quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Queda de Governo não mereceu muitas primeiras páginas na Europa




A queda do Executivo português não chegou a muitas primeiras páginas na imprensa europeia mas uma leitura aos jornais ingleses, alemães, franceses e espanhóis permite encontrar muitos adjectivos para noticiar a sessão de terça-feira no Parlamento, em que uma moção de rejeição do programa do Governo PSD/CDS votada favoravelmente pelos partidos de esquerda o transformou no Governo mais curto de sempre. Uma sessão "sem precedentes", "histórica" ou "improvável coligação" foram apenas alguns desses adjectivos.
"O moderado Partido Socialista, de centro-esquerda, formou uma aliança sem precedentes com o mais pequeno Partido Comunista e o radical Bloco de Esquerda, ligado ao partido anti-austeridade da Grécia, Syriza, e usaram um voto parlamentar sobre políticas para forçar o Governo a demitir-se na terça-feira", lê-se no britânico Guardian. Porém, ao contrário da Grécia, onde o Syriza é o principal partido do Governo, sublinha o diário, os comunistas e os bloquistas só despenharão um papel de apoio.
O Daily Telegraph considera esta aliança "histórica" e antevê um confronto com a União Europeia, porque a posição anti-austeridade dos partidos de esquerda levou a prometer reverter algumas das políticas do Governo de centro-direita de Passos Coelho e de Paulo Portas (ligação PSD/CDS). "Apesar de ter formalmente saído do programa de assistência, a economia mantém-se sobrecarregada com a maior dívida na Europa. Os seus antigos credores em Bruxelas e o FMI avisaram que o país precisa de continuar um programa rígido de cortes da despesa e aumento de impostos para tapar o buraco nas suas finanças públicas", refere o diário. Caso o Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, seja "forçado a fazer uma inversão de marcha dramática" e indigitar o líder do PS, António Costa, para primeiro-ministro, acrescenta: "Portugal juntar-se-ia à Grécia e tornar-se-ia na segunda economia do sul da zona euro com forças da extrema-esquerda no poder".
O Daily Mail noticia na sua página de Internet que a "aliança inesperada" da esquerda prometeu aliviar a austeridade. "A queda do Governo foi uma derrota política para a estratégia de austeridade da zona euro de 19 países, que exigiu reformas económicas a Portugal após o resgate, que foram reflectidas nas políticas rejeitadas", afirma.
O The Times destaca o papel de Catarina Martins, do BE, que está prestes a desempenhar um papel de protagonista no poder em Portugal, depois de uma carreira de actriz.  A deputada bloquista "formou uma aliança surpresa com os partidos socialista e comunista para afastar o Governo conservador interino de Pedro Passos Coelho, que só ficou no poder 11 dias". O jornal também refere os receios manifestados de que a recuperação económica portuguesa seja posta em causa "e alguns receiam que possa ir pelo mesmo caminho que a Grécia, que precisou de três resgates desde 2010".
Na edição impressa do Financial Times, este cenário é negado por Mário Centeno, o economista que contribuiu para o programa eleitoral do PS e considerado o mais forte candidato a ministro das Finanças.  "Vamos ficar no caminho da consolidação fiscal. Não é a direcção que combatemos, mas a velocidade", vincou, em entrevista ao diário financeiro britânico.
Na imprensa alemã, as primeiras páginas foram reservadas maioritariamente às notícias sobre a morte do antigo chanceler alemão Helmut Schmidt, mas a queda da coligação CDS/PP foi amplamente noticiada
O Die Welt publicou um artigo intitulado "Oposição de esquerda derruba Governo português de centro-direita". O texto, sem chamada de capa, é ilustrado com uma foto do aperto de mão entre Costa e Passos Coelho, após a votação da moção no Parlamento português, que contou com um acordo de incidência parlamentar entre PS, PCP e BE.
O diário Bild, o jornal com maior circulação na Alemanha, destaca na primeira página "o derrube" do Governo português, escrevendo que "a oposição de partidos de esquerda derrubou o Governo de centro-direita de Passos Coelho através de uma moção de censura". O matutino faz ainda referência à "resistência contra os planos de poupança" como a razão do voto no parlamento nacional.



(publico.pt)


Sem comentários: