As discotecas e bares, o
primeiro-ministro francês, o cantor Charles Aznavour ou o ex-ministro da
Cultura Jack Lang pediram que a noite em que se assinalou uma semana sobre os atentados
de Paris fosse de regresso – às ruas, às esplanadas, à dança e à
vida contra o terrorismo. Mas sexta-feira muitos parisienses responderam que
era demasiado cedo. Concentraram-se, sim, alguns de cerveja na mão e música a
ressoar, mas a maioria esteve nas ruas sobretudo para chorar as vítimas nos
memoriais da cidade.
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“Esta noite, fiel a si mesmo, o povo de
Paris está nas ruas e não cede #Pariséumafesta”, escreveu no Twitter o
primeiro-ministro francês, Manuel Vals, na sexta-feira. Uma semana após os
atentados que mataram 130 pessoas e deixaram mais de 350 feridas,
Valls unia a sua voz às de Charles Aznavour, da actriz e realizadora Sylvie
Testud, do ex-ministro Jack Lang, da radialista Anne Sinclair ou do Instituto
do Mundo Árabe para apelar aos parisienses e aos franceses que “façam barulho e
luz para que eles compreendam que perderam”.
Num texto publicado na edição francesa do Huffington
Post e subscrito por dezenas de personalidades da Cultura, cidadãos e
instituições, pedia-se que às 21h20 de sexta-feira dia 20 de Novembro, “uma
semana depois, acendamos luzes e velas e ocupemos os nossos cafés, a nossa rua,
os nossos lugares, as nossas cidades, façamos ouvir as músicas que eles
odeiam”. As velas saíram à rua, de facto, como mostram as imagens recolhidas
pelos fotojornalistas e partilhadas por muitos nas redes sociais, mas como
escreve na manhã deste sábado o diário francês Le Monde, “a festa não se
faz sob uma palavra de ordem”, “por mais generosa e entusiástica que seja”.
“Demasiado cedo”, repetem os parisienses nas ruas, ouvidos pelos jornais.
Um símbolo da paz fundido com a silhueta
da Torre Eiffel fez-se de velas frente ao restaurante La Belle Équipe, onde
morreram pessoas de todas as nacionalidades há uma semana. Lá estiveram dezenas
de pessoas, sobretudo em silêncio e de semblante comovido frente a uma muralha
de flores. Frente ao Le Carillon e ao restaurante Le Petit Cambodge, onde
outras 15 pessoas morreram e na última semana se acumula um tapete de flores e
tributos, continuam a depositar-se velas. “Calmamente”, como escreve o Libération.
Um papel afixado num poste com a mesma imagem usada após o ataque ao semanário
satírico Charlie Hebdo reivindica, ao invés de “Je suis Charlie”, “Je
suis en Terrace” – “estou na esplanada”.
Na Rue Bichat, prossegue o diário
francês, bebe-se um copo de vinho. As flores e as velas frente à pizaria Casa
Nostra, onde morreram cinco pessoas, são também visitadas por algumas pessoas.
O Libération relata, no seu périplo de sexta-feira à noite, que no boulevard
Richard-Lenoir, perto da Rua Fontaine au Roi, onde o terrorismo também fez
vítimas há uma semana, se ouve ruído. Um camião, o de Manu “Daddy Reggae”,
solta Bob Marley. Um grupo dança na rua frente ao La Dernière.
Durante a semana, um grupo de clubes
nocturnos, bares e discotecas parisienses juntou-se num movimento: “Dançar mais
do que nunca”. O objectivo era que, na última semana, dias passados sobre a
perda de “colegas e muitos amigos” da “grande família da noite parisiense”, a
cidade reclamasse o seu “modo de ver a vida” que os atentados visaram. “A
música, a dança, a partilha, os encontros, a ligação social”, escrevem no
Facebook, que o Estado Islâmico quis destruir. “Isso não vai acontecer”, dizem,
mesmo carregando o luto, rejeitando “viver no medo”. Com medidas de segurança
reforçadas, reabriram porque “nada nem ninguém impedirá Paris de dançar”.
Uma semana depois em Paris queriam
contra o terror dançar, dançar. O Libération descreve vários bares
cheios no bairro do Bataclan, o 11.º, e arredores. Mas era demasiado cedo para
muitos, especialmente em torno dos locais atingidos pelos atentados. Frente à
sala de concertos Le Bataclan, onde a maioria das vítimas se concentrou, alvejadas
durante o concerto dos Eagles of Death Metal, Jack Lang juntou-se ao
colectivo de jovens #maindanslamain (mão na mão, mãos dadas em tradução livre)
porque querem “resistência”, cita o Le Monde. Esperavam muita gente, mas
nem tanta compareceu.
21/11/2015 - 10:34
(www.publico.pt)
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