quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

DISCURSO DO SANTO PADRE - 5



Discurso do Santo Padre, Bento XVI, preparado para a visita à Universidade “La Sapienza”
(Continuação)

Agostinho, ao procurar uma correlação entre as Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha e os dons do Espírito mencionados em Isaías 11, afirmou uma reciprocidade entre “scientia” e “tristitia”: o simples saber, disse, torna-nos tristes. E, de facto, quem apenas vê e aprende tudo o que acontece no mundo, acaba por se tornar triste. Mas a verdade significa mais do que saber: a consciência da verdade tem como objectivo a consciência do bem. Este é também o sentido do interrogar-se socrático: Qual é aquele bem que nos torna verdadeiros?

A verdade torna-nos bons e a bondade é verdadeira: é este o optimismo que se vive na fé cristã, porque a esta foi dado conhecer a visão do Logos, da Razão criadora que, na encarnação de Deus se revelou junto com o Bem, como a própria Bondade.
Na teologia medieval houve uma disputa aprofundada sobre a relação entre a teoria e a praxis, sobre a justa relação entre conhecer e agir – uma disputa que aqui não devemos desenvolver. De facto, a universidade medieval com as suas quatro Faculdades apresenta esta correlação.
Comecemos com a Faculdade que, segundo a compreensão de agora, era a quarta, a de medicina.

Ainda que fosse considerada mais como “arte” do que como ciência, a sua inclusão no cosmo da universitas significava claramente que era colocada no âmbito da racionalidade, que a arte de curar estava sob a condução da razão e era subtraída ao âmbito da magia. Curar é uma tarefa que reclama sempre mais da simples razão, mas precisamente por isto, tem necessidade da conexão entre saber e poder, tem necessidade de pertencer à esfera da ratio. Inevitavelmente aparece a questão da relação entre a praxis e a teoria, entre a consciência e o agir na Faculdade de jurisprudência. Trata-se de dar justa forma à liberdade humana que é sempre liberdade na comunhão recíproca: o direito é o pressuposto da liberdade, não o seu antagonista. Mas aqui emerge subitamente a pergunta: Como se individualizam os critérios de justiça que tornam possível uma liberdade vivida em comunidade e servem ao ser bom do homem?
Nesse ponto impõe-se um salto no presente: é a questão de como pode ser encontrada uma normativa jurídica que constitua um ordenamento da liberdade, da dignidade humana e dos direitos do homem. É a questão que nos ocupa hoje nos processos democráticos de formação da opinião e que ao mesmo tempo nos angustia como questão para o futuro da humanidade.

(Continua)

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