sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Na escola arriscando a vida

Em Alepo as crianças pagam o preço mais alto da guerra
É sem precedentes a crise humanitária que se consome na cidade síria de Alepo, à mercê dos combates entre soldados do governo e rebeldes. Quem paga o preço mais alto são os civis, sobretudo as crianças e as mulheres. «Cada vez mais, as crianças são envolvidas numa guerra violenta que ameaça gravemente a sua vida e o seu futuro; hoje, em muitas partes da Síria, para continuar o seu percurso escolar, as crianças são obrigadas a correr riscos enormes para a sua incolumidade, como estudar nos porões para se proteger dos ataques aéreos, evitar os tiros dos franco-atiradores para ir à escola ou atravessar perigosos checkpoints a fim de chegar a tempo para fazer os exames», explica Helle Thorning-Schmidt, diretor-geral da organização internacional Save the Children.
E recorda os ataques cada vez mais frequentes a Alepo e a Idlib, na Síria norte-ocidental, aos hospitais e às escolas. Somente na última semana, seis escolas geridas por Ongs locais foram atingidas pelos bombardeamentos nessa área. Em três ataques houve vítimas entre as crianças e o pessoal escolar, enquanto quatro edifícios foram gravemente danificados. Nos conflitos — dizem fontes de imprensa — uma menina foi morta por uma bomba de barril a poucas centenas de metros de uma escola em Idlib. Os bombardeamentos contra uma escola na área rural de Alepo causaram o ferimento de dois meninos e de uma menina de dez anos, que ainda se encontra no hospital, onde sofreu uma longa cirurgia ocular. Durante outro bombardeamento, o zelador de uma instituição foi gravemente ferido por uma granada lançada no pátio da escola, enquanto as crianças estavam na sala de aula. Outro ataque atingiu em cheio um edifício escolar, destruindo completamente os seus andares superiores. «Drones, helicópteros e aviões de combate continuam a sobrevoar a área durante o dia inteiro», diz o empregado de uma Ong citada pelas agências internacionais. «Na escola as crianças estão muito assustadas e os seus pais têm medo de os mandar para as aulas, porque não raro os ataques aéreos têm como alvo áreas próximas dos edifícios escolares», referiram as mesmas fontes.
São mais de dois milhões os civis que pagam todos os dias as consequências dos combates em Alepo. As condições são críticas, tanto na parte oriental, controlada pelos rebeldes, como na parte ocidental, nas mãos das tropas de Assad. Falta tudo: remédios, comida, serviços higiénicos, água corrente e assistência médica. Os combates continuam em toda a cidade, não obstante a iniciativa russa de uma suspensão de três horas para permitir a distribuição de ajudas. Segundo os analistas, esta medida é insuficiente.
Entretanto, ontem a Onu começou uma investigação sobre o possível ataque com gás tóxico em Alepo, denunciado pelos rebeldes, e que teriam sido feitos pelas forças do governo. O enviado especial da Onu na Síria, Staffan de Mistura, afirmou que se o ataque com o cloro fosse confirmado, representaria um «crime de guerra».



(osservatoreromano)

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