Discurso do Santo Padre, Bento XVI, preparado para a visita à Universidade “La Sapienza”
(Continuação)
É-me caro, nesta circunstância, exprimir a minha gratidão pelo convite que me foi feito para vir
à vossa universidade para dar uma lição. Nesta perspectiva coloquei-me, antes de mais a pergunta: Que coisa pode e deve dizer um Papa numa ocasião como esta?
Na minha lição em Ratisbona falei, sim, como Papa, mas sobretudo falei na veste de professor daquela minha Universidade, procurando ligar o passado e a actualidade. Na universidade
“Sapienza”, a antiga universidade de Roma, porém, sou convidado como Bispo de Roma e, por isso, devo falar como tal. De facto, a “Sapienza” era até certa altura, a Universidade do Papa, mas hoje é uma universidade laica com aquela autonomia que, na base do seu próprio conceito fundador, sempre fez parte da natureza da universidade, a qual deve estar ligada exclusivamente à autoridade da verdade. Na sua liberdade da autoridade política e eclesiástica a universidade encontra a sua função particular, mesmo até para a sociedade moderna que tem
necessidade de uma instituição do género.
Volto à minha pergunta de partida: Que coisa pode e deve dizer o Papa no encontro com a universidade da sua cidade?
Reflectindo sobre esta pergunta, pareceu-me que ela inclui duas outras, cuja clarificação deve conduzir por si própria à resposta. É preciso de facto, perguntar-se: Qual a natureza e missão do Papado? E ainda: Qual é a natureza e missão da universidade? Não quero nesta sede, ocupar-vos e a mim numa longa discussão sobre a natureza do Papado. Basta um breve aceno.
O Papa é, antes de tudo, bispo de Roma e como tal, em virtude da sucessão do Apóstolo Pedro, tem uma responsabilidade episcopal no que respeita a toda a Igreja Católica. A palavra “bispo” – episkopos, que no seu significado imediato remete para “vigilante”, já no Novo Testamento se fundiu conjuntamente com o significado bíblico de Pastor: ele é aquele que, de um ponto de observação sobrelevado, olha para o conjunto, com atenção ao justo caminho à coesão do conjunto. Neste sentido, tal designação do objectivo orienta o olhar antes de tudo para dentro
da comunidade crente. O Bispo – o Pastor – é o homem que toma conta desta comunidade; aquele que a conserva unida, mantendo-a no caminho em direcção a Deus, indicada segundo a fé cristã de Jesus – e não apenas indicada: Ele próprio é para nós a via. Mas esta comunidade, a qual o Bispo toma conta – grande ou pequena que seja – vive no mundo; as suas condições, o seu caminho, o seu exemplo, e a sua palavra influenciam inevitavelmente toda a restante comunidade humana no seu conjunto.
(Continua)
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