quarta-feira, 9 de março de 2011

«Jesus de Nazaré»: O coração do Cristianismo



"Lisboa, 09 Mar (Ecclesia) – A Igreja Católica assinala hoje o início do tempo da Quaresma, que no calendário litúrgico prepara a Páscoa, que este ano é marcado pelo lançamento de um novo livro do Papa sobre «Jesus de Nazaré».

A mais recente edição do semanário Agência ECCLESIA dá início a um ciclo de comentários e testemunhos sobre a importância da espiritualidade, destacando a figura de Cristo, que para o padre e poeta madeirense Tolentino Mendonça exige uma “exposição radical” de cada pessoa.

“Para cada pessoa, Jesus começa por ser uma pergunta, e é tão importante que seja assim, é tão necessário que nos interroguemos”, escreve.

Para o biblista, “infelizmente ainda se insiste numa catequese muito conceptual e indiferenciada, com mais coisas para decorar do que para perceber vitalmente. As narrativas evangélicas, porém, propõem um conhecimento de Jesus em situação”.

O professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) defende que “o Rosto de Jesus reconstrói-se antes de tudo pelo rasto que ele deixanos corações.

“De facto, damos um passo em profundidade quando reconhecemos que, nos Evangelhos, Jesus não nos é apresentado já elaborado, como se o seu retrato estivesse predeterminado e sabido”, observa.

O padre Domingos Terra, professor da Faculdade de Teologia da UCP, escreve que “a figura de Jesus Cristo é muito rica e multifacetada” e que, nesse sentido, é possível “segui-lo de muitas maneiras, consoante o aspecto que dele se privilegia”.

Os “múltiplos caminhos de espiritualidade cristã” que surgiram ao longo da história percebem-se, segundo o teólogo jesuíta, “pelo ‘terreno humano’ que os executa”.

“A maneira de exercer a espiritualidade cristã é condicionada pelo temperamento, pela história pessoal e pelas coordenadas sociológicas, tanto daquele que a funda como dos que a continuam na história. Não há, aqui, determinismo”, prossegue.

O sacerdote jesuíta considera que é Deus, “na sua sabedoria”, quem se serve da realidade humana diversa que criou e “suscita uma figura fundadora para responder às necessidades da Igreja num dado momento histórico”.

“Os caminhos da espiritualidade cristã nasceram pela acção de Deus, que promoveu em tal figura uma nova forma de santidade”, sublinha.

O padre Joaquim Carreira das Neves, especialista em Sagrada Escritura, sublinha que “a realidade histórica de Jesus sobressai, de maneira avassaladora, das rupturas que fez com a cultura religiosa e familiar daquele tempo”.

Isabel Varanda, professora da Faculdade de Teologia da UCP-Braga, destaca, por seu lado, a relação de Jesus Cristo com o mundo feminino, uma dessas rupturas.

“As mulheres de Jesus não são as suas mulheres; a nenhuma retém; nenhuma ignora; com nenhuma se prende; a todas ama; para todas tem uma palavra que cura, que salva, que liberta, que perdoa, que lhes reconhece o direito à palavra; a todas acolhe: nos gestos extravagantes da mulher de Betânia, na humilhação da mulher adúltera, na azáfama de Marta, na escuta atenta de Maria, no amor possessivo de Maria Madalena e no amor oblativo de Maria, Sua mãe”, escreve.

O padre João Lourenço, director do Centro de Estudos de Religiões e Culturas Cardeal Höffner da UCP, afirma, na linha de Bento XVI, que os Evangelhos são “a principal fonte" para o conhecimento de Jesus, mas não são “um livro de ‘história’, antes um testemunho acreditado e vivido acerca do Mestre”.

A segunda parte de «Jesus de Nazaré» vai ser apresentada no Vaticano, em conferência de imprensa, no dia 10 de Março."


Sem comentários: