Missa do Papa em Santa
Marta
Temos necessidade de «cristãos de acção e de verdade»,
cuja vida se «funda sobre a rocha de Jesus», e não de «cristãos de palavras»,
superficiais como os gnósticos ou severos como os pelagianos, disse o Papa
Francisco retomando um tema que lhe agrada, na missa celebrada na manhã de
quinta-feira, 27 de Junho, na capela da Domus Sanctae Marthae. Concelebraram,
entre outros, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e
presidente da Conferência episcopal brasileira. Entre os presentes, estavam os
funcionários da Direcção de Saúde e Higiene do Governatorado do Estado da
Cidade do Vaticano, guiados pelo director Patrizio Polisca.
A reflexão do Papa, inspirada como de costume pelas leituras do
dia, teve início em particular a partir do trecho do evangelho de Mateus (7,
21-29), no qual – explicou o Pontífice – «o Senhor nos fala do nosso
fundamento, a base da nossa vida cristã» e diz-nos que este «fundamento é a
rocha». Isto significa que «devemos construir a casa», ou seja, a nossa vida,
sobre a rocha que é Cristo. Quando são Paulo fala sobre a rocha no
deserto refere-se a Cristo, frisou o Papa. Ele é a única rocha «que
pode dar-nos segurança», a ponto que «somos convidados a construir a nossa vida
sobre esta rocha de Cristo. Não sobre outra».
Neste trecho evangélico, recordou o Santo Padre, Jesus
menciona também quantos crêem que podem construir a sua vida só sobre as
palavras: «Nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos céus».
Mas, advertiu o Papa, Jesus propõe já no início que se edifique «a nossa casa
sobre a rocha». A partir deste ensinamento, o Papa Francisco indicou «na
história da Igreja duas classes de cristãos»: os primeiros, que devem ser
evitados, são os «cristãos de palavras», isto é, os que se limitam a repetir:
“Senhor, Senhor!”; a segunda categoria, os autênticos, são «cristãos de acção,
de verdade». A este propósito evidenciou que desde sempre «houve a tentação de
viver o nosso cristianismo fora da rocha que é Cristo; o único que nos dá a
liberdade de dizer “Pai” a Deus; o único que nos ampara nos momentos difíceis».
O próprio Jesus afirma-o com exemplos concretos: «Cai a chuva, transbordam os
rios, sopram os ventos», mas se «houver a rocha, haverá segurança». Ao
contrário, quando só há palavras «as palavras voam, não servem». Na prática,
acabamos na «tentação destes “cristãos de palavras”: um cristianismo sem Jesus,
sem Cristo». Infelizmente «isto aconteceu e acontece hoje na Igreja».
Trata-se de uma tentação que está presente na
história da Igreja de maneira muito diversificada e deu vida a várias
categorias de «cristãos sem Cristo» entre as quais o Papa Francisco citou em
particular duas. A do «cristão light» que «em vez de amar a rocha, ama as
palavras bonitas, as coisas belas» e se dirige «para um “deus spray”, um “deus
pessoal”», com atitudes de «superficialidade e leviandade». Esta tentação
existe ainda hoje: «cristãos superficiais que acreditam em Deus», mas não em
Jesus Cristo, «aquele que nos dá fundamento». O Papa definiu-os «gnósticos
modernos», os que cedem à tentação de um cristianismo fluido.
À segunda categoria pertencem «os que acreditam que a vida
cristã» deve ser «vivida com muita seriedade» a ponto que acabam por
«confundir solidez e firmeza com severidade». O Santo Padre definiu-os
«cristãos intransigentes», que «pensam que para ser cristão é necessário estar
de luto», levando «sempre tudo muito a sério», atentos aos formalismos,
como faziam os escribas e fariseus do tempo de Jesus. Para o Pontífice, são
cristãos para os quais «tudo é sério. São os pelagianos de hoje, os que crêem
na firmeza da fé». E estão convictos de que «a salvação consiste no modo
como fazemos as coisas»: «devem ser feitas a sério», sem alegria. O Pontífice
comentou: «Existem muitos. Não são cristãos, camuflam-se de cristãos».
Enfim, duas categorias de crentes – gnósticos e pelagianos
– que «não conhecem Jesus, não sabem quem é o Senhor, o que é a rocha,
não têm a liberdade dos cristãos». E, consequentemente, «não sentem alegria».
Os primeiros «sentem uma certa “alegria”, superficial»; a segunda categoria
«vive num velório contínuo, mas não sabem o que é a alegria cristã, não sabem
gozar a vida que Jesus nos oferece, porque não sabem falar com ele». Por isso
não encontram em Jesus «a firmeza que a sua presença oferece». E além de não
terem alegria, não «têm também liberdade».
Os primeiros, prosseguiu, «são escravos da
superficialidade», os outros «são escravos da intransigência» e «não são
livres», porque «na sua vida o Espírito Santo não encontra lugar». De resto, «é
o Espírito que nos dá a liberdade».
Portanto, eis o ensinamento hodierno do Senhor segundo o
Papa Francisco: um convite a «construir a nossa vida cristã sobre a rocha que
nos dá liberdade» e que nos «faz ir em frente com a alegria no seu caminho, nas
suas propostas». Eis a dúplice exortação a pedir «ao Senhor a graça de não nos
tornar “cristãos de palavras”, quer com a “superficialidade gnóstica”, quer com
a “intransigência pelagiana”, para podermos ao contrário «ir em frente na vida
como cristãos firmes sobre a rocha que é Jesus Cristo e com a liberdade que nos
dá o Espírito Santo». Uma graça que devemos pedir «de modo especial a Nossa
Senhora. Ela – concluiu – sabe o que significa estar firme sobre a
rocha».
(L´Osservatore Romano)
Sem comentários:
Enviar um comentário