Missa em Santa Marta
Na missa matutina na Casa Santa Marta, Francisco exortou os
leigos e os pastores a refletirem sobre o sentido de serem cristãos, exortando
a estarem “abertos” às surpresas de Deus.
Giada Aquilino – Cidade do Vaticano
Um convite a ser
“cristãos de verdade”, cristãos que “não têm medo de sujar as mãos, as vestes,
quando se fazem próximos do outro. Foi o que disse Francisco na homilia da
Missa celebrada na manhã de segunda-feira (08/10) na capela da Casa Santa
Marta.
Inspirando-se no
Evangelho de Lucas, o Pontífice refletiu sobre os “seis personagens” da
parábola narrada por Jesus ao doutor da Lei que, para colocá-lo “à prova”, lhe
pergunta: “Quem é meu próximo?”. E cita os assaltantes, o ferido, o sacerdote,
o levita, o Samaritano e o dono da pensão.
Não ir além, mas parar e ter compaixão
Os assaltantes que
espancaram o homem, deixando-o quase morto; o sacerdote que, quando viu o
ferido, “seguiu adiante”, sem levar em consideração a própria missão, pensando
somente na iminente “hora da Missa”. Assim fez também o levita, “homem de
cultura da Lei”.
Francisco exortou a
refletir precisamente sobre o “seguir adiante”, um conceito que – afirma -
“deve entrar hoje no nosso coração”. O Papa observou que se trata de dois
“funcionários” que “coerentes” com suas funções, disseram: “não cabe a mim”
socorrer o ferido. Ao invés, quem “não segue adiante” é o Samaritano, “que era
um pecador, um excomungado do povo de Israel”: o “mais pecador – destacou o Papa
– sentiu compaixão”. Talvez, era “um comerciante que estava em viagem para
negócios”, e mesmo assim:
Não olhou o relógio, não
pensou no sangue. “Chegou perto dele, desceu do burro, fez curativos,
derramando óleo e vinho nas feridas”. Sujou as mãos, sujou as vestes. “Depois
colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão”, todo sujo… de
sangue… E assim tinha que chegar. “E cuidou dele”. Não disse: “Mas eu o deixo
aqui, chamem os médicos que venham. Eu vou embora, fiz minha parte”. Não. “Cuidou
dele”, como dizendo: “Agora você é meu, não por posse, mas para servir”. Ele
não era um funcionário, era um homem com coração, um homem com o coração
aberto.
Abertos às surpresas de
Deus
O Pontífice falou sobre o
dono da pensão que “ficou estupefato” ao ver um “estrangeiro”, um “pagão,
porque não era do povo de Israel”, que parou para socorrer o homem, pagando
“duas moedas de prata” e prometendo que quando voltasse pagaria o que tivesse
sido gasto a mais. A dúvida de não receber o devido insinuou-se no dono da
pensão, acrescentou o Papa, “a dúvida em relação a uma pessoa que vive um
testemunho, uma pessoa aberta às surpresas de Deus”, como o Samaritano.
Os dois não eram
funcionários. “Você é cristão? Você é cristã? Sim, vou à missa aos domingos e
procuro fazer o que é justo, menos fofocar, porque eu gosto de fofocar, mas o
resto eu faço bem”. Você é aberto? Você é aberto às surpresas de Deus ou é um
cristão funcionário, fechado? “Eu faço isso, vou à missa ao domingo, comungo,
me confesso uma vez por ano, faço isso, faço aquilo. Cumpro as obrigações”.
Estes são cristãos funcionários, que não são abertos às surpresas de Deus, que
sabem muito de Deus, mas não encontram Deus. Aqueles que nunca se surpreendem
diante de um testemunho. Pelo contrário: são incapazes de testemunhar.
Jesus e sua Igreja
O Papa exortou a todos,
“leigos e pastores”, a se perguntar se somos cristãos abertos ao que o Senhor
nos dá “todos os dias”, “às surpresas de Deus que muitas vezes, como o
Samaritano, nos colocam em dificuldade”, ou se somos cristãos funcionários,
fazendo o que devemos, sentindo-nos “em ordem” e sendo forçados às mesmas
regras. Alguns teólogos antigos, recordou Francisco, diziam que nesta passagem
está contido “todo o Evangelho”.
Cada um de nós é o homem
ali ferido, e o Samaritano é Jesus. Ele curou nossas feridas. Fez-se próximo.
Cuidou de nós. Pagou por nós. Ele disse à sua Igreja: “Se precisar de mais,
você paga, pois eu voltarei e pagarei”. Pensem bem: nesta passagem há todo o
Evangelho.
(vaticannews)
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