Discurso do Santo Padre, Bento XVI, preparado para a visita à Universidade “La Sapienza”
(Continuação)
"Várias coisas ditas por teólogos ao longo da história ou então traduzidas na práticas das autoridades eclesiásticas, foram demonstradas falsas e hoje confundem-nos. Mas ao mesmo tempo é verdade que a história dos santos, a história do humanismo que cresceu tendo por base a fé cristã demonstra a verdade desta fé no seu núcleo essencial, tornando-a com isso, também, uma instância para a razão pública. É claro que, muito do que dizem a teologia e a fé só pode ser feito no interior da fé e, portanto, não pode apresentar-se como exigência para aqueles perante quem esta fé permanece inacessível. Porém, é verdade que, ao mesmo tempo que a mensagem da fé cristã não é nunca apenas uma “comprehensive religious doctrine” no sentido de Rawls, mas uma força purificadora para a própria razão à qual ajuda a ser mais ela própria. A mensagem cristã, tendo por base a sua origem, deveria ser sempre um encorajamento em direcção à verdade e desse modo, uma força contra a pressão do poder e dos interesses.
Pois bem, até agora só falei da universidade medieval, procurando todavia deixar transparecer a natureza permanente da universidade e da sua missão.
Nos tempos modernos revelaram-se novas dimensões do saber que na universidade são valorizadas sobretudo em dois grandes âmbitos: antes de mais nas ciências naturais, que se desenvolveram com base na conexão da experimentação e da pressuposta racionalidade da matéria; em segundo lugar, nas ciências históricas e humanísticas, em que o homem, perscrutando o espelho da sua história e esclarecendo as dimensões da sua natureza, procura compreender-se melhor a si próprio. Neste desenvolvimento abriu-se à humanidade não só uma medida imensa de saber e de poder; cresceram também a consciência e o reconhecimento dos direitos e da dignidade do homem e quanto a isto só podemos estar gratos. Mas o caminho do homem não pode nunca dizer-se completo e o perigo da queda na desumanidade nunca está simplesmente esconjurado: como o vemos no panorama da história actual! O perigo do mundo ocidental – para falar apenas deste – é hoje que o homem, tendo em consideração a grandeza do
seu saber e poder, ceda diante da questão da verdade
E isto significa ao mesmo tempo, que a razão, no fim, se dobra diante da pressão dos interesses da atracção da utilidade, constrangida a reconhecê-la como critério último."
(Continua)
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