sábado, 9 de setembro de 2017

Não perder a esperança


· ​Em Bogotá a primeira mensagem confiada pelo Papa à Colômbia ·


«Até os mais pequenos podem ser heróis; os mais jovens, quando são enganados ou erram, ganham coragem de novo, são heróis e vão em frente. Continuai a ir em frente! Não vos deixeis vencer, não vos deixeis enganar, não percais a alegria, não percais a esperança, não percais o sorriso». As primeiras palavras pronunciadas em público pelo Papa Francisco em terra colombiana no final da tarde de quarta-feira de 6 de setembro foram dirigidas às crianças e aos jovens que provêm da realidade da estrada, de toxicodependência, de situações de dificuldade.
Trata-se dos jovens seguidos pelo projeto Idipron (Instituto distrital para a proteção da infância e da juventude), que nasceu graças à sensibilidade do sacerdote salesiano Javier de Nicolò, italiano mas enraizado na Colômbia em 1949. Hoje o instituto é coordenado pelo padre Wilfredo Grajales e, em colaboração com a Câmara municipal de Bogotá, está comprometido no trabalho de tirar das estradas os jovens em risco.
O Papa saudou-os fora da nunciatura apostólica de Bogotá, sua residência no país latino-americano, onde encerrou de maneira comovedora o primeiro dia da viagem. Entre danças e musica rap, apertos de mão e selfies, os jovens do projeto Idipron mexeram com o coração de Francisco que, visivelmente comovido, rezou com eles; em seguida, encetou um breve diálogo improvisado, dirigindo por três vezes o convite a «nunca perder a reconquistada alegria de viver; a não se deixar roubar a esperança e a não se deixar enganar na vida». O Papa sublinhou também quanto é importante o trabalho que estes jovens fizeram para derrotar o peso prematuro de uma vida difícil, abandonar a estrada e reencontrar a projetualidade e a alegria de viver. «Mais uma vez obrigado – reafirmou Francisco – pela vossa coragem, não vos deixeis roubar a alegria; ninguém vos a deve roubar, e que ninguém vos engane e vos roube a esperança».
O Papa desembarcara pouco antes, às 16h10 locais (às 23.10 na Itália), na área militar do aeroporto da capital, vinte minutos adiantado não obstante o desvio de rota para evitar a fúria do furacão Irma que está a devastar as Caraíbas. Foi recebido pelo chefe de Estado, Juan Manuel Santos, Nobel da paz em 2016, acompanhado pela esposa María Clemencia Rodríguez Múnera; pelo núncio apostólico Ettore Balestrero; por alguns bispos colombianos guiados pelo cardeal Rubén Salazar Gómez, arcebispo de Bogotá e presidente do Celam, e cerca de mil fiéis. Saudado ao ritmo de cumbia por dançarinos em trajes tradicionais, Francisco recebeu as primeiras boas-vindas à Colômbia de um grupo de doentes e deficientes: sobretudo crianças, mas também civis e militares, vítimas do conflito armado que por decénios ensanguentou o país. E entre as crianças abraçadas pelo Papa estava Emmanuel, filho de Clara Rojas, hoje parlamentar, sequestrada em 2002 e refém por anos das Farc na floresta colombiana, onde o pequenino foi dado à luz. Como símbolo de paz, Emmanuel entregou a Francisco uma pomba de porcelana branca realizada por uma escultora e fotógrafa da capital colombiana, Ana González Rojas.
Depois da breve e participada cerimónia de boas-vindas – onde não estavam previstos discursos oficiais – com a execução musical dos hinos nacionais e as honras militares, teve lugar a apresentação das respetivas delegações. Em seguida, o Pontífice subiu ao papamóvel descoberto, acompanhado pelo cardeal Salazar, e percorreu, entre duas filas apinhadas de gente, os quinze quilómetros que separam o aeroporto da sede da representação pontifícia. Um primeiro encontro com a multidão para Francisco ao longo das ruas da metrópole sul-americana a 2600 metros de altitude: um longo abraço humano pintado de amarelo, azul e vermelho, as cores da bandeira nacional. Fiéis, peregrinos e voluntários esperaram por horas a passagem do Bispo de Roma para testemunhar a sua alegria. Numerosos invadiram as ruas, atrasando em vários pontos – até o fazer parar por um instante – o cortejo de viaturas: centenas de milhares de mulheres, homens e crianças que nunca conheceram a paz. Quem hoje na Colômbia tem 54 anos, nunca viveu um dia sem guerra. Gerações inteiras nasceram sob um conflito que querem esquecer para sempre.
Ao chegar à nunciatura, estava à espera do Papa um grupo de fiéis, que executaram cantos e bailes tradicionais. Entre eles os jovens do projeto Idipron, que lhe ofereceram uma ruana colombiana, o típico poncho local. Por fim, Francisco foi à capela da representação pontifícia para uma homenagem floreal a Nossa Senhora.
No final da tarde, o presidente Santo saudou pessoalmente na sala de imprensa os jornalistas que de todas as partes do mundo seguem a visita papal, evidenciando que este é «o momento para construir a paz».
Hoje, quinta-feira 7 de setembro, o Papa saudará as autoridades colombianas na Plaza de Armas da Casa de Nariño, depois visitará a catedral de Bogotá, abençoando os fiéis da varanda do Palácio cardinalício. Sucessivamente, estão agendados dois encontros com os bispos: primeiro os colombianos, depois os do comité diretivo do Celam. Por fim, na tarde, a celebração da missa pela paz e a justiça no parque Simón Bolívar, herói da independência latino-americana.
da nossa enviada Silvina Pérez

(o mesmo tema narrado pelo “osservatoreromano”)


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