sexta-feira, 20 de junho de 2008

África chinesa

Saga chinesa nas antigas colónias portuguesas

"A China é como um elefante a andar de bicicleta: se cai, esmagará muita gente; se continuar a crescer à mesma velocidade, atropelará muitos países ocidentais pelo caminho. Olhemos, então, para a manchete de hoje do Diário Económico - André Macedo.

O que ela nos diz não tem o impacto de uma pedrada de um camionista, mas é infinitamente mais relevante para a economia. Stanley Ho, o magnata do jogo macaense, é um dos muitos chineses a fortalecer o seu peso e intervenção na África subsariana.

O primeiro passo desta estratégia foi dado há seis meses na Guiné-Bissau, através da compra do Banco da África Ocidental ao Montepio Geral. O segundo passo tornou-se visível ontem, com o lançamento do Moza Banco, em Maputo. Em breve, será conhecido o terceiro episódio desta saga chinesa nas antigas colónias portuguesas: já estão a decorrer negociações entre Stanley Ho e a Sonangol para que se formalize a entrada do magnata do jogo no capital do Banco Privado Atlântico, em Angola.

Resumindo: três países, três bancos, um objectivo: fortalecer a ligação chinesa a África, encontrar intermediários financeiros capazes de gerir esta relação cada vez mais próxima. Bancos de capital chinês para acolher dólares chineses. Não é permitida a entrada a sócios estranhos.

A pergunta é evidente, a resposta é óbvia: a China aposta em África porque África tem petróleo, ouro, madeira, ferro, diamantes, zinco, alumínio, cobre, níquel, até água – 40% da capacidade hidroeléctrica estará neste continente. Não chega? Sejamos, então, mais claros: a China que cresce 10% ao ano e que revela um apetite sem fim não tem os recursos naturais para alimentar tamanho salto em frente.

Não é possível construir 70 aeroportos em menos de uma década sem matérias-primas para aguentar este crescimento. Ora, África tem tudo o que os chineses precisam. E os africanos também precisam de quase tudo o que chineses têm: em especial dinheiro, 'know-how' e uma ampla tolerância no capítulo dos direitos humanos.

O casamento é perfeito: em dez anos, o investimento chinês no continente africano multiplicou-se por três. É hoje de 70 mil milhões de dólares por ano e promete aumentar. Levam a madeira de Moçambique – os chineses são hoje os maiores consumidores mundiais – , em troca dão estradas, escolas e o que for necessário. Querem petróleo angolano, instalam esgotos, centrais eléctricas, estradas. Pelo caminho, os chineses abrem lojas e supermercados. Ocupam espaço no topo da pirâmide – bancos, empresas –, mas também na base, nos negócios do dia-a-dia.

O dinheiro entra, roda e volta a sair. Há 800 empresas públicas do antigo Império do Meio a fazer negócios por aqueles lados. Não é por acaso que 20% da maior instituição financeira africana, o Standard Bank, também já está no bolso chinês. Mais virá, não duvidem. É contra este dinamismo que os países ocidentais deviam correr. Correr sem atropelar, claro. Ainda assim correr, correr para não adormecer com os cantos de sereia de Bob Geldof."

(Do meu correio electrónico)

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