Professor Robert Gahl
relembra nesta entrevista que maltratar o meio ambiente
é uma ofensa a Deus
O Santo Padre Francisco anunciou repetidamente que este ano
publicará sua segunda Encíclica, e o tema abordado será a ecologia. Uma questão
até agora não muito discutida na Igreja mas é cada vez mais evidente que deve
nos preocupar, como cidadãos, mas também como cristãos, porque o meio ambiente
é um dom que Deus deu ao homem para que fosse cuidado. Sobre estas questões
Zenit falou com Padre Robert Gahl, professor de ética na Universidade
Pontifícia da Santa Cruz em Roma.
Zenit: Por que agora a Igreja está mais preocupada com a
ecologia?
É um ano particularmente importante por ocasião da Conferência
das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas que acontecerá em Paris de 30 de
novembro a 11 de dezembro de 2015. Muitos acham que a Encíclica ajudará a
reflexão neste encontro. Mas esta é uma razão circunstancial, pontual. Será a
primeira encíclica papal sobre o tema da ecologia, e por que o Papa quer isso?
Quer ensinar a todos, e não apenas os católicos, a cuidar mais do meio
ambiente. Temos que lembrar que abordará questões mais recentes e aparentemente
exóticas tais como lixo espacial, satélites em órbita... É importante entender
porque o Papa quer abordar todas estas preocupações. Principalmente porque Deus
colocou toda a criação nas mãos dos seres humanos e temos essa responsabilidade
recebida por Deus. Nós exercemos o domínio de Deus sobre a criação. Desta
forma, especialmente os batizados podem viver esta tarefa de governar pelo
"sacerdócio real".
Há uma outra razão. O Papa está muito preocupado com a periferia
e a pobreza e percebe que estes sofrem especialmente por desastres ecológicos.
No entanto, o progresso tecnológico está nas mãos das pessoas mais ricas.
Ao mesmo tempo, o Papa está preocupado porque viu na América
Latina, a exploração da natureza por parte de grandes empresas multinacionais
com objetivo de maximizar os lucros a qualquer custo.
É preciso prestar atenção porque muitos tentaram politizar esta
questão e outros tentaram minimizar o teor da Encíclica. Por isso, é importante
ir além das discussões politizadas. O Santo Padre, com sua autoridade moral,
quer convidar a todos a serem criativos na forma de gerenciar isso e a
avançarem em novos projetos.
Zenit: Recentemente, o Papa disse em uma homilia que se
preocupar com o meio ambiente não é apenas uma questão de "verde".
Por que é importante que os católicos também se preocupem com a ecologia?
Estou lembrando do discurso de Bento XVI no Bundestag, quando
também falou do "verde". Ele disse que não havia mais
"verde" como tal, porque todos os partidos estavam conscientes e
comprometidos com o meio ambiente. E o Papa Francisco quer estar em
continuidade com seu antecessor, também nisso.
Em alguns países, “o verde” foi associado ao anticlericalismo e
é interessante o por que disso. A Igreja é naturalmente favorável à ecologia,
mas há correntes de neo-paganismo que estão ligadas ao movimento ecológico. Mas
não quer dizer que os católicos não estão comprometidos com a defesa do meio
ambiente. Temos mais motivos para defender o meio ambiente, não porque
"adoramos" o ambiente como se a Mãe Terra fosse uma deusa, mas porque
é um dom de Deus e devemos deixa-la para os outros e temos a responsabilidade
diante de Deus de cuidar deste lugar que Ele criou.
Um problema do movimento ecologista é quando se coloca o
ambiente acima do homem, o homem deve servir a natureza. Mas de acordo com o
cristianismo, o homem se preocupa com o meio ambiente. Devemos ver o meio
ambiente como um jardim para cuidar, cultivar, semear e fazer frutificar.
Zenit: Um tema complexo e muito discutido relacionado ao cuidado
do meio ambiente é o aquecimento global. Por que falta formação a este
respeito?
Em parte, porque é altamente politizado. Na maioria das vezes é
usado como slogan político para punir as nações, para conter a inovação. Também
porque há muito dinheiro que depende das decisões políticas que são tomadas.
Outra razão é a política populacional que pretende limitar os nascimentos nos
países em desenvolvimento, que continuam com projetos neo-malthusianos,
condenados pelo Papa.
Não se trata de acreditar ou não nas mudanças climáticas e no
aquecimento global, é um fato científico. O que nos diz o magistério é que
devemos cuidar do meio ambiente e temos de ser cautelosos, também diante das
ideologias políticas anti pessoas humanas que aproveitam desses perigos para promover
programas contra a família e a vida humana.
Zenit: Este ano teremos a Encíclica do Papa Francisco sobre a
ecologia, mas o que os outros documentos do Magistério falam sobre esta
problemática?
Dos documentos sobre a Doutrina Social da Igreja me parece
importante a Caritas in Veritate. Também a Centesimus Annus faz referência. Há
também um documento do Pontifício Conselho para a Cultura e do Pontifício
Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que trata sobre interpretações
espiritualistas neo-pagãs e da Nova Era e aborda especificamente a questão da
água. Mas este será o primeiro documento pontifício dedicado inteiramente ao
meio ambiente.
Zenit: Por que você acha que a ecologia não foi uma questão de
grande preocupação para a Igreja?
Do
ponto de vista filosófico e científico, apenas após a Segunda Guerra Mundial se
começou a refletir sobre a relação entre o homem e o ambiente. Há um pensador
muito importante chamado Hans Jonas, que escreveu um livro sobre o princípio da
responsabilidade. Esta obra foi usada por muitos ambientalistas como linha guia
metodológica, mas para a Igreja o foco é visto como um pouco exagerado, embora
tenha ideias interessantes e profundas. O princípio da responsabilidade diz que
não devemos fazer se não podemos provar que o que fazemos não terá um impacto
muito negativo sobre o mundo. Este tipo de ‘prudência’ é muito conservadora e
retarda a iniciativa, o empreendedorismo e a criatividade. Sem dúvidas, a
Igreja tende a ver o homem de uma forma mais positiva, é verdade que existe o
pecado, os riscos da tecnologia; mas a tecnologia também é uma fonte de
iniciativas criativas e bem-estar para os homens. O progresso é positivo, mas
deve ser bem utilizado. É importante pensar sobre questões como a reciclagem...
A Igreja deve se preocupar com a formação da consciência moral das pessoas.
Maltratar o meio ambiente é uma ofensa a Deus, porque Ele criou tudo isso, e
também uma ofensa ao próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário