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A
bem-aventurança da sede
Pe. Tolentino fez a décima e última
meditação dos Exercícios Espirituais em Ariccia. Papa regressa hoje ao
Vaticano.
Cidade do Vaticano –
O
Papa Francisco e seus colaboradores concluíram na manhã de sexta-feira (23/02)
os Exercícios Espirituais de Quaresma. O Pontífice deixa Ariccia e sua chegada
ao Vaticano está prevista para o início da tarde.
O
retiro quaresmal se concluiu com a décima meditação do Padre José Tolentino de Mendonça, que
foi dedicada ao tema “A bem-aventurança da sede”.
As
bem-aventuranças são mais do que uma lei, uma norma codificada, disse o
sacerdote português. São uma configuração da vida, um verdadeiro chamado
existencial. Além disso, são o autorretrato de Jesus: pobre em espírito, manso
e misericordioso, sedento e homem de paz, faminto de justiça e com a capacidade
de acolher a todos, vibrante de alegria ao testemunhar a ação do Pai nos
últimos e nos pequeninos.
Deus
tem sede de que a vida das suas criaturas seja uma vida de bem-aventuranças.
Deus não desiste em dizer que toda vida – a nossa vida – é amada e beata. Esta
é a sede de Deus.
Não domesticar o Evangelho
Por
outro lado, o que fizemos nós do Evangelho das Bem-aventuranças? Como as
anunciamos?, questiona Pe. Toletino. É tão fácil criar barreiras ao invés de
pontes. Nosso coração está sempre pronto a se tornar arma de combate.
Esta
atitude defensiva é um perigo para a Igreja, que deve se recordar que não é um
clube exclusivo, restrito, feliz na medida em que exclui. É um hospital de
campanha. E quando não vive a tensão de encruzilhada da humanidade, deve se
perguntar se não estamos domesticando o Evangelho de Jesus.
Para
o Pe. Toletino, é urgente redescobrir a bem-aventurança da sede, pois não há
nada pior do que estar saciado de Deus. Ter ido à igreja, ter rezado, não nos
isenta dos encontros fundamentais com as extraordinárias surpresas de Deus.
Talvez tenhamos um imagem errada da vida cristã: fiel não é quem está saciado
de Deus, mas quem tem fome e sede de Deus. A experiência de fé não resolve a
sede, mas a amplifica, dilata o nosso desejo, intensifica a nossa busca.
Devemos nos reconciliar com a nossa sede repetindo-nos: A minha sede é a minha
bem-aventurança.
Escuta, honestidade e abertura
Neste
percurso, o sacerdote português propõe a figura de Maria para nos inspirar. De
modo especial, o seu diálogo com o anjo.
Primeiro: Maria é mulher de escuta. Deixa-se visitar, mantém as portas abertas do coração e da vida. Não raramente, afirma ele, vivemos uma cotidianidade
autística, tão envolvidos na nossa cápsula que até um anjo de Deus encontraria dificuldade de entrar: nada mais nos surpreende. Mas um anjo pode nos visitar somente quando temos o coração desarmado, quando estamos dispostos a acolher o inesperado. Maria nos ensina justamente a hospitalidade da vida. Em segundo lugar, Maria é uma mulher honesta. Quando lhe é anunciado a sua maternidade, ela simplesmente pergunta: mas como, se não conheço homem?
Primeiro: Maria é mulher de escuta. Deixa-se visitar, mantém as portas abertas do coração e da vida. Não raramente, afirma ele, vivemos uma cotidianidade
autística, tão envolvidos na nossa cápsula que até um anjo de Deus encontraria dificuldade de entrar: nada mais nos surpreende. Mas um anjo pode nos visitar somente quando temos o coração desarmado, quando estamos dispostos a acolher o inesperado. Maria nos ensina justamente a hospitalidade da vida. Em segundo lugar, Maria é uma mulher honesta. Quando lhe é anunciado a sua maternidade, ela simplesmente pergunta: mas como, se não conheço homem?
Deus
não se manipula, não é um ornamento da nossa prática religiosa. E é importante
fazer perguntas a Ele porque também Ele faz perguntas a nós. E é importante
abrir o nosso coração. Maria tem uma honestidade sem subterfúgios. Com a sua
pergunta, é como se dissesse: Senhor, a minha condição é esta. Ela é clara com
Deus
Por
fim, Maria descobre no encontro com o anjo que a sua vida está a serviço de um
projeto maior, de uma vida maior, que não se limita ao perímetro ideal da
felicidade que provavelmente ela projetou para si. O Senhor a chama a fazer-se
cúmplice da gestação do futuro de Deus. Lhe pede para acreditar na sede. Lhe
diz: a tua sede está a serviço de uma sede maior. E Maria responde: eis a serva
do Senhor. A Igreja se torna crível quando é serva do coração de Deus, quando
se coloca a serviço para saciar a sede do homem.
O olhar de mãe
A
coisa no mundo mais semelhante aos olhos de Deus são os olhos de uma mãe, que
são “raios X” infalíveis. Não se detém nas aparências, mas penetram
profundamente no íntimo da vida, interpretando e respeitando com delicadeza o
segredo. O olhar de uma mãe humaniza o filho.
O
teólogo von Balthasar dizia que sem a mariologia o cristianismo corre o risco
de se desumanizar. A Igreja sem torna sem alma. Em cada época, a Igreja deve
aprender de Maria a compaixão, a ternura e a cura que a sede de cada ser humano
requer.
(vaticannews)
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