Cidade do Vaticano
(RV) – Será a primeira vez no Pontificado de Francisco que caberá a uma mulher
a missão de escrever as meditações para a Via Sacra da Sexta-feira Santa, no
Coliseu. Trata-se da biblista francesa, Anne-Marie Pelletier, que em 2014 foi
condecorada com o Prêmio Ratzinger.
“Não será um caminho
da Cruz “feminista” no sentido em que os refletores serão dirigidos somente
para as mulheres, assegurou ela à Agência Adnkronos. Os protagonistas
masculinos têm muito a ensinar. Devem confrontar-se juntos com suas fraquezas,
a obscuridade da fé, o excesso do mal e o excesso mais radical do amor que Deus
opõe à loucura e aos fracassos do homem”.
“O drama
espiritual da humanidade que diz sentir aversão pela morte e ao mesmo tempo
mostra-se cúmplice dela, seguindo por caminhos de pecado, do orgulho mortífero,
da rejeição do outro, da agressividade, do “somente eu”, as consequências da
busca do sucesso a qualquer preço, a coragem e a resistência das tantas
mulheres vítimas da violência e da dor. Estas são algumas das questões
espinhosas para a humanidade atual e que estarão presentes nas XIV
Estações da Via Sacra.
Ela é a
primeira mulher leiga, escolhida por Francisco, para escrever as meditações da
Via Sacra. “Naturalmente – confessou Anne-Marie – sou sensível ao caráter
inédito desta participação”. E nas meditações, “quis honrar a coragem e a
resistência das mulheres na dor – explicou – os gestos de solicitude e
compaixão quando ficam aos pés da Cruz e após a morte de Jesus. São os mesmos gestos
que continuam a ter tantas mulheres anônimas no mundo. Crentes ou não,
preocupadas pela carne do outro em dificuldade”.
A este propósito, a
biblista focou a atenção em “evidências muito esquecidas: aos pés da cruz,
quando Jesus expira, estão presentes somente mulheres, enquanto quase todos os
homens desapareceram. Da mesma forma na manhã da Páscoa, são sempre as mulheres
que se apressam para chegar ao túmulo e receber o anúncio da Ressurreição. O
mistério pascal convoca as mulheres de maneira especial. Depois do primeiro
estupor, pensei que esta era uma ótima maneira para exercer o sacerdócio
batismal, que ocupa um lugar importante no modo em como conheço a Igreja e
ensino”.
Ao falar dos temas
tratados nas meditações, Pelletier explicou que “colocar os próprios passos
naqueles da Via Sacra até o Gólgota onde Jesus expira, significa encontrar-se
no coração ardente da profissão da fé cristã. Significa experimentar a força de
um paradoxo absoluto que não é outra coisa que aquilo que professa a fé. O
paradoxo pelo qual, enquanto parecem triunfar definitivamente injustiça e
violência, são o amor e a vida que vencem o pecado e a morte”.
“Aos meus
olhos – explica ela – entrar no caminho da Cruz significa entrar na resistência
de esperança, esta esperança da qual as nossas sociedades perderam o sentido e
o gosto”. “Diante do inocente absoluto que é Cristo – reitera - a
história da Paixão revela a cumplicidade de todos”.
A hora da
Paixão é outro momento que ganha relevo nas meditações, como “o momento
decisivo que destrói todas as imagens idólatras de Deus que a humanidade
constrói para si. Incluída a humanidade religiosa! A Paixão mostra Deus
presente onde menos se esperava. O mostra onde não deveria estar, em meio aos
pecadores e em um local de morte! Revela assim que o Altíssimo é idêntico ao
muito baixo. Grande inversão de todas as imagens da glória e do poder.
Subversão das hierarquias habituais. De novo – sublinhou a autora das
meditações – muitas as consequências pelo apreço daquilo que humanamente
chamamos sucesso. De fato, o Papa Francisco não deixa de nos recordar estas
verdades”.
(JE/ADNKRONOS)
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