Nas diversas aparições do Ressuscitado, de facto, todos são convidados ou movidos a viver a alegria que brota de Jesus, como fonte divina. A Madalena que chorava junto ao túmulo porque andava aflita à procura de um cadáver, pois tinham-lhe roubado o seu Senhor morto, Jesus aparece e convida-a à alegria, pois doravante já não é tempo de lágrimas. Os discípulos de Emaús vão tristes e cabisbaixos, carpindo suas tristezas e desencantos, mas o Divino peregrino, que conversa com eles, vai convertê-los à alegria, seus corações ardem por dentro e voltam à cidade de Jerusalém alegres e felizes. Os próprios Apóstolos, medrosos e metidos em casa trancada, pois tinham medo dos judeus e viviam o temor, o pânico, a incerteza, mergulhados na tristeza e no desencanto, ao verem Jesus Ressuscitado entram no gozo do seu Senhor e vão ser testemunhos vivos da sua presença, da sua ressurreição, da sua alegria divina. E as outras aparições, em que Jesus lhes comunica a sua paz, a sua vida, o seu perdão, o seu envio, fazem-nos entrar no gozo do Senhor, na alegria verdadeira.
Alegria interior, espiritual, não fácil contentamento vindo dum passeio, dum bom almoço e de tantas outras coisas boas, mas que não são ainda a fonte da alegria, que só está no Ressuscitado e naqueles a quem Ele a comunica. Alegres de Deus, alegres por causa de Deus. «Vive contente quem se contenta de só contentar a Deus», dizia, com particular argúcia e sabedoria, Santa Teresa de Ávila. Alegria que nasce da paz de consciência, da certeza do dever cumprido, que nasce de viver em estado de graça e em comunhão com o Senhor da Vida, que nasce do amor vivido e partilhado, que nasce do empenho de fazer os outros mais alegres e mais felizes. O contentamento fácil até no pecado se encontra, mas a alegria verdadeira só na fonte divina do amor e da vida que o Ressuscitado partilha connosco.
Podemos falar do apostolado da alegria, da acção que contagia os outros e os faz viver mais alegres e mais felizes. Devemos ter consciência de que a alegria que Jesus nos concede é dom para partilhar com os outros. Fazer todos mais alegres e mais felizes junto de nós, à nossa volta, na família, no emprego, na escola, nas actividades paroquiais, na comunidade religiosa, no convívio dos consagrados. Alegria que tem de chegar ao coração do que vive triste, do que está só e desanimado, do que não sente o amor da família, do que não tem emprego ou saúde, do que está sepultado na tentação e no pecado, do que vive sem gosto, com tentações de angústia ou desespero, daqueles ou daquelas que estão mergulhados no desânimo e na tristeza porque a vida lhes corre mal, porque foram traídos pelo cônjuge, porque sentem a família desfazer-se, porque foram caluniados, sofreram a injustiça, foram humilhados. Semear a alegria, fazê-la chegar ao coração de todos. Viver de tal modo que a nossa vida seja canal de alegria, testemunha do Deus da alegria e da paz. Viver empenhados em fazer os outros mais felizes. Ajudá-los a perceber que, mesmo na dor, na doença, na dificuldade, nas tempestades da vida, podem ser felizes e viver a alegria de Deus. O Senhor quer-nos alegres n’Ele e dá-nos a graça do Espírito Santo cujo fruto é a alegria verdadeira.
Cada vez que comungamos, recebemos o Ressuscitado. Ele em nós é fonte de alegria pacífica, de gozo suave, de contínua graça para vivermos a sua ressurreição. Comungar é receber em nós a fonte da alegria que nunca mais tem fim, é participar na festa que não acaba mais. O Ressuscitado em nós, no Pão da Vida, para exercer a graça de nos alegrar sem cessar. Alegrai-vos no Senhor! O Senhor ressuscitou, aleluia, aleluia!
Dário Pedroso, s.j.
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