sábado, 21 de novembro de 2015

Paris tentou sair na sexta-feira à noite, mas é “demasiado cedo”



As discotecas e bares, o primeiro-ministro francês, o cantor Charles Aznavour ou o ex-ministro da Cultura Jack Lang pediram que a noite em que se assinalou uma semana sobre os atentados de Paris fosse de regresso – às ruas, às esplanadas, à dança e à vida contra o terrorismo. Mas sexta-feira muitos parisienses responderam que era demasiado cedo. Concentraram-se, sim, alguns de cerveja na mão e música a ressoar, mas a maioria esteve nas ruas sobretudo para chorar as vítimas nos memoriais da cidade.
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“Esta noite, fiel a si mesmo, o povo de Paris está nas ruas e não cede #Pariséumafesta”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro francês, Manuel Vals, na sexta-feira. Uma semana após os atentados que mataram 130 pessoas e deixaram mais de 350 feridas, Valls unia a sua voz às de Charles Aznavour, da actriz e realizadora Sylvie Testud, do ex-ministro Jack Lang, da radialista Anne Sinclair ou do Instituto do Mundo Árabe para apelar aos parisienses e aos franceses que “façam barulho e luz para que eles compreendam que perderam”.
Num texto publicado na edição francesa do Huffington Post e subscrito por dezenas de personalidades da Cultura, cidadãos e instituições, pedia-se que às 21h20 de sexta-feira dia 20 de Novembro, “uma semana depois, acendamos luzes e velas e ocupemos os nossos cafés, a nossa rua, os nossos lugares, as nossas cidades, façamos ouvir as músicas que eles odeiam”. As velas saíram à rua, de facto, como mostram as imagens recolhidas pelos fotojornalistas e partilhadas por muitos nas redes sociais, mas como escreve na manhã deste sábado o diário francês Le Monde, “a festa não se faz sob uma palavra de ordem”, “por mais generosa e entusiástica que seja”. “Demasiado cedo”, repetem os parisienses nas ruas, ouvidos pelos jornais.
Um símbolo da paz fundido com a silhueta da Torre Eiffel fez-se de velas frente ao restaurante La Belle Équipe, onde morreram pessoas de todas as nacionalidades há uma semana. Lá estiveram dezenas de pessoas, sobretudo em silêncio e de semblante comovido frente a uma muralha de flores. Frente ao Le Carillon e ao restaurante Le Petit Cambodge, onde outras 15 pessoas morreram e na última semana se acumula um tapete de flores e tributos, continuam a depositar-se velas. “Calmamente”, como escreve o Libération. Um papel afixado num poste com a mesma imagem usada após o ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo reivindica, ao invés de “Je suis Charlie”, “Je suis en Terrace” – “estou na esplanada”.
Na Rue Bichat, prossegue o diário francês, bebe-se um copo de vinho. As flores e as velas frente à pizaria Casa Nostra, onde morreram cinco pessoas, são também visitadas por algumas pessoas. O Libération relata, no seu périplo de sexta-feira à noite, que no boulevard Richard-Lenoir, perto da Rua Fontaine au Roi, onde o terrorismo também fez vítimas há uma semana, se ouve ruído. Um camião, o de Manu “Daddy Reggae”, solta Bob Marley. Um grupo dança na rua frente ao La Dernière.
Durante a semana, um grupo de clubes nocturnos, bares e discotecas parisienses juntou-se num movimento: “Dançar mais do que nunca”. O objectivo era que, na última semana, dias passados sobre a perda de “colegas e muitos amigos” da “grande família da noite parisiense”, a cidade reclamasse o seu “modo de ver a vida” que os atentados visaram. “A música, a dança, a partilha, os encontros, a ligação social”, escrevem no Facebook, que o Estado Islâmico quis destruir. “Isso não vai acontecer”, dizem, mesmo carregando o luto, rejeitando “viver no medo”. Com medidas de segurança reforçadas, reabriram porque “nada nem ninguém impedirá Paris de dançar”.
Uma semana depois em Paris queriam contra o terror dançar, dançar. O Libération descreve vários bares cheios no bairro do Bataclan, o 11.º, e arredores. Mas era demasiado cedo para muitos, especialmente em torno dos locais atingidos pelos atentados. Frente à sala de concertos Le Bataclan, onde a maioria das vítimas se concentrou, alvejadas durante o concerto dos Eagles of Death Metal, Jack Lang juntou-se ao colectivo de jovens #maindanslamain (mão na mão, mãos dadas em tradução livre) porque querem “resistência”, cita o Le Monde. Esperavam muita gente, mas nem tanta compareceu.

21/11/2015 - 10:34
(www.publico.pt)

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