus pelos homens. Em um certo sentido, só agora, na cruz,
Deus se revela "na própria espécie", no que lhe é próprio. O texto de
Primeiro Coríntios sobre o significado da cruz de Cristo deve ser lido à luz de
um outro texto de Paulo na Carta aos Romanos:
"Com efeito, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu no
momento oportuno pelos ímpios. Dificilmente alguém aceitaria morrer por um
justo; por um homem de bem talvez haja quem se anime a morrer. Mas Deus prova o
seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando éramos
ainda pecadores.” (Rm 5, 6-8).
O teólogo bizantino medieval Nicolau Cabásilas (1322-1392) nos
dá a melhor chave para entender qual é a novidade da cruz de Cristo. Escreve:
"Duas características revelam o amante e o fazem triunfar:
a primeira consiste em fazer o bem ao amado em tudo o que é possível, a segunda
em escolher sofrer por ele e sofrer coisas terríveis se necessário. Esta última
prova de amor muito superior à primeira não podia, no entanto, concordar com
Deus que é impassível a todo o mal [...]. Portanto, para nos dar a experiência
do seu grande amor e para mostrar que nos ama com um amor ilimitado, Deus
inventa a sua aniquilação, realiza-a e fá-lo de modo a tornar-se capaz de
sofrer e de sofrer coisas terríveis. Assim, com tudo o que Ele suporta, Deus
convence os homens do seu extraordinário amor por eles e fá-los voltar para
Si”[4].
Na criação Deus nos encheu de dons, na redenção Ele sofreu por
nós. A relação entre os dois é a de um amor de beneficência que se faz amor de
sofrimento.
Mas o que aconteceu de tão importante na cruz de Cristo que se
tornou a culminação da revelação do Deus vivo da Bíblia? A criatura humana
procura instintivamente Deus na linha do poder. O título que segue o nome de
Deus é quase sempre "onipotente". E eis que, abrindo o Evangelho,
somos convidados a contemplar a absoluta impotência de Deus na cruz. O Evangelho
revela que a verdadeira onipotência é a total impotência do Calvário. É preciso
pouco poder para se exibir, é preciso muito poder para se afastar, para se
apagar. O Deus cristão é este poder ilimitado de esconder a si mesmo!
A explicação última reside, portanto, na ligação inseparável que
existe entre amor e humildade. "Ele se humilhou tornando-se obediente até
a morte" (Fl 2,8). Ele se humilhou tornando-se dependente do objeto do seu
amor. O amor é humilde porque, pela sua natureza, cria dependência. Vemo-lo, no
pequeno, do que acontece quando duas pessoas humanas se apaixonam. O jovem que,
de acordo com o ritual tradicional, se ajoelha diante de uma menina para pedir
sua mão faz o ato mais radical de humildade da sua vida, torna-se um mendigo. É
como se dissesse: "Eu não me basto, preciso de ti para viver”. A diferença
essencial é que a dependência de Deus das suas criaturas nasce unicamente do
amor que tem por elas, o amor das criaturas entre si da necessidade que têm
umas pelas outras.
"A revelação de Deus como amor, escreveu Henri de Lubac,
obriga o mundo a rever todas as suas ideias sobre Deus”[5]. A teologia e a
exegese ainda estão longe de ter tirado todas as consequências disso, creio eu.
Uma dessas consequências é esta. Se Jesus sofre atrozmente na cruz, não o faz
principalmente para pagar a dívida infinita no lugar dos homens. (Na parábola
dos dois servos, em Lucas 7,41 ss, ele explicou antecipadamente que a dívida de
dez mil talentos é perdoada gratuitamente pelo rei!). Não, Jesus morre crucificado
para que o amor de Deus pudesse alcançar o homem no ponto mais remoto para o
qual ele se tinha lançado, rebelando-se contra ele, ou seja, a morte. Também a
morte é agora habitada pelo amor de Deus. No seu livro sobre Jesus de Nazaré,
Bento XVI, escreveu:
"A injustiça, o mal como realidade não pode ser
simplesmente ignorado, deixado para lá. Tem de ser eliminado, vencido. Esta é
verdadeira misericórdia. E que agora, dado que os homens não o podem fazer, o
próprio Deus o faz - esta é a bondade incondicional de Deus"[6].
O motivo tradicional da expiação dos pecados conserva, como
podemos ver, toda a sua validade, mas não é a razão última. O motivo último é
"a bondade incondicional de Deus", o seu amor.
Podemos identificar três etapas no caminho da fé pascal da
Igreja. No início há apenas dois fatos: "morreu, ressuscitou".
"Tu o crucificaste, Deus o ressuscitou", clama Pedro às multidões no
dia de Pentecostes (cf. At 2, 23-24). Numa segunda fase, faz-se a pergunta:
"Por que morreu e por que ressuscitou?" e a resposta é o kerigma:
"Morreu pelos nossos pecados; ressuscitou pela nossa justificação"
(cf. Rm 4, 25). Mais uma pergunta permanecia: "E por que morreu pelos
nossos pecados? O que o levou a fazê-lo?" A resposta (unânime, neste
ponto, de Paulo e de João) é: "Porque nos amou". "Me amou e se
entregou por mim", escreve Paulo (Gl 2, 20); "Tendo amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até o fim", escreve João (Jo 13, 1).
A nossa
resposta
Qual será a nossa resposta diante do mistério que contemplamos e
que a liturgia nos fará reviver na semana santa? A primeira e fundamental
resposta é a da fé. Não uma fé qualquer, mas a fé pela qual tomamos posse do
que Cristo conquistou para nós. A fé que “arrebata” o Reino dos Céus (Mt 11,
12). O Apóstolo conclui o texto do qual partimos com estas palavras:
"Cristo Jesus [...] para nós tornou-se sabedoria pela obra
de Deus, justiça, santificação e redenção, para que, como está escrito, os que
se gloriam se gloriem no Senhor" (1 Cor 1,30-31).
Aquilo que Cristo se tornou "para nós" - justiça,
santidade e redenção – nos pertence; é mais nosso do que se o tivéssemos feito
nós mesmos! Não me canso de repetir, a este respeito, o que São Bernardo
escreveu:
"Em verdade, tomo com confiança para mim (usurpo!) o
que me falta das entranhas do Senhor, porque transbordam de misericórdia [...]
O meu mérito, portanto, é a misericórdia do Senhor. Certamente não estarei
desprovido de mérito até que o Senhor não estiver desprovido de misericórdia.
Se as misericórdias do Senhor são muitas, também eu sou muito grande quanto aos
méritos [...] Será que vou cantar também a minha justiça? "Senhor, só me
lembrarei da tua justiça" (cf. Sl 71, 16). Em verdade, é também minha,
porque fizeste para mim a justiça que vem de Deus (cf. 1 Cor 1, 30)"[7].
Não deixemos passar a Páscoa sem ter feito, ou renovado, o golpe
audacioso da vida cristã que São Bernardo nos sugeriu. São Paulo exorta
frequentemente os cristãos a “se despojar do homem velho” e "revestirem-se
de Cristo"[8]. A imagem de despir e vestir não indica uma operação
puramente ascética, que consiste em abandonar certas "roupas" e
substituí-las por outras, isto é, abandonar vícios e adquirir virtudes. É acima
de tudo uma operação a ser feita através da fé. A pessoa se coloca diante do
crucifixo e, com um ato de fé, entrega-lhe todos os seus pecados, a própria
miséria passada e presente, como aquele que se despoja e joga seus trapos sujos
no fogo. Depois, reveste-se da justiça que Cristo adquiriu para nós; diz, como
o publicano no templo: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!, e volta
para casa como ele "justificado" (cf. Lc 18, 13-14). Isto seria
realmente um “fazer a Páscoa”, realizar a santa "passagem"!
Claro que isto não é tudo. Da apropriação, temos de
passar à imitação. Cristo - dizia o filósofo Kierkegaard aos seus
amigos luteranos - não é apenas "o dom de Deus a ser aceito pela fé";
é também "o modelo a ser imitado na vida"[9]. Gostaria de sublinhar
um ponto concreto sobre o qual tentar imitar a ação de Deus: o que Cabasilas
destacou com a distinção entre o amor de beneficência e o amor de sofrimento.
Na criação, Deus demonstrou o seu amor por nós, enchendo-nos de
dons: a natureza com a sua magnificência fora de nós, a inteligência, a memória,
a liberdade e todos os outros dons dentro de nós. Mas não lhe bastou. Em Cristo
quis sofrer conosco e por nós. Isto também acontece nas relações das criaturas
entre si. Quando um amor floresce, a pessoa sente imediatamente a necessidade
de manifestá-lo dando presentes à pessoa amada. É o que os namorados fazem
entre si. E sabemos como será o processo: uma vez casados, emergem os limites,
as dificuldades, as diferenças de caráter. Já não basta dar presentes; para
continuar e manter vivo o próprio matrimônio, é preciso aprender a
"carregar os fardos uns dos outros" (cf. Gl 6, 2), a sofrer uns pelos
outros e uns pelos outros. É assim que o eros, sem falhar em si
mesmo, torna-se também ágape, amor de doação e não só de busca.
Bento XVI, na encíclica citada, exprime-se assim:
Mesmo que inicialmente o eros seja sobretudo
anseio, ascensão - fascínio pela grande promessa de felicidade - à medida que
nos aproximamos do outro, faremos cada vez menos perguntas sobre nós mesmos,
buscaremos cada vez mais a felicidade do outro, nos preocuparemos cada vez mais
com ele, nos daremos e desejaremos "estar lá para" o outro. Assim, o
momento do ágape é inserido nele; caso contrário, o eros se
decompõe e também perde a sua própria natureza. Por outro lado, o homem não
pode sequer viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode sempre
apenas dar, também deve receber. Quem quiser dar amor, deve recebê-lo como um
dom.
A imitação da ação de Deus não diz respeito apenas ao matrimônio
e aos casados; num sentido diferente, diz respeito a todos nós, os consagrados,
antes de todos os outros. O progresso, no nosso caso, consiste em passar
de fazer tantas coisas por Cristo e pela Igreja para sofrer por Cristo e pela
Igreja. O que acontece no casamento acontece na vida religiosa, e não
surpreende que aconteça, pois é também um casamento, um casamento com Cristo.
Uma vez a Madre Teresa de Calcutá falava a um grupo de mulheres
e as exortava a sorrir para seus maridos. Uma delas opôs-se a ela: "Madre,
você fala assim porque não é casada e não conhece o meu marido”. Ela respondeu:
"Você está errada. Também sou casada e garanto-vos que, às vezes, também
não é fácil para mim sorrir para o meu Esposo". Depois da sua morte se
descobriu ao que a santa aludia com aquelas palavras. Seguindo o seu apelo para
servir os mais pobres dos pobres, ela se comprometeu a trabalhar com entusiasmo
pelo seu Esposo divino, realizando obras que surpreenderam o mundo inteiro.
Rapidamente, porém, a alegria e o entusiasmo se perderam, ela
mergulhou em uma noite escura que a acompanhou pelo resto da vida. Chegou a
duvidar se ainda tinha a fé, tanto assim que, quando, depois da sua morte,
foram publicados os seus diários íntimos, alguém, completamente ignorante das
coisas do espírito, chegou a falar de um "ateísmo de Madre Teresa". A
extraordinária santidade de Madre Teresa reside no fato de que ela viveu tudo
isso em absoluto silêncio com todos, escondendo a sua desolação interior sob um
sorriso constante no rosto. Nela vemos o que significa passar do fazer as coisas
por Deus, ao sofrer por Deus e pela Igreja.
É um horizonte muito difícil, mas felizmente Jesus na cruz não
só nos deu o exemplo deste novo tipo de amor, como também nos mereceu a graça
de o fazer nosso, de o apropriar através da fé e dos sacramentos. Por isso,
durante a Semana Santa, salte do nosso coração também o grito da Igreja: "Adoramus
te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum".
Nós Vos adoramos e Vos bendizemos, Senhor Jesus, porque pela Vossa santa cruz
remistes o mundo.
Santo Padre, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs: Boa e Santa
Páscoa!
(vaticannews)
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