Omissão e indiferença,
o grande pecado contra
os pobres
Celebrações
Cidade
do Vaticano (RV) - A omissão é também o grande pecado contra os pobres. Esta
assume um nome preciso: indiferença. É dizer: “Não me diz respeito, não é
problema meu, é culpa da sociedade”. É também indignar-se com o mal mas sem
fazer nada. Foi o que disse, incisivo, o Santo Padre na missa deste Domingo, 1º
Dia Mundial dos Pobres, celebrada na Basílica de São Pedro com a participação
de 4 mil pessoas entre pobres e necessitados, acompanhados por associações de
voluntários provenientes não somente de Roma e da região do Lácio, mas também
de várias dioceses do mundo.
Dia Mundial
dos Pobres, sinal concreto do Ano Jubilar dedicado à misericórdia
Instituído
pelo Papa Francisco na conclusão do Ano Santo extraordinário da Misericórdia,
este Dia quer ser sinal concreto do Ano Jubilar, que se celebra no XXXIII
Domingo do Tempo Comum.
Tendo partido do Evangelho
dominical, que nos traz a parábola dos talentos, o Pontífice afirmou-nos que somos
destinatários dos talentos de Deus, “cada qual conforme a sua capacidade”. E
Deus, aos olhos de Quem nenhum filho pode ser descartado, confia uma missão a
cada um.
“Vemos, na parábola, que a cada
servo são dados talentos para os multiplicar. Mas enquanto os dois primeiros
realizam a missão, o terceiro servo não faz render os talentos; restitui apenas
o que recebera”, recordou o Papa ilustrando a parábola contida na página do
Evangelho pouco antes proclamado.
Em que o terceiro servo
desagradou ao Senhor? – perguntou Francisco. “Diria, numa palavra (talvez caída
um pouco em desuso mas muito atual), a omissão. O seu mal foi o de não fazer o
bem,” disse o Papa ressaltando que “muitas vezes também nos parece não ter
feito nada de mal e com isso nos contentamos, presumindo que somos bons e
justos”.
Não fazer nada de mal, não
basta
“Assim, porém – continuou –
corremos o risco de nos comportar como o servo mau: também ele não fez nada de
mal, não estragou o talento, aliás, guardou-o bem na terra. Mas, não fazer nada
de mal, não basta.”
“O servo mau, uma vez recebido
o talento do Senhor que gosta de partilhar e multiplicar os dons, guardou-o
zelosamente, contentou-se com salvaguardá-lo; ora, não é fiel a Deus quem se
preocupa apenas em conservar, em manter os tesouros do passado, mas, como diz a
parábola, aquele que junta novos talentos é que é verdadeiramente ‘fiel’,
porque tem a mesma mentalidade de Deus e não fica imóvel: arrisca por amor,
joga a vida pelos outros, não aceita deixar tudo como está. Descuida só uma
coisa: o próprio interesse. Esta é a única omissão justa”, explicou Francisco.
“E a omissão é também o grande
pecado contra os pobres. Aqui assume um nome preciso: indiferença. Esta é
dizer: ‘Não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade’. É
passar ao largo quando o irmão está em necessidade, é mudar de canal, logo que
um problema sério nos indispõe, é também indignar-se com o mal mas sem fazer
nada. Deus, porém, não nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se
fizemos o bem.”
Como podemos então, concretamente,
agradar a Deus? – perguntou novamente Francisco.
Quando se quer agradar a uma
pessoa querida, por exemplo dando-lhe uma prenda, lembrou o Papa, “é preciso
primeiro conhecer os seus gostos, para evitar que a prenda seja mais do agrado
de quem a dá do que da pessoa que a recebe”.
Os gostos do Senhor
encontramo-los no Evangelho
Quando queremos oferecer algo
ao Senhor, os seus gostos encontramo-los no Evangelho. Logo a seguir ao texto
que ouvimos, Ele diz: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40), prosseguiu.
“Estes irmãos mais pequeninos,
seus prediletos, são o faminto e o doente, o forasteiro e o recluso, o pobre e
o abandonado, o doente sem ajuda e o necessitado descartado. Nos seus rostos,
podemos imaginar impresso o rosto d’Ele; nos seus lábios, mesmo se fechados
pela dor, as palavras d’Ele: ‘Este é o meu corpo’ (Mt 26, 26).”
“No pobre, Jesus bate à porta
do nosso coração e, sedento, pede-nos amor. Quando vencemos a indiferença e, em
nome de Jesus, nos gastamos pelos seus irmãos mais pequeninos, somos seus
amigos bons e fiéis, com quem Ele gosta de Se demorar”, acrescentou.
Verdadeira fortaleza: mãos
operosas e estendidas aos pobres
“Deus tem em grande apreço, Ele
aprecia o comportamento que ouvimos na primeira Leitura: o da ‘mulher forte’
que ‘estende os braços ao infeliz, e abre a mão ao indigente’. Esta é a
verdadeira fortaleza: não punhos cerrados e braços cruzados, mas mãos operosas
e estendidas aos pobres, à carne ferida do Senhor”, disse ainda.
Nos pobres manifesta-se a
presença de Jesus, que, sendo rico, se fez pobre, lembrou o Santo Padre.
“Por isso neles, na sua
fragilidade, há uma ‘força salvífica’. E, se aos olhos do mundo têm pouco
valor, são eles que nos abrem o caminho para o Céu, são o nosso ‘passaporte
para o paraíso’. Para nós, é um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa
verdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles
o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre
significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais.”
O que conta verdadeiramente:
amar a Deus e ao próximo
E isso nos fará bem:
aproximar-nos de quem é mais pobre do que nós, tocará a nossa vida.
Lembrar-nos-á aquilo que conta verdadeiramente: amar a Deus e ao próximo. Só
isto dura para sempre, tudo o resto passa; por isso, o que investimos em amor
permanece, o resto desaparece.
“Hoje podemos perguntar-nos:
‘Para mim, o que conta na vida? Onde invisto?’ Na riqueza que passa, da qual o
mundo nunca se sacia, ou na riqueza de Deus, que dá a vida eterna? Diante de
nós, está esta escolha: viver para ter na terra ou dar para ganhar o Céu. Com
efeito, para o Céu, não vale o que se tem, mas o que se dá, e ‘quem amontoa
para si não é rico em relação a Deus’. Então não busquemos o supérfluo para
nós, mas o bem para os outros, e nada de precioso nos faltará”, concluiu o Pontífice.
Ao término da missa, 1.500
pobres e necessitados foram acolhidos na Sala Paulo VI, no Vaticano, para
almoçar com o Papa Francisco.
(RL)
(radiovaticana)
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