PAPA NA TERRA SANTA
Nuno Rogeiro diz que a viagem não tem significado político imediato, mas pode ter um peso significativo na região
A visita de Bento XVI à Terra Santa, de 8 a 15 de Maio, não tem um “significado político imediato”, no sentido de um apoio a facções políticas, mas pode ter implicações na região por se ir falar de paz.
A posição é defendida por Nuno Rogeiro, em declarações à Agência ECCLESIA a respeito da viagem papal, que inclui a Jordânia, Israel e os Territórios Palestinianos. Esta será a 12ª viagem internacional do actual Papa, eleito em Abril de 2005.
Para o especialista em relações internacionais, a Terra Santa “é o lugar mais rico de confluência entre culturas e religiões e é por isso que esta visita é mais importante do que qualquer uma que já aconteceu ou venha a acontecer”, defende.
Bento XVI vai encontrar à sua espera as aspirações de independência dos vários movimentos palestinianos e as políticas do Estado de Israel em Gaza, entre outras. O comentador admite que “a visita vai para além e para aquém de cada um destes elementos” e diz que, em relação a eventuais aproveitamentos políticos, estamos na presença de algo a que “a Santa Sé está relativamente habituada, depois de centenas de anos”.
Para Nuno Rogeiro, esta visita é continuação da “famosa e para alguns controversa” viagem de João Paulo II, em Março de 2000, “histórica a vários níveis, a primeira grande visita de reconciliação” entre a Igreja Católica e o povo judaico, representado pelo Estado de Israel.
“Há uma grande expectativa para ver em que termos a próxima visita vai continuar os pontos” destacados por João Paulo II.
Particularmente relevante é o facto da viagem se dedicar a “toda a comunidade dos povos” que vivem na Terra Santa, muçulmanos, judeus, cristãos, drusos e aqueles que não professam nenhuma fé.
“Esta versão ecuménica da visita não pode ser ignorada”, assinala.
Por outro lado, diz Nuno Rogeiro, a viagem procura “dissipar mal-entendidos” criados com o mundo islâmico, após o discurso de Ratisbona em 2006, e com o mundo judaico, na sequência das declarações negacionistas de Richard Williamson, da Fraternidade São Pio X.
Com o Papa numa “zona altamente sensível do mundo”, com elementos de paz e de tensões, as atenções da comunidade internacional será constante. E nem os locais por onde Bento XVI não passará serão esquecidos.
“O Papa não estará fisicamente em Gaza, mas em territórios queridos pelos palestinianos num seu Estado futuro e, assim, estará também na Palestina, o que é importante. Não vai estar no Líbano, mas na Jordânia há comunidades libanesas importantes”, elucida Nuno Rogeiro.
Bento XVI, assinala, vai estar em locais importantes para “sarar feridas e falar claro”, uma das coisas que se deve esperar do Papa.
A orientação do mundo cristão para o Médio Oriente, indica o comentador, é de “independência e incentivo à paz”, posição reforçada pelo facto de os católicos não terem “nenhuma pretensão de poder” nesta zona do mundo.
Programa
A viagem inicia-se esta Sexta-feira, 8 de Maio, com a chegada ao aeroporto de Amã, na Jordânia. Bento XVI irá visita o centro “Regina Pacis” e, mais tarde, o Palácio Real, onde se encontrará com os Reis do país.
No Sábado, 9 de Maio, o Papa vai ao Monte Nebo – do cima do qual, segundo a tradição, Moisés avistou a Terra Santa -, para visitar a antiga Basílica do Memorial de Moisés. Nesse mesmo dia, terá lugar a visita à Mesquita de Al-Hussein Bin-Talal, de Amã, ma qual Bento XVI se irá encontrar com chefes religiosos muçulmanos, o corpo diplomático e os reitores das universidades jordanas.
A 10 de Maio, Domingo, o Papa preside à Missa no Estádio Internacional de Amã. De tarde, o destino será o Rio Jordão, onde os Evangelhos relatam o Baptismo de Jesus.
A chegada a Telavive acontece na manhã de 11 de Maio. Nessa Segunda-feira, Bento XVI chega a Jerusalém, para encontrar-se com o presidente de Israel.
Mais tarde, num gesto muito aguardado, o Papa visitará o memorial de Yad Vashem, recordando as vítimas do Holocausto. O dia conclui-se com um encontro com organizações para o diálogo inter-religioso.
O dia seguinte começa na Cúpula da Rocha (Mesquita de Omar), na esplanada das Mesquitas. O Papa encontrar-se-á com o Grão-Mufti de Jerusalém.
Daqui, Bento XVI segue para o Muro das Lamentações, outro momento marcante da viagem, antes de se encontrar com os Grão-Rabinos de Jerusalém no centro “Hechal Shlomo”, tal como João Paulo II fizera em 2000.
A tarde é dedicada a encontros e celebrações com a comunidade católica da Terra Santa.
Na Quarta-feira, 13 de Maio, Bento XVI segue para Belém, onde visita a Gruta da Natividade (em privado), o hospital infantil da Cáritas e o campo de refugiados de Aida, concluindo o dia junto do presidente da Autoridade Nacional Palestiniana.
A 14 de Maio, o Papa desloca-se a Nazaré, onde se encontrará com o primeiro-ministro. Bento XVI reúne-se ainda com os chefes religiosos da Galileia e visita a Gruta da Anunciação.
A viagem termina no dia 15, Sexta-feira, com um encontro ecuménica, a visita ao Santo Sepulcro e à Igreja Patriarcal Arménia Apostólica de São Tiago. A partida de Telavive acontece pelas 13h30 locais (menos 2 em Lisboa).
(Ag Ecclesia)
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