terça-feira, 22 de janeiro de 2008

DISCURSO DO SANTO PADRE - 3



Discurso do Santo Padre, Bento XVI, preparado para a visita à Universidade “La Sapienza”

(Continuação)


Quanto maior for, tanto mais as suas boas condições ou a sua eventual degradação se repercutirão sobre o conjunto da humanidade. Vemos hoje com muita clareza como as condições das religiões e como a situação da Igreja – as suas crises e o seu renovamento – agem sobre o conjunto da humanidade. Assim o Papa, como Pastor da sua comunidade, tornou-se cada vez mais uma voz da razão ética da humanidade.
Aqui, porém, emerge repentinamente a objecção, segundo a qual o Papa, de facto, não falaria verdadeiramente com base numa razão ética, mas traria os seus juízos a partir da fé e por isso não poderia pretender uma validação por quantos não partilham desta fé. Deveremos ainda retornar a este argumento, porque se põe aqui a questão absolutamente fundamental. O que é a razão? Como pode uma afirmação – sobretudo uma norma moral – demonstrar-se “razoável”?
Neste ponto quero relevar brevemente que John Rawls, embora negando à doutrina religiosa compreensiva o carácter da razão “pública”, via nela, todavia, uma razão “não pública”, pelo menos uma razão que não poderia, em nome de uma razão secularísticamente endurecida, ser simplesmente desconhecida para aqueles que a sustentam. Ele vê um critério desta razoabilidade para os outros no facto de que doutrinas semelhantes derivam de uma tradição responsável e motivada, e da qual, no decorrer do tempo, se desenvolveram argumentações suficientemente boas de suporte da doutrina relacionada. Nesta afirmação, parece-me importante o reconhecimento que a experiência e a demonstração no decurso de gerações, o fundamento histórico da sapiência humana, são também um sinal da razoabilidade e do seu significado perene. Diante de uma razão a-histórica que procura autoconstruirse apenas sobre uma racionalidade a-histórica, a sapiência da humanidade como tal – a sapiência das grandes tradições religiosas – é de valorizar como realidade que não se pode impunemente deitar para
o cesto de papéis da história das ideias.
( Continua)

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