sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Quintas-feiras de amigos e de comadres

Na passada quinta-feira era tradicional os amigos reunirem-se em ágape festivo para dar início à temporada do Carnaval. Daí o chamar-se ”Quinta-feira de amigos”. Depois vinha a “quinta-feira de Amigas”, a seguir a de “Compadres” e por último, e antes do Domingo do Carnaval ou Entrudo, a “Quinta-feira de comadres”. Uma época, afinal, que não permite festividades externas, pois está-se na estação invernosa, e que dura tem sido no ano corrente, com frio, chuvas intensas, e o Pico esbranquiçado de neve, o que não deixa de ser espectáculo agradável para aqueles que por cá vivem.

Como disse, o inverno continua a querer quebrar-nos os ossos, como se diz, mas as festas carnavalescas foram e estão no esquecimento. Os compadres vão desaparecendo pois os actos que os exigiam pouco se realizam, e outros os vão substituindo.

Os “mascarados” quase sempre de inocentes invocações, já não aparecem. As casas que os recebiam foram encerradas, mercê de causas diversas. A juventude de outrora, de são e correctos costumes, desapareceu.

Agora os novos procuram as “boites”, normalmente a partir da madrugada do dia seguinte. E vão longe, com certeza para estarem afastados da família e puderem viver esses momentos de alforria mais livremente.

As antigas ceias, onde se provavam as primeiras linguiças e o bom vinho da colheita desse ano, passaram ao esquecimento. E nem as “fatias douradas” ou as filhós aparecem. Foram substituídas por outros doces ou acepipes. Já não se usa a aguardente caseira – de vinho ou de figo – mas o brandy, e a “angelica” deu lugar ao “Whisky”.Tudo diferente. Tudo modernizado.

Desapareceram os tocadores da chamada “viola da terra”, e os cantadores que, por vezes, improvisavam famosas quadras de humor. O mesmo com os bailes regionais, somente usados nos poucos “ranchos folclóricos”, que, ainda existem, normalmente para animar festas de carácter oficial.

Vivemos uma época diferente que procura esquecer o passado e dá lugar a inovações que pouco têm de artísticas. Mas são os tempos e com eles nos temos de conformar.

Porém, tenho alguma pena que as quintas-feiras que antecedem o Carnaval não sejam lembradas em reuniões de família e de amigos, como era habitual.

E por aqui me fico recordando uma juventude muito distante mas que era despreocupada e feliz. Vamos com os tempos...

Bom dia!

(Programa Manhãs de Sábado de 23-01-10)

Vila das Lajes.

19 de Janeiro de 2010

Ermelindo Ávila


(Transcrição na íntegra, do blogue

"NOTAS DO MEU RETIRO"


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