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“Deus proverá”
“Quando chegamos no limite, Deus chega
com providência.
O limite de Moisés era o mar… Deus o
abriu! O limite de Abraão era a morte de Isaac, Deus proveu o Cordeiro. O
limite de Ana era a esterilidade, Deus lhe deu um filho… O limite de Cristo era
a morte, Deus o ressuscitou…
Qual é o seu limite?
Que Deus abençoe sua vida abundantemente
e que aquilo que o limita seja só o instrumento para o milagre de Deus na sua
vida!
Não olhe para o problema como o fim, mas
como a oportunidade da manifestação da Glória de Deus!”
Os nossos filhos não crescem?
Posso finalmente dizer que tive o pior
fim-de-semana da minha vida.
Tudo começou quando fui fumar o habitual
cigarro à janela, mas não como uma pessoa normal o faria, como eu até aqui
costumava fazer - embora hajam varandas aqui em casa, sempre tive aquele gosto
em sair pela janela do quarto e sentar-me no parapeito da varanda. Mas o que
outrora parecia perigoso deixaria de ser o maior perigo de todos - o de cair.
Ao regressar para o quarto, novamente pela janela, falava ao telemóvel com uma
grande amiga dos tempos do infantário quando, por esperteza saloia, decido
colocar-me em pé dentro da janela. Escusado é dizer que não correu bem; afinal,
embora pequeno, consigo ser maior que a janela e, como seria de esperar, dei
uma boa cabeçada no topo dela. E foi aqui que deu início o pior fim-de-semana
da minha vida.
Tive tempo de desligar o telemóvel e ir
ter com a minha mãe a correr. Aí, comecei então a sentir-me mal e fui obrigado
a sentar-me numa cadeira e colocar a cabeça para baixo. Vieram-me os calores,
talvez de nervosismo, talvez não, e em menos de 2 segundos ali estava eu de
tronco nu, agora a escorrer suor como se duma piscina tivesse saído. Entre
apalpões na cabeça e tentativas de me fazer beber sumo lá se decidiu levar-me
ao hospital.
Fui muito bem tratado. Colocaram-me numa
maca, visto que não consiga estar mais de 1 minuto em pé sem ter enjoos e
sentir-me terrivelmente mal, e então a coisa acalmou. A partir daí podia
finalmente abstrair-me do que me rodeava e dormir; estava em paz. Neste momento
eram cerca de 20h. Lá me enfiaram entretanto numa máquina que, pelos movimentos
que fez, mais parecia outra coisa que realmente uma máquina de Raio-X. Eram
cerca de 00:00 quando se dirigiu a nós a médica, que entretanto já recebera
centenas de visitas da minha mãe a fazer pressão, com vista a informar-nos que
a TAC tinha sido inconclusiva - desconfiavam de alguma coisa, mas não havia
certezas de nada. Lá conseguiram, assim, fazer-me passar uma noite internado no
hospital. Não foi mau de todo, já tinha deitado olho a todas as médicas
jeitosas que lá passavam, mas com o trocar dos turnos lá apareceram umas
médicas novas - é pena nenhuma me ter deitado o olho a mim.
Foi então, enquanto a minha mãe ia a
casa buscar-me o carregador do Android e alguma coisa para comer que não
bolacha maria, que fui à Internet ler sobre pancadas na cabeça, sobre TACs, e
tudo o que na altura me pareceu de certa forma relacionado. Façamos agora uma
introespecção - eu, que já nada de hipocondríaco tenho, imaginemos agora com
acesso à Internet, não terei pensado em nada menos do que o que escrever como
despedida. Entrei em pânico, em autêntico pânico. Tanta coisa para dizer, tanta
coisa deixada por fazer, e eu ali numa maca de Hospital. Esqueçamos agora os
meus dramas e crises de sobriedade e olhemos sobre aqueles que me rodeavam,
porque é por eles que vos estou a escrever. A maioria daquela sala era sem
dúvida composta por idosos, e foi exactamente esses que eu mais observei e
tentei perceber. Lembro-me perfeitamente de uma senhora que, entre trocas e
baldrocas, acabou deitada a meu lado e, cerca de meia hora depois, consequência
da vontade dos médicos, já teria sido arrumada noutro sítio completamente
diferente. Entre vários olhares que trocámos, vi-lhe a amargura de quem sabe
que já começa a aproximar-se a Hora, vi-lhe o sofrimento de quem sente viver os
seus últimos momentos incapacitado numa maca de hospital; vi-lhe a alegria de
quem percebeu não estar só. Não estava só; porque no fundo todos os que ali
estávamos nos apoiávamos de forma incondicional - não interessava qual o
género, a cor, a raça, a orientação; nada. Ali, aos olhos de cada um de nós,
erámos todos iguais. Ainda me lembro de quando tinha acabado de chegar à sala
amarela ver dois vizinhos a apresentarem-se e trocarem algumas palavras sobre
os seus filhos e a sua vida, até ser um deles também movido para outro lugar da
sala. Aqueles médicos quase que um curso de organização devem ter que tirar
tendo em conta o número de trocas de lugar que cada maca ali levava. A história
da senhora que vivia num lar - essa sim é de contar. Vejam lá, tinham-na
colocado, nas últimas duas noites, numa jaula que lá tinham (no lar) e cujas
dimensões e características a senhora não sabia bem explicar. Tinham-na
colocado lá sem qualquer acesso a comida ou bebida. Mas isto foi só a resposta
a uma simples pergunta de uma médica que ali passara - talvez a mais jeitosa do
serviço. A cada pergunta que se seguia a história complicava-se cada vez mais,
chegando a uma altura em que eu próprio me questionei se estaria ou não a
alucinar - porque a médica cada vez mais parecia acreditar na história da
senhora. Talvez tenha tido também formação em teatro.
Resta então dizer que lá fiz no sábado
de manhã a segunda TAC e que acreditavam, desta vez, estar tudo bem. Lá me
fizeram a questão mais importante de todas: "queres ficar cá sobre
observação ou ir para casa?" e lá me pus a andar.
Tive o pior fim-de-semana da minha vida,
mas impressionantemente não o quero esquecer. Quero lembrar-me todos os dias do
quanto me custou imaginar que teria que me despedir de todos vós. Como diz o
anúncio da Fidelidade, que de resto vos convido a ver (https://www.youtube.com/watch?v=NGanV5ozLao),
é sempre mais difícil para quem cá fica.
(Do meu sobrinho-neto)
(In facebook)
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