Domingo de Ramos
Com o Domingo de Ramos começamos a Semana Santa.
Somos convidados a contemplar o grande amor de Deus,
que desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade,
fez-se homem, deixou-se matar pela nossa salvação.
É uma oportunidade para reviver os mistérios centrais da Redenção.
A Liturgia lembra DOIS FACTOS:
- A Entrada de Jesus em Jerusalém;
- A Paixão de Nosso Senhor.
- A Entrada de Jesus em Jerusalém;
- A Paixão de Nosso Senhor.
Na 1ª parte, prevalece o clima de ALEGRIA:
com a entrada de Jesus em Jerusalém montado sobre um jumento, à semelhança de um rei vitorioso. (Mt 11,1-10)
Na 2ª parte, a abertura da Semana Santa, através das leituras bíblicas:
- A 1ª Leitura apresenta a figura do "Servo Sofredor". (Is 50,4-7)
Ele recebe a missão profética que se concretiza no sofrimento e na dor.
Do aparente insucesso no sofrimento resulta o perdão do pecado do Povo.
Os cristãos vêem neste "Servo" a figura de Jesus.
- O Salmo 21 lembra as palavras mencionadas por Cristo na Cruz:
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"
- A 2ª Leitura apresenta o exemplo de Cristo, que escolheu a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida.
É o caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe. (Fl 2,6-11)
- Nos Evangelhos, temos a dois momentos da vida de Cristo:
- O Triunfo, com a entrada solene de Jesus em Jerusalém:
O Povo reconhece que Jesus é o Salvador e o aclama alegre...
- A Humilhação, com a leitura da Paixão de Jesus Cristo,
segundo São Marcos. (Mc 14,1-15,47)
Ao longo dessa semana santa, teremos a oportunidade de ler
as quatro narrativas da Paixão.
Cada uma com suas características e seus pormenores exclusivos.
Desejo aprofundar com vocês aspectos específicos da narrativa de São Marcos, que acabamos de ler.É a primeira, a mais antiga (± 65 dC): a mais breve e dramática...
É a que mantém uma ordem cronológica mais exata...
+ Introdução: Marcos introduz a narrativa com duas referências à CEIA:
- A ceia de Betânia, na casa de Simão, na qual Jesus é ungido por uma mulher.
O gesto generoso da Mulher contrasta com a atitude egoísta e traidora de Judas.
- A Ceia Pascal com os discípulos.
1. Jesus mantém um SILÊNCIO solene e digno,
aceitando o caminho da cruz.
Não reage diante do beijo de Judas e ao gesto violento de Pedro.
É a atitude de quem sabe que o Pai lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o que custar.
- No tribunal, quando acusado, Jesus manteve silêncio.
Mas quando perguntado se era o Messias, reponde prontamente:
"Sim, eu sou e vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo Poderoso vir sobre as nuvens do céu ", e só. Durante o processo: nenhuma palavra.
Diante dos insultos, das provocações, das mentiras, ele fica calado.
Estava consciente de sua inocência... e da farsa montada no julgamento.
Por isso, não responde mais nada.
Há situações na vida, nas quais não vale a pena responder...
É melhor guardar o silêncio.
* temos a mesma disponibilidade de Jesus para escutar os desafios de Deus e a mesma determinação de Jesus em concretizar esses desafios no mundo?
2. Jesus é o FILHO DE DEUS, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de Salvação.
É o que Jesus responde ao Sumo Sacerdote: "Eu sou" e o que o Centurião afirma aos pés da cruz:
"Verdadeiramente esse homem era Filho de Deus".
É o ponto culminante da narrativa de Marcos, que no seu evangelho procura responder: "Quem é Jesus?"
A resposta (a descoberta) não foi feita por um apóstolo, nem mesmo por um discípulo, mas por um pagão.
3. Jesus é também HOMEM
e partilha da fragilidade e debilidade da natureza humana:
Temos a tentação de imaginar Jesus como um super-homem.
Mas ele não foi assim. A "angústia" e o "pavor" de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-no muito "humano", muito mais próximo das nossas debilidades e fragilidades.
Assim é mais fácil nos identificar com ele, confiar nele, segui-lo no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus nos mostra que o caminho da obediência ao Pai é um caminho possível a todos nós.
* Marcos apresenta Jesus como nosso companheiro de sofrimento.
Como nós, passou pela experiência de quanto é difícil obedecer ao Pai.
Se o contemplarmos, sentimo-nos atraídos a segui-lo, porque o sentimos como um dos nossos.
4. Sublinha a Solidão de Cristo: Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono,
na indiferença de todos o seu caminho de morte.
Só Marcos faz questão de sublinhar que Jesus se sentiu completamente só, abandonado por todos, até pelo Pai :
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"
É a oração "humana" de quem sente e não compreende a aparente ausência e abandono de Deus.
* A solidão de Jesus diante do sofrimento e da morte anuncia já a solidão do discípulo que percorre o caminho da cruz.
Quando o discípulo procura cumprir o projeto de Deus, recusa os valores do mundo, enfrenta as forças da opressão e da morte, recebe a indiferença e o desprezo do mundo e tem de percorrer o seu caminho na mais dramática solidão.
O caminho da cruz, apesar de difícil, doloroso e solitário, não é um caminho de fracasso e de morte, mas de libertação e de vida plena.
5. Fato curioso, exclusivo de Marcos:
Um jovem o seguia, coberto somente de um lençol.
Quando os soldados tentaram agarrá-lo, livrou-se da roupa e fugiu despido...
É possível que esse jovem fosse o próprio Marcos.
* Foi a atitude dos discípulos que, desiludidos e amedrontados, largaram tudo, quando viram o seu líder preso e fugiram sem olhar para trás.
6. Atitude "corajosa" de José de Arimatéia
em pedir a autorização para sepultar Jesus diante da autoridade que o condenou.
- Declarar-se discípulo de Jesus, quando as multidões o aclamam, é muito fácil, somente uma pessoa corajosa é capaz de apresentar-se como seu amigo diante da autoridade que o condenou.
* Quantas pessoas, enquanto residem em suas pequenas cidades, ou capelas, nunca faltam na igreja... mas depois quando vão para a cidade grande estudar, ou quando emigram para trabalhar longe do próprio ambiente familiar, sentem vergonha de sua fé ou preguiça em participar.
7. "ABBA", Pai:
Essa palavra, que quer dizer carinhosamente: "Papai", não é citada nos outros evangelhos,
somente Marcos a coloca nos lábios de Jesus, exatamente na hora mais dramática da sua vida,
quando depois de ter pedido ao Pai de poupá-lo de uma prova tão difícil, se abandona, confiante, nas suas mãos.
* O Exemplo de Jesus nos ensina que, em qualquer circunstância da vida, nunca podemos esquecer ou duvidar do amor do nosso "Abba"
Os RAMOS,
que carregamos com alegria e entusiasmo na procissão e que levamos com devoção para nossas casas, são o sinal de um povo, que aclama o seu Rei e o reconhece como Senhor que salva e liberta. Devem ser o Sinal do compromisso de quem deseja viver intensamente essa Semana Santa.
- Não basta apenas aclamar o Cristo em momentos de entusiasmo e depois crucificá-lo na rotina de todos os dias.
- Que o Lava-pés nos motive a limpar o coração com a água purificadora da Penitência e a nos pôr a serviço dos irmãos.
- Que a Ceia do Senhor nos faça valorizar a presença permanente de Cristo em nosso meio e seja o alimento constante em nossa caminhada.
- Que o Getsêmani nos anime a fazer a vontade do Pai, mesmo pelos caminhos do sofrimento e da cruz.
- Que o Túmulo silencioso seja o nosso "deserto" para escutar mais forte a voz de Deus e
um estímulo para remover todas as pedras que mantém ainda trancado o Cristo dentro do túmulo do nosso coração.
- Que a Vigília Pascal reanime nossa Esperança nas promessas do Senhor, enquanto aguardamos a sua vinda.
- Assim essa Semana será realmente santa e a Páscoa acontecerá em cada um de nós.
Cristo realmente venceu as trevas do pecado e da morte. Aleluia!
Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 05,04.2009
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