(Continuação)
SURPRESA NO CORREIO
Ao olhar exterior, um dos grandes desafios da família Tourais é lidar com a incerteza financeira, sem que se torne no pensamento dominante. Não parece simples, já que apenas as viagens são pagas pelo Caminho. “Nunca nos tem faltado nada”, afirma Paula. “A verdade é que Deus se tem manifestado sempre que precisamos. Já aconteceu estarmos mesmo a chegar ao limite e irmos à caixa do correio e ter lá dinheiro, posto por alguém que não se identificou”, relata Lourenço.
A tranquilidade com que gerem o imprevisível está patente ao longo de toda a conversa. Percebe-se pelo tom das suas palavras eu gostavam bastante do que faziam, mas, a certa altura, sentiram ambos “uma interpelação” e partiram em missão.
Catecúmeno designa os cristãos antes do baptismo. E inspirou o nome da organização, que se tem expandido por todo o mundo, procurando aproximar-se da forma como os cristãos originais viveram. “A exigência do Caminho Neocatecumenal é a procura da coerência entre a vida e o Evangelho”, explica Lourenço Tourais. “Não quer dizer que sejamos perfeitos, mas há uma busca contínua, ao longo desta caminhada.” A sua iniciou-se há 28 anos, numa das primeiras comunidades portuguesas, na paróquia da Brandos (Amadora).
Não é um percurso fácil – bastante gente entra e desiste. “Mesmo dentro da Igreja é uma realidade difícil de compreender”, reconhece Lourenço. Muitas vezes “olhados de lado” por causa do grande número de filhos, entendem que a sexualidade só pode ser enquadrada “em comunhão com a vida” e, por isso, apenas aceitam o uso dos métodos naturais de contracepção. De certo modo, sentem-se uma minoria pouco tolerada. “Parece que há cada vez mais lugar para a diferença, mas existe muita intolerância em relação aos católicos”, avalia Paula Tourais.
Nada que os atormente. Nas áreas pelas quais são responsáveis – Açores e Madeira -, desafiam todas as pessoas a participarem em vários encontros. Fazem-nos através dos párocos locais e de cartazes que espalham pelas localidades. “Não impomos condições nenhumas: com fé, sem fé, casados, recasados, novos, velhos…”, enumera Lourenço. Só têm de ter, pelo menos, 13 anos. Ao fim de 15 encontros, juntam-se todos num retiro de fim-de-semana e dá-se o parto de uma nova comunidade. E o ciclo recomeça.
Para quem está de fora, pode não ser fácil entender estes católicos. Lourenço e Paula Tourais reconhecem que se pode ser feliz longe da fé, mas acreditam que há uma intensidade exclusiva de quem crê. “A plenitude só é possível em comunhão com Deus.”
(Conclusão)
(Enxerto do texto apresentado na Revista “Visão” 99, de 04.10/2008)
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