sábado, 26 de janeiro de 2008

DISCURSO DO SANTO PADRE - 7



Discurso do Santo Padre, Bento XVI, preparado para a visita à Universidade “La Sapienza”
(Continuação)

Teologia e filosofia formam um peculiar par de gémeos, no qual nenhuma delas pode ser destacada totalmente da outra e, todavia, cada uma deve conservar o seu objectivo próprio e a própria identidade. É mérito histórico de S. Tomás de Aquino – diante da diferente resposta dos Padres por causa do seu contexto histórico – de ter posto em evidência a autonomia da filosofia e com essa o direito e a responsabilidade própria da razão que se interroga com base nas suas forças. Diferenciando-se da filosofia neo-platónica, em que a religião e a filosofia eram inseparavelmente entrelaçadas, os Padre tinham apresentado a fé cristão como a verdadeira filosofia, sublinhando também que esta fé corresponde à exigência da razão em busca da verdade; que a fé é o “sim” à verdade, com respeito às religiões míticas tornadas simples tradições. Mas depois, no momento do nascimento da universidade, no Ocidente já não existiam essas religiões, mas apenas o cristianismo e assim era necessário sublinhar de modo novo a responsabilidade própria da razão, que não vem embebida na fé. Tomás encontrou-se em acção num momento histórico privilegiado: pela primeira vez os escritos filosóficos de Aristóteles eram acessíveis na sua integridade; estavam presentes os filósofos hebraicos e árabes, como apropriações específicas e prossecuções da filosofia grega. Assim, o cristianismo num novo
diálogo com a razão dos outros, que vinha encontrando, devia lutar pela própria razoabilidade.
A Faculdade de filosofia, assim chamada “Faculdade dos artistas”, que até àquele momento
era apenas propedêutica à teologia, torna-se então uma verdadeira Faculdade, um partner autónomo da teologia e da fé nesta reflexão. Não podemos deter-nos no fascinante confronto que daqui derivou. Direi que a ideia de S. Tomás acerca da relação entre filosofia e teologia poderia ser expressa na fórmula encontrada pelo Concílio de Calcedónia para a cristologia: filosofia e teologia devem reportar-se entre elas “sem confusão e sem separação”. “Sem confusão” quer dizer que cada uma deve conservar a própria identidade. A filosofia deve permanecer verdadeiramente uma procura da razão na própria liberdade na própria responsabilidade; deve ver os seus limites e também a sua grandeza e vastidão. A teologia deve continuar a atingir um tesouro de consciência que ela própria não inventou que sempre a supera e que, não sendo nunca totalmente exaurível mediante a reflexão, precisamente por isso, guia sempre de novo o pensamento. Junto com o “sem confusão” vigora também o “sem separação”: a filosofia não
recomeça de cada vez do ponto zero do sujeito pensante de modo isolado, mas está no grande diálogo da sapiência histórica, que ela criticamente e ao mesmo tempo, docilmente acolhe e desenvolve sempre de novo; mas também não deve fechar-se diante ao que a religião e em particular a fé cristã receberam e deram à humanidade como indicação de caminho.

(Continua)

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