Reflexões
de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém do Pará
Ressoa no mundo inteiro a convocação do
Jubileu da Misericórdia, inspiração dada por Deus ao Papa Francisco. Na
Solenidade da Imaculada Conceição, aquela que foi preservada do pecado
original, em previsão dos méritos de Cristo, seu Filho, abriram-se portas de
reconciliação e de paz para todas as pessoas de boa vontade que desejarem
declarar umas às outras um propósito de perdão, cancelamento das dívidas,
descanso para a terra martirizada pelos conflitos existentes em toda parte.
"Misericordiosos como o Pai" é o convite que se espalha, para que as
pessoas busquem o abraço do perdão, oferecido largamente a todos!
A celebração do jubileu tem origem
judaica. Seis dias de trabalho, um sábado de repouso; seis anos de trabalho, um
ano sabático; sete vezes sete anos, um ano inteiro, no qual os escravos eram
libertados, restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido,
perdoavam-se as dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se
descansava. "Contarás sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos,
o que dará quarenta e nove anos. Então farás soar a trombeta no dia dez do
sétimo mês. No dia do Grande Perdão fareis soar a trombeta por todo o país.
Declarareis santo o quinquagésimo ano e proclamareis a libertação para todos os
habitantes do país. Será para vós um jubileu. Cada um de vós poderá retornar à sua
propriedade e voltar para sua família. O quinquagésimo ano será para vós um ano
de jubileu: não semeareis, nem colhereis o que a terra produzir
espontaneamente, nem fareis a colheita da videira não podada. Porque é o ano de
jubileu, sagrado para vós" (Lv 25, 8-12). A palavra jubileu se inspira no
termo hebraico "yobel", que faz alusão ao chifre do cordeiro que
servia como instrumento. Jubileu também remete ao latim "jubilum" que
representa um grito de alegria.
O Jubileu foi proclamado como convocação
para que as pessoas se convertam em seu interior e se reconciliem com Deus, por
meio da penitência, da oração, da caridade, dos sacramentos e da peregrinação,
“porque a vida é uma peregrinação e o homem é um peregrino” (Misericordiae
vultus 14). "Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia.
É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação.
Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade.
Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.
Misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê
com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é o
caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos
amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado (Misericordiae vultus
2). É a convicção clara do Papa Francisco, que nos quer respondendo à maldade e
à violência com a escolha da bondade e da misericórdia. É o princípio
evangélico posto em prática: "Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e
dente por dente!’ Ora, eu vos digo: não ofereçais resistência ao malvado! Pelo
contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda!
Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o
manto! Se alguém te forçar a acompanhá-lo por um quilômetro, caminha dois com
ele! Dá a quem te pedir, e não vires as costas a quem te pede emprestado"
(Mt 5, 38-42). Diante de guerras, vinganças, retaliações, violência e corrupção
de todo tipo, nossa resposta de cristãos será diferente! Perdoar,
reconciliar-se, derramar o unguento da misericórdia!
Todas as Catedrais e Santuários
espalhados pelo mundo inteiro abrirão nos próximos dias a "Porta da
Misericórdia", para expressar a peregrinação, saída de nós mesmos, rumo à
casa do Senhor. Na Arquidiocese de Belém, a Porta da Misericórdia será aberta
na Catedral da Sé às 9 horas do dia 13 de dezembro e na Basílica de Nazaré às
18 horas do dia 20 de dezembro. Ao passar pela Porta Santa, cada pessoa deve
levar consigo as disposições necessárias à recepção da Indulgência Plenária, a
saber: a Confissão Sacramental, rejeitando todos os pecados, receber a Sagrada
Eucaristia, rezar pelo Papa o Credo, o Pai-nosso e a Ave-Maria. Além da
Catedral e da Basílica, todos os enfermos e idosos poderão receber a
indulgência, quando cumpridas as condições, em sua própria casa. Para os
presos, a porta da misericórdia é a porta da própria cela. E na Arquidiocese de
Belém, quem visitar a "Fazenda da Esperança" durante o Ano Santo também
poderá receber os benefícios do Ano Santo da Misericórdia.
"Indulgência é a remissão, diante
de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o
fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por
meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com
autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos" (Manual das
Indulgências, norma 1). O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que: “pelas
indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do
Purgatório, a remissão das penas temporais, sequelas dos pecados” (Catecismo da
Igreja Católica, 1498). O pecado tem duas consequências: a culpa e a pena. A
culpa é perdoada na Confissão; a pena, que é a desordem que o pecado provoca no
pecador e nos outros, e que precisa ser reparada e é eliminada pela indulgência
que pode ser plenária ou parcial.
O Papa recomenda ainda a prática das
obras de misericórdia, como sinal concreto do acolhimento da Misericórdia de
Deus. Para a Arquidiocese de Belém, propomos a prática das Obras de
Misericórdia durante o Ano Santo, assim distribuídas: Janeiro, Obras de
misericórdia corporais "Dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem
tem sede; Fevereiro, Obras de Misericórdia espirituais "Dar bom conselho e
ensinar os que precisam; Março, Obra de Misericórdia Corporal "Vestir os
nus"; Abril, Obra de Misericórdia espiritual "Corrigir os que
erram"; Maio, Obra de Misericórdia Corporal "Dar acolhida aos
peregrinos e emigrantes"; Junho, Obra de Misericórdia Espiritual
"Consolar os aflitos"; Julho, Obra de Misericórdia corporal
"Assistir e visitar os doentes"; Agosto, Obra de Misericórdia
Espiritual "Perdoar os que nos ofenderam"; Setembro, Obra de
Misericórdia Corporal "Visitar os presos"; Outubro, Obra de
Misericórdia Espiritual "Suportar com paciência as fraquezas do
próximo" e Obra de Misericórdia Corporal "Dar acolhida aos peregrinos
e romeiros do Círio"; Novembro, Obra de Misericórdia Corporal "Enterrar
os mortos, visitar os Cemitérios e rezar pelos falecidos"; Dezembro, Obra
de Misericórdia Espiritual "Rogar a Deus pelos vivos e falecidos".
(Zenit)
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