Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-me!” (Mc, 8,34)
Viajando pela Galileia, Jesus pergunta aos discípulos o
que pensam dele. Pedro, em nome de todos, confessa que Ele é o Cristo, o
Messias esperado há séculos. Para evitar toda possibilidade de equívoco, Jesus
explica claramente como pretende atuar a sua missão. Libertará, sim, o seu
povo, mas pagando em primeira pessoa: deverá sofrer muito, ser rejeitado, ser
morto e, três dias depois, ressuscitar. Pedro, como muitos outros, imaginava o
Messias como alguém que agiria como poder e força, vencendo os romanos e dando
à nação de Israel seu devido lugar no mundo. E recrimina Jesus que, por sua
vez, o repreende: “Não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens”
(cf 8,31-33).
Jesus retoma o caminho, dessa vez rumo a Jerusalém, onde se
cumprirá o seu destino de morte e ressurreição. Agora que seus discípulos sabem
que Ele irá para morrer, será que ainda querem segui-lo? As condições que Jesus
coloca são claras e exigentes:
Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me!”
Todos tinham ficado fascinados por Ele, o Mestre, enquanto
lançavam as redes para a pesca ou estavam à mesa dos impostos. Tinham
abandonado barcos, redes, a mesa, pai, casa, família, para segui-lo. Viram
milagres, ouviram palavras de sabedoria. Seguiram-no animados por alegria e
entusiasmo.
No entanto, seguir Jesus significava compartilhar
plenamente sua vida e seu destino: o insucesso e a hostilidade, até mesmo a
morte, e que tipo de morte! A mais dolorosa, reservada aos assassinos e aos
mais atrozes delinquentes. Uma morte que as Escrituras definiam “maldita” (cf
Dt 21,23). Até o nome “cruz” aterrorizava. É a primeira vez que essa palavra
aparece no Evangelho. Quem sabe que impressão ela deixou naqueles que o
escutavam.
Agora que Jesus afirmou claramente sua própria identidade, pode
mostrar com igual clareza a identidade do seu discípulo. Se o Mestre ama seu
povo até o ponto de morrer por ele, também o discípulo deverá deixar de lado
seu próprio modo de pensar, para compartilhar em tudo o caminho do Mestre, a
começar pela cruz.
Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me!”
Ser cristão significa ser outro Cristo: que haja “o mesmo
sentir e pensar que no Cristo Jesus”, que “humilhou-se, fazendo-se obediente
até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2,5.8), até poder dizer com Paulo: “Eu
vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20); não saber outra coisa “a
não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (1Cor 2,2). É Jesus que continua a
viver, a morrer, a ressuscitar em nós. Mas, como seguir Jesus de modo a se
tornar como o Mestre?
O primeiro passo é “renunciar a si mesmo”, ao próprio modo
de pensar: não pensar de acordo com os homens, mas de acordo com Deus. Às vezes
procuramos o sucesso fácil e imediato, olhamos com inveja a quem faz carreira,
sonhamos em ter uma família unida e em construir ao nosso redor uma sociedade
fraterna, uma comunidade cristã, mas sem ter de pagar por tudo isso um caro preço.
Renunciar a si mesmo significa entrar no modo de pensar que Jesus mostrou: a
lógica da semente que deve morrer para produzir frutos, da alegria maior que se
encontra ao dar do que ao receber, do oferecer a vida por amor, do tomar sobre
si a própria cruz:
Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me!”
A cruz de “cada dia”: uma doença, uma demissão, a
incapacidade de administrar problemas familiares ou profissionais, o insucesso
em criar relacionamentos autênticos, a sensação de impotência diante dos
grandes conflitos mundiais, a indignação diante dos constantes escândalos na
sociedade… Ninguém precisa procurar a cruz: ela vem quando menos esperamos e da
forma que nunca imaginamos. O convite de Jesus é “tomá-la”: não aceitá-la com
resignação, como um mal inevitável, não deixá-la cair sobre nós, esmagando-nos,
nem sequer suportá-la com atitude estoica e desprendida. Mas acolhê-la como
possibilidade de viver em comunhão com Ele inclusive naquela dor, porque, com a
sua cruz, Jesus tomou sobre seus ombros todas as nossas cruzes. Portanto, em
todo sofrimento podemos encontrar Jesus.
A esse respeito Igino Giordani considera que a cruz “pesa
menos se Jesus nos faz as vezes de Cireneu”. E pesa ainda menos, continua, se a
carregarmos juntos: “Uma cruz carregada por uma criatura, no fim esmaga;
carregada juntamente por várias criaturas tendo Jesus no meio, ou seja, tomando
Jesus por Cireneu, torna-se leve: jugo suave”.
Portanto, tomar a cruz, sabendo que Ele a carrega conosco, é
relação, é pertencer a Jesus até à plena comunhão com Ele, até nos
transformarmos em “outros Ele”. É assim que seguimos Jesus e nos tornamos
verdadeiros discípulos. Então a cruz será também para nós “força de Deus” (cf
1Cor 1,18), caminho de ressurreição. Em cada fraqueza encontraremos a força, em
cada escuridão, a luz, em cada morte, a vida, porque encontraremos Jesus.
Fabio Ciardi
(Focolares)
Sem comentários:
Enviar um comentário